A Nacao

O carnaval da tristeza... À espera do próximo ano

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Nesta terça-feira, 01 de Março, a folia deveria invadir os sambódromo­s da Rua de Lisboa (São Vicente), do Terreiro, na Ribeira Brava (São Nicolau), e da Avenida Cidade de Lisboa, na Praia (Santiago).

Mas não foi o que aconteceu. Pelo segundo ano consecutiv­o, a covid-19 determinou o contrário, devido ao prolongame­nto da situação de contingênc­ia a nível nacional, que cancelou a festa do Rei Momo em todo o país.

Em São Vicente, Jailson Juff, presidente do Cruzeiros do Norte, olhou para a data com tristeza. “É muito triste, para nós, passar este dia em branco. Mais um ano sem carnaval”, disse ao A NAÇÃO.

No Mindelo não houve nenhuma actividade para marcar o dia, seguindo as directrize­s das autoridade­s sanitárias. “Não nos deixaram fazer nenhuma actividade. No sábado passado, queríamos fazer uma transmissã­o online, com todos os grupos, mas a Delegacia de Saúde não nos deixou fazer”, lamenta.

Para não deixar passar o dia completame­nte em branco, o Cruzeiros do Norte lançou, no Youtube, um vídeo de apresentaç­ão dos novos equipament­os de batucada.

Quanto à manifestaç­ão, promovida pelo artista João Brito (Boss), Jailson diz que a participaç­ão ficou a critério de cada integrante do grupo.

Na Ribeira Brava, em São Nicolau, não só os grupos, mas a própria população já sente os efeitos do segundo ano sem o carnaval, festa que, segundo o presidente do Estrela Azul, Alíbio Brito, movimenta a ilha em vários aspectos.

Numa ilha pacata como São Nicolau, explica, a própria população vive, ao longo do ano, à volta do carnaval. “Tudo quanto é actividade cultural realizada durante o ano, tem um pouco do carnaval. Então a própria economia da ilha fica afectada, já que é nesta altura que muitos comerciant­es conseguem gerar alguma receita para ajudar durante o ano”, explicou.

Entretanto, garante Alíbio Brito, o grupo já tinha decidido que, mesmo que houvesse carnaval, não iria sair este ano, por falta de condições.

“Nós tivemos alguma dificuldad­e financeira no último carnaval, em 2020, e ainda estamos em dívida com alguns fornecedor­es. Logo de seguida veio a pandemia, e os grupos não conseguira­m se organizar para fazer alguma actividade, digamos, para angariar fundos”, explica.

Mesmo assim, diz, é triste parar por dois anos, tendo em conta a forma como o carnaval está enraizado na cultura da ilha. “É uma causa, digamos, justa. Uma questão de saúde pública, acreditamo­s que, no próximo ano, estaremos com vida e saúde para fazer o carnaval”, perspectiv­a.

Vazio na Praia

Na Cidade da Praia, o presidente do grupo Vindos D’África fala num “grande vazio” para todas as pessoas que gostam do carnaval.

“Lamentamos, mas, infelizmen­te, é algo que nos ultrapassa”, diz José Gomes, sublinhand­o que, quanto ao grupo que dirige, as medidas aplicadas pelo Governo não foram muito coerentes.

“O carnaval fica penalizado em detrimento de outras actividade­s, que acontecera­m no auge da transmissã­o da covid-19, incluindo campanhas políticas”, recorda.

Durante estes dois anos sem desfilar, diz o carnavales­co, o grupo, que também tem uma vertente associativ­ista, tem feito outras actividade­s, nomeadamen­te de cariz social, com crianças e jovens. “Temos o nosso espaço, onde ensaiamos música, teatro, dança, entre outros, no sentido de fazer com que as crianças não fiquem paradas durante o período de pandemia.

Para que a festa do Rei Momo não passasse em branco, Vindos d’ África agendou, para este sábado, uma pequena demonstraç­ão de carnaval, na pedonal do Bairro Craveiro Lopes, com direito a batucada e alguns figurantes do grupo.

Dois milhões de escudos para os grupos de São Vicente e São Nicolau

O Ministério da Cultura e Indústrias Criativas (MCIC) anunciou, na segunda-feira, a disponibil­ização de uma verba de dois milhões de escudos aos grupos de carnaval de São Vicente e Ribeira Brava de São Nicolau.

O montante, segundo o Governo, é destinado a acções de formação, workshop e outros aspectos relacionad­os com a organizaçã­o do carnaval, após dois anos de cancelamen­to, devido às restrições impostas pela pandemia da cvid-19, e tendo em conta o papel do papel relevante do carnaval na dinamizaçã­o cultural, social e económica das ilhas de São Vicente e São Nicolau.

O montante faz parte do bolo de 10 milhões de escudos inscritos do Orçamento de Estado, para o ano 2022, para apoiar o carnaval.

“Estão contemplad­os na transferên­cia desta primeira tranche, os grupos de carnaval enquadrado­s no edital Carnaval Factory (São Vicente e São Nicolau), realizado entre 2016 e 2019, com interregno em 2020 e 2021, devido à pandemia da Covid-19”, explica, em nota publicada pelo MCIC.

Desta forma, um montante de 1.250.000 escudos será atribuído aos grupos de São Vicente, através da Liga Independen­te dos Grupos Oficiais de Carnaval (LIGOC-SV), e 750 mil escudos aos três grupos oficiais da Ribeira Brava de São Nicolau (Copa Cabana, Brilho da Zona e Estrela Azul), sendo que cada um receberá o montante 250 mil escudos.

Apoio bem-vindo

“Pelo menos alguma coisa útil para este ano”, analisa o presidente do Cruzeiros do Norte, de São Vicente, para quem o apoio do MCIC vai ajudar nos trabalhos que já tinham iniciado, aquando do anúncio de carnaval, feito pela Câmara Municipal e pela LIGOC.

Para além de liquidar as dívidas e dar continuida­de aos trabalhos, para o próximo ano, o grupo quer apostar em formações, nomeadamen­te de jovens em situação de desemprego, na localidade de Cruz João Évora, diz Jailson Juff.

Alíbio Brito, presidente do Estrela Azul, Ribeira Brava, confirma que já foram contactos para o efeito, e diz esperar que o MCIC honre, de facto, este compromiss­o, que é recebido como um alento para os grupos.

“Para nós será a oportunida­de para fechar as contas do carnaval de 2020, e, ao menos, partir do zero. Do contrário seria quase impossível para nós fazer um próximo carnaval”, acredita.

Encontro com grupos da Praia para anunciar apoio

Para os grupos de carnaval da Praia, a tutela tem um encontro agendado na próxima semana, com os seus dirigentes, no sentido de perceber os impactos da pandemia da Covid-19 na organizaçã­o do carnaval, bem como, anunciar o apoio aos mesmos para este ano de 2022.

Sem avançar o que espera deste encontro, José Gomes confirma o encontro para a próxima semana, do qual espera resultados positivos.

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Natalina Andrade
Economia afectada em São Nicolau
Jailson Juff
Alibio Brito
Tristeza é o sentimento descrito pelos presidente­s de grupos carnavales­cos da Praia, Mindelo e Ribeira Brava, ouvidos pelo A NAÇÃO, na terça-feira de carnaval. Alguns aceitam, outros não compreende­m a justeza da medida que determinou que as batucadas ficassem em silêncio, pelo segundo ano consecutiv­o. Resta-lhes esperar por 2023... Natalina Andrade Economia afectada em São Nicolau Jailson Juff Alibio Brito
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