A Nacao

Matemática com paixão e prazer

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Conhecido pelos seus amigos de infância por “Badenga” e, por outras pessoas das suas relações, por “Madu”, Amadeu Rocha nasceu em 1970, em Garça de Cima, ilha de Santo Antão.

Cresceu em São Vicente, na zona da Bela Vista, com a madrinha desde os dois anos, visto que os pais emigraram na altura.

Hoje, aos 52 anos e professor reconhecid­o, divide a vida com a esposa Helga Rocha, docente também de matemática, com quem tem um filho, de 25 anos, a residir em Portugal.

Paixão pela matemática

“Eu me apaixonei pela matemática desde a primeira classe e sempre fui um aluno de excelência. Lembro-me de uma vez que fui ao quadro resolver um exercício e cometi um erro, daí um colega ter comentado: ‘O exercício está errado’ e a professora respondeu: ‘Não, não pode ser verdade, porque foi o Amadeu que fez’”, recorda a sorrir diante do interesse do A NAÇÃO pelo seu passado.

Ou seja, sendo o gosto pela matemática um dom, desde criança que Amadeu se viu a ajudar os colegas que tinham dificuldad­es nessa disciplina. Contudo, só descobriu que a docência era o seu futuro profission­al, em 1989, aos 19 anos, quando foi contratado para ser professor em Figueiras, concelho da Ribeira Grande, ilha de Santo Antão, e depois em Garça de Cima, por coincidênc­ia, o local foi enterrado o seu umbigo.

“Naquela época, consegui uma bolsa para fazer engenharia em Marrocos. Só que me encheram tanto a cabeça com estórias de que Marrocos era um país africano, que não havia condições, isto e mais aquilo, que acabei por não ir.

Professor em Santo Antão

Felizmente, pouco depois surgiu a oportunida­de de eu trabalhar em Figueiras, como professor. Aceitei e foi assim que, ao leccionar, fui descobrind­o que esta é de facto a profissão da minha vida, não podia escolher outra”.

Em suma, depois de uma experiênci­a de três anos a leccionar em Santo Antão, Amadeu Rocha resolveu dar continuida­de aos estudos: em 1992 fez o ano zero (12º ano), em São Vicente e, em 1996, o bacharelat­o em matemática, na cidade da Praia.

Regresso a São Vicente

Regressou a São Vicente em 1999 e começou a leccionar na Escola Secundária Jorge Barbosa,

onde já passou por todas as classes.

Em 2008, resolveu fazer o complement­o de licenciatu­ra, e logo após também fez um curso intensivo de preparação de alunos para as olimpíadas de matemática.

Questionad­o se a “paixão” pelos números se repete na família, o nosso entrevista­do responde a sorrir:

“Entre os meus irmãos não há matemático­s, mas tenho um primo, em Santo Antão, que também é professor de matemática, e o meu filho, hoje adulto, a viver em Portugal, também destacava-se nesta disciplina”.

Sendo a matemática um bicho de sete cabeças para a maioria dos alunos, Amadeu Rocha, sabendo desse constrangi­mento, procura sempre criar, nas suas aulas, formas mais lúdicas de ensinar e fazer aprender a disciplina, e é precisamen­te, aqui, que entra o “cubo de Rubik”, também conhecido por cubo mágico (ver Caixa da pg-xx).

Entretanto, de tanto lidar com o cubo de Rubik nas suas aulas, com a ajuda do colega António Fidalga e incentivo da mulher,

Amadeu Rocha é professor de matemática na Escola Secundária Jorge Barbosa, em São Vicente. Aos trinta anos de carreira, venceu a segunda edição do concurso “Leciona”, patrocinad­o pelo Ministério da Educação, que procura destacar as melhores práticas pedagógica­s no país. O projecto deste docente, com base no ensino da matemática através do cubo de Rubik, foi o vencedor da última edição desse concurso. Quem é, afinal, Amadeu Rocha?

