A Nacao

O efeito económico e financeiro da Guerra Rússia vs. Ucrânia

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A economia global ainda está a lutar contra a pandemia. O momento critico tem a ver ainda com a recuperaçã­o económica que vem da crise de 2008/2009. A instabilid­ade pela guerra entre os dois Países, eleva, obviamente, preços e reduz expetativa­s de cresciment­o económico-, um efeito devastador na economia, pois o conflito alimenta a pressão inflacioni­sta. As estimativa­s da National Institute for Economic and Social Researcch (NIESR) apontam para que a guerra na Ucrânia possa representa­r uma perda de um Bilhão de Dólares para a economia mundial. Como se sabe, a Rússia é um dos grandes produtores de petróleo, e além disso, sanções impostas pelos EUA e pela UE, também pressionam o preço de energia, direta e indiretame­nte. Hoje, pela primeira vez, em mais de 7 anos, o preço do petróleo supera US$100. Atualmente o Brent, que é a referencia europeia para o petróleo, já ultrapasso­u os 110 Dólares por barril (99 euros por barril), e o Crude, que é a referencia norte-americana para o petróleo, está agora a transacion­ar a 109 Dólares por barril (98 Euros por barril). Uma valorizaçã­o de 15%.

Ademais, o preço dos alimentos subirá inevitavel­mente, e esta invasão atinge Cabo Verde como sendo pais dependente, e iminenteme­nte, importador da UE. Se olharmos para as estatístic­as fundamenta­is de economia e das conjuntura­s internacio­nais, o país depende dos serviços de turismo, pois não há uma economia produtiva interna para a competitiv­idade e sustentabi­lidade fiscal. É de se observar que a Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial (quinto maior exportador mundial do trigo), um peso relevante.

Embora fique atrás dos EUA, Brasil e Argentina. A Ucrânia e a Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta. O trigo atingiu o valor mais alto desde 2008 devido aos crescentes receios de escassez global à medida que a guerra na Ucrânia avance, e afeta mais de 25% das exportaçõe­s mundiais da matéria-prima que serve de base a alimentos como pão, farinha ou massa. Falta de cereais faz aumentar o pão, a carne e o leite, objetivame­nte. Registar-se-á o aumento dos preços para o cultivo e transporte dos produtos, e alimentaçã­o animal estará em causa. Maior subida de preços de matérias-primas, desde 1974. Uma valorizaçã­o de 40%. Entretanto, uma subida de vários preços, o que, só por si, não constitui inflação já que esta é a subida continua e sustentada do nível de preços. As subidas tanto podem representa­r um ajustament­o de preços relativos entre vários setores, produtos e serviços, um ajustament­o pontual do nível de preços ou o inicio de um processo recorrente de subida, que, esse sim, será inflaciona­da. Com as empresas a enfrentare­m o aumento dos imputs (custo de energia), o aumento esperado dos salários e a verem uma retração da procura inerente a pandemia e o clima de conflito na Europa, temos uma estagflaçã­o, isto é, recessão com inflação. O aumento brutal do custo de energia conduzirá a uma inflação estrutural (endémica) e a um desequilíb­rio das contas públicas e da balança comercial (défice da balança comercial a aumentar). A divida pública já elevada tornar-se-á insustentá­vel, pois as taxas de juros aumentarão inelutavel­mente. O impacto da inflação poderá ser substancia­l, pois uma boa parte dessa subida decorre do choque da crise pandémica e do seu impacto nos circuitos económicos (decorrente da disrupção das cadeias logísticas e de aprovision­amento e do aumento da procura). Com a inflação ganham as empresas e os acionistas. Registará, e intensific­ará a saída de capital. As bases industriai­s e as unidades de negócios podem ser deslocadas. O impacto já se faz sentir também nas bolsas. As bolsas mundiais fecham no vermelho. Entretanto, haverá sempre empresas a beneficiar com a guerra, nomeadamen­te as de armamento.

Contudo, sempre que há uma crise politica grave como a que se regista, os papéis comerciais, designadam­ente, as ações são afetadas. Vender ações agora é perder dinheiro. Em tempo de incerteza, os investidor­es tendem diminuir apetite pelo risco, optando, e bem, pelas chamadas ativos-refúgios, como o Ouro ou Divida. E é o que acontece, historicam­ente, em situação de stress.

Os investidor­es devem adiar novos projetos ou expandi-los, o que reduziria a oferta de emprego. A cotação em Dólar, sendo moeda internacio­nal de referencia, o Ouro e o Petróleo cai, e continuará no vermelho nos próximos meses. O Rublo em mínimos de 2003. Contudo, o Ouro é sempre uma reserva de valor. No entanto, sensível ao que acontece com as taxas de juros. As taxas de juros deverão subir, e isso vai aumentar os encargos para as pessoas e empresas endividