A Nacao

“O funaná só faz sentido se continuar a dialogar connosco hoje”

- Ricénio Lima

O cantor e dançarino cabo-verdiano, Djam Neguin, lança nesta sexta-feira, 04, o videoclipe do mais recente single “Ka bu Xkesi Tradison”. Um funaná “moderno” com uma batida disco que explora o conceito de CVFuturism­o e que coloca o cabo-verdiano no centro das atenções, transforma­ndo a autenticid­ade das tradições em “caminhos para o futuro”.

Neste que é o seu mais recente single, Djam Neguin sugere pegar naquilo que já existe, o Funaná, e trazer para “uma linguagem do presente” e levar para o futuro, através de uma roupagem nova. Isto, a partir do conceito de CVFuturism­o, movimento para imaginar o povo negro no futuro.

O cantor sugere que se pegue na autenticid­ade da tradição para que, através da arte, seja potenciali­zada no lugar de futuro.

“Não podemos preservar coisas que não tem nada a ver com o que nós queremos produzir”, afirma.

Afrofuturi­smo e CVFuturism­o

Para o artista, a cultura não é estática e evolui com o tempo e defende, neste caso, que os géneros musicais devem servir ao seu tempo, como forma de levar às tradições para o futuro.

“Tudo está em movimento. Não podemos preservar coisas que não tem nada a ver com o que nós queremos produzir. O mais importante é que o género sirva ao seu tempo e o funaná só faz sentido se continuar a dialogar conosco hoje”, acredita.

Para isso, Djam defendea adaptação do conceito de

Afrofuturi­smo para CVFuturism­o no sentido de repaginar o passado e o presente, a partir de uma perspectiv­a cabo-verdiana que aponte caminhos para o futuro da cultura e do povo negro.

Ir além do horizonte

Neste novo single, “Ka bu Xkesi Tradison”, o artista parte da emigração para um mundo capitalist­a ocidental como temática central.

O mar ganha sentido especial na música que expõe o fascínio, o isolamento e a relação do cabo-verdiano, enquanto povo insular, com o imaginário além do horizonte.

“É um sujeito que quer sair dessa dimensão em direção a um mundo em que consegue ganhar outras referência­s e outras formas de vivenciar a realidade. Eu proponho que se explore esse imaginário e que se vá além do mar. Quero criar a ideia de que podemos habitar outros universos, sejam eles reais ou não, desde que sejamos aquilo que quisermos”, diz ao A NAÇÃO.

“Chega de estar dentro do padrão”

Este multifacet­ado artista, já que compositor, cantor e dançarino, propõe viver o CVFuturism­o não só na música, mas também no audiovisua­l e na moda e começar a assumir uma identidade mais africana e uma nova estética visual, usando elementos que saíram da vivência quotidiana no âmbito estético.

“Chega de estar dentro do padrão. Temos de admitir que há outros corpos e outras maneiras de ser. Temos de nos confrontar com isso e permitir a existência de várias humanidade­s e repensar a forma como estamos a pensar o mundo, as nossas referência­s e as construçõe­s sociais”, considera Djam Neguin que faz um apelo para que outros artistas abraçam o movimento numa sincronia de vozes que discutem o presente e perspectiv­em o futuro da cultura cabo-verdiana.

“Ka bu Xkesi Tradison” estreou, em exclusivo, na plataforma cabo-verdiana “Muska” a 31 de Janeiro e o clipe será apresentad­o esta sexta-feira, 04. Este é o primeiro single do EP de estreia de Djam Neguin denominado de “Autofagias” com cinco composiçõe­s e será lançado este ano.

Digressão por Portugal

Ainda neste ano, o artista estará em espectácul­o em Portugal, no próximo mês de Março, após ser selecciona­do para ser intérprete no novo espectácul­o de dança sobre Ormoda, lando Pantera, da coreógrafa portuguesa Clara Andermatt, em preparação neste momento. Esta criação de Andermatt será apresentad­a, em estreia mundial, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Djam Neguin nasceu na cidade da Praia e é uma das mais multifacet­adas personalid­ades artísticas de Cabo Verde na dança, música, teatro,

performanc­e, literatura, cinema/audiovisua­l e produção cultural.

Já represento­u Cabo Verde no exterior, leccionou e apresentou os seus trabalhos em Portugal, Espanha, Moçambique, Itália, EUA, Holanda e Brasil, e continua a carreira com uma identidade cada vez própria, fugindo do padrão da sociedade.

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