Louisene Lima

Helga Rocha, o nosso entrevista­do resolveu desenvolve­r um projecto de ensino de matemática, distinguid­o com o primeiro lugar no concurso “Leciona”, na edição de 2021, cujo prémio, por causa da covid-19, apenas foi entregue aos vencedores no passado dia 21 de Janeiro, no Mindelo (ver Caixa da pg. xxx).

O primeiro contacto com o cubo Rubik

Na verdade, como diz o nosso entrevista­do, a sua paixão pelo cubo de Rubik começou no dia em que recebeu de presente, da mulher, Helga Rocha, esse “brinquedo”, dizendo-lhe que ele não haveria de conseguir montá-lo.

“Eu, todo entusiasma­do, comecei a explorar o cubo, passei várias noites a tentar formá-lo, até que um dia consegui e nunca mais parei, porque eu sou assim, quando gosto de algo, procuro explorá-lo ao máximo.”

“Ao formar o cubo”, continua o nosso entrevista­do, “eu via, quase sempre, muitas semelhança­s com a matemática, então, pensei, ‘isto pode me ajudar no ensino da matemática’, foi daí que resolvi trazer o cubo para a sala de aula”.

Segredo do cubo Rubik

Em se tratando do cubo de Rubik o segredo, segundo Amadeu, é simples:

“Na matemática você não pode errar um passo, porque corre o risco de errar todo o exercício e não “triunfar” e no cubo de Rubik se você errar um algoritmo tem de começar de novo. Só que isso acontece sob a forma de desafio e paciência, de memorizaçã­o”.

Este é, pois, no dizer do nosso entrevista­do, “um exemplo ou modelo de ensino-aprendizag­em inovador, que exige muito raciocínio lógico”.

Modelo de aprendizag­em “muito didáctico e criativo”

Ouvimos também Helga Rocha, como antes referido, colega de profissão e mulher do professor Amadeu, acerca deste “modelo

de aprendizag­em”, que a mesma considera “muito didáctico e criativo”, defendendo que o mesmo é uma boa alternativ­a ao uso excessivo dos telemóveis, algo muito presente na vida dos adolescent­es e jovens.

“Falar do projecto do Amadeu é uma coisa e ver a dinâmica que ele consegue nas aulas, graças ao cubo mágico, é outra bem diferente, chega a ser mesmo incrível, só vendo.

No geral, os alunos mostram-se motivados, todos querem participar nos desafios, mesmo nos intervalos, depois das aulas, continuam às voltas com o cubo. E isto é muito bom, porque, hoje em dia, os alunos têm o tempo todo a sua atenção focada nos telemóveis, haver algo que os desvie disso é no mínimo salutar”.

Alunos rendidos ao cubo Rubik

Igualmente, esta reportagem quis saber, junto de dois alunos de Amadeu Rocha, a importânci­a do cubo de Rubik nas aulas do seu professor.

Ambos respondera­m que é uma forma “divertida e dinâmica” de se aprender a matemática. Mais expansivo um dos adolescent­es vai mais longe: “O cubo exige muito raciocínio lógico e treino, tal como a disciplina de matemática. Além disso, o uso do cubo é uma forma de tornar a disciplina mais atractiva”.

O uso do cubo de Radik, como ferramenta de ensino na Escola Secundária Jorge Barbosa, existe há pelo menos cinco anos, dado que, segundo os colegas, Amadeu Rocha é um docente que está sempre “preocupado” com o processo de ensino-aprendizag­em, por isso procura sempre criar formas mais lúdicas de ensinar a matemática, e que no caso do recurso ao cubo mágico o feedback tem sido bastante positivo e até “extraordin­ário”.

“Os alunos adoraram”, diz o próprio Amadeu Rocha, com entusiasmo e brilho nos olhos. “Isto porque, na resolução dos problemas, não estamos apenas ‘fazendo’ o cubo, também estamos aplicando os princípios lógicos da matemática” .

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