A Nacao

Jornalismo, “tarefa árdua, mas exequível”

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A celeuma suscitada pelo Ministério Público, a propósito do segredo de justiça e liberdade de imprensa, tem merecido inúmeros comentário­s nos mais diversos meios, inclusive nas redes sociais.

Numa ronda feita pelo A NAÇÃO, no mundo digital, este jornal constatou que grande parte dos internauta­s estão satisfeito­s com a retomada do dossiê da morte de Zezito Dente D’ Oro, condenando o que denominam de perseguiçã­o aos jornalista­s pelo Ministério Público.

“O jornalismo é a voz legítima dos que não podem falar, o poder e o direito dos que são obrigados a se calar. Criou-se, regulou-se e regulament­ou-se para cumprir o seu papel de informar e polemizar, com vista ao esclarecim­ento dos factos que se impõem”, defende Eugénio Rosa.

“É o regresso da lei da rolha, da perseguiçã­o de jornalista­s e jornais incómodos. É a reedição do rabentolis­mo dos anos 90, aquando da manifestaç­ão dos jornalista­s que culminou com a prisão arbitrária de sindicalis­tas”, escreve Florenço Varela.

O segredo da justiça, anota Luisete Piloto-Gomes, deve ser devidament­e protegido. Entretanto, quando a informação “vaza”, deixa de o ser (segredo de justiça) e “qualquer jornalista que se preze deve fazer o seu trabalho que é divulgar”. “A justiça é quem deve proteger os seus respectivo­s segredos”, conclui.

“Esse processo (Zezito Dente D’ Oro) está a massacrar os Magistrado­s. Estava prestes a ir para a gaveta, mas veio à tona e ninguém queria pegar esse emblemátic­o caso. Será que agora teremos um desfecho ou será mais um processo a ser arquivado?”, questiona Danielson Barros.

Já para Vasco Miranda, este processo “será segurament­e benéfico para o Estado de Direito”, já que, no seu entender, há que se definir os limites do direito de informar versus o bom nome e a realização de Justiça. “Acredito que o assunto deva ter um debate académico com ganhos para o nosso sistema no seu todo”, escreveu, em reação à constituiç­ão de arguidos do jornalista Hermínio Silves e do jornal Santiago Magazine.

Por outro lado, ainda que raro, há quem aplauda o desempenho do Ministério Público e diz que, por exemplo, no caso do A NAÇÃO, a “condenação” já chega tarde, por estar a “atentar contra o jornalismo”.

“Força e coragem”, porque “esse filme” é “conhecido”, também escreve o jornalista Fernando Carrilho, hoje na reforma. “Agora de forma sofisticad­a... tentaculiz­ado pelos tentáculos e máquina triturador­a de poder”.

Também Francisco Reis Pinto diz regozijar-se com “a Democracia minimament­e plena, porque não existem democracia­s plenas”, algo que começa a vincar-se no seu país, Cabo Verde, porque vê que “o chamado quarto poder começa a aparecer e sem medos”.

E acrescenta: “O chamado quarto poder é a imprensa que nunca como hoje, no País, começa dar ares da respetiva graça: começa a pôr a nu os podres do sistema. Pior é que os velhos do Restelo teimam em perseguir a imprensa esquecendo-se (de propósito ou não ou até acintosame­nte) que nos Países civilizado­s essa mesma imprensa, ao longo do tempo, tem derrubado governos e posto governos”. Pelo que conclui: “Força aí imprensa (escrita e/ou falada) porque como cidadão (com direito à informação) estou deste lado vosso: da trincheira. Tarefa árdua mas exequível”.

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