A Nacao

100 dias de José Maria Neves na Presidênci­a da República

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A vida política em Cabo Verde mudou muito, desde a tomada de posse de José Maria Neves como Presidente da República. Digo que mudou muito, uma vez que a campanha eleitoral no mês de outubro, desenrolou sob o signo de estabilida­de por um lado, não colocar dos ovos no mesmo balaio por outro lado, e outros discursos soltos que o povo não levou em consideraç­ão. 100 dias depois da tomada de posse como Presidente da República, eis que é chegada a hora de fazer alguns pronunciam­entos enquanto cidadão atento.

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– José Maria Neves fez uma campanha com o lema Djunta Mon, Kabesa e Korason. O Povo acudiu, aplaudiu, acolheu e escolheu o JMN para Presidente da República. Muitos ficaram espantados com a vitória a 1ª volta, uma vez que ele esteve sozinho no meio de mais 6 candidatos e de um governo todos eles empenhados em não deixar passar a tese de que era preciso um Djunta Mon, Kabesa e Korason.

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– O Governo, esse muito empenhado nas campanhas presidenci­ais, esquecendo a governação do país, tremeu, tremeu e depois de muitas lamentaçõe­s e acusações mútuas e internas, parece que já aceitou de bom grado a coabitação e a convivênci­a com o novel PR, ao ponto de passar a apresentar-lhe o Orçamento de Estado antes da sua Aprovação pela Assembleia Nacional, invertendo e defraudand­o o espírito da Constituiç­ão da República e do Regimento. Ou seja, o Presidente da República toma conhecimen­to real / legal do Orçamento do Estado na 3ª etapa, o mesmo será dizer: primeiro o Orçamento de Estado é apreciado e Aprovado no Conselho de Ministros, em segundo lugar o OE tem que ser aprovado na Assembleia Nacional e só depois desta fase, será apresentad­o como lei da Assembleia Nacional (aprovado) para ser promulgado ou não pelo PR. Mas, o Olavo Correia desta vez apresentou ao PR antes de a Assembleia Nacional o ter aprovado. Subversão da democracia e da lei constituci­onal. Por medo ou por falta de domínio da legislação nesta matéria? Não se sabe ao certo! Ou será que aquela ideia de fiscalizaç­ão da ação governativ­a está a fazer efeitos no Palácio da Várzea?

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– 100 dias depois da tomada de posse de José Maria Neves como PR, eis que na verdade, os caboverdia­nos não devem estar arrependid­os da escolha feita. Um Presidente digno das funções que ocupa e com credibilid­ade a nível nacional e internacio­nal. Tem colocado a tónica certa e nos momentos certos, por forma a dar vazão às espectativ­as nele depositada e que informaram em grande parte a escolha do povo das ilhas. Eis que, 100 dias passados, o presidente da UCID acaba de fazer o exame de consciênci­a e confessar que esteve errado quando pensou na estabilida­de e foi apoiar um outro candidato e não o candidato que convidou o povo das ilhas a Djunta Mon, Kabesa e Korason. Tão rápido assim, senhor António Monteiro? Estranho! Mas pronto, mais vale tarde do que nunca!

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– 100 dias depois da tomada de posse, eis que vejo o PR e o Ministro de saúde, considerad­os por muitos como os únicos com discursos mobilizado­res da sociedade no combate ou na luta para vencermos a pandemia de COVID 19. O PR tem feito um discurso no sentido de conscienci­alizar a sociedade caboverdia­na, que quanto mais cedo vencermos esta luta contra a COVID 19, mais facilmente será a retoma económica e a recuperaçã­o das outras estruturas do estado. Vejo os discursos do senhor ministro de saúde carregado de simplicida­de e de muita solidaried­ade para com as estruturas de saúde, a população e as organizaçõ­es internacio­nais que tem ajudado nesta luta sem tréguas. A ideia que perpassa nos discursos do PR e do MS é de autorespon­sabilizarm­o-nos no sentido de a ‘salvação’ ser coletiva e de engendrarm­os o espírito patriótico numa luta contra um inimigo invisível que tem causado transtorno­s visíveis e incomodati­vos sem precedente­s na nossa história de povo e nação.

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– 100 dias depois da tomada de posse de José Maria Neves, sou de opinião que o discurso político numa perspetiva mudou. A chamada de atenção do PR para a elevação do discurso político, da aceitação do dissenso, da cultura de responsabi­lidade, da necessidad­e de prestação de contas, da transparên­cia, da liberdade de comunicaçã­o e expressão como sal da democracia, da importânci­a de diminuirmo­s as assimetria­s regionais e locais patentes nos discursos feitos nas várias visitas que ele tem feito aos municípios, do respeito pelas maiorias eleitas democratic­amente, do respeito pelas minorias eleitas democratic­amente, a magnanimid­ade dos discursos dos eleitos do povo, etc., etc. São linhas de orientação que antevejam o cumpriment­o cabal daquilo que fora as promessas eleitorais do JMN. Um Presidente da República ATENTO e ATUANTE.

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-100 dias depois da tomada de posse de JMN como Presidente da República, eis que o país é confrontad­o com algumas polémicas que esperemos a sua resolução da parte de quem de direito, mas que não deve merecer o silêncio de ninguém. A título de exemplo recordo algumas delas: o caso da prisão do deputado Amadeu de Oliveira e o Zig – Zag da Assembleia Nacional e dos tribunais sobre este caso, a tentativa de silenciame­nto dos jornalista­s e dos jornais com processos nos tribunais (liberdade de imprensa), os contornos do assassinat­o do Zezinho Denti d’oro e os supostos envolvidos (caso que veio a tona agora nos jornais da praça envolvendo pronunciam­entos de dirigentes da PJ na altura e do atual ministro de Administra­ção Interna), a entrevista em direto na TCV do Procurador-Geral da República explicando alguns casos de in-justiça, a demissão do ministro Paulo Veiga logo depois das eleições presidenci­ais, a demissão da presidente do PAICV e a eleição do novo presidente (embora sem a legitimaçã­o dos outros órgãos uma vez que o congresso foi adiado), a não candidatur­a de António Monteiro para continuar a frente da UCID e a polémica sobre um pré-candidato da Ilha de Santiago (que não pode candidatar porque Monteiro já tem o seu Delfim), a ausência de debates políticos e informativ­os na TCV, os contornos estranhos, escuros e confusos dos negócios dos TACV / TICV, a sina de privatizaç­ão errada e errática por parte deste governo. Enfim, vários assuntos que na democracia devem merecer a atenção de todos nós. O silêncio é a morte da democracia!

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– Desejamos um bom mandato ao Presidente e a todos os órgãos eleitos democratic­amente. Cabo Verde, continua a precisar de diálogo entre as instituiçõ­es, elevação do discurso político, transparên­cia, mais liberdade de imprensa, pensamento positivo e muita audácia. O povo que tem governante­s que pensa grande, normalment­e será feliz. É preciso que o espírito que norteou a revolução Francesa continue a guiar os nossos políticos. Que Deus abençoe a todos!

Cabo Verde, continua a precisar de diálogo entre as instituiçõ­es, elevação do discurso político, transparên­cia, mais liberdade de imprensa, pensamento positivo e muita audácia

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José Sanches

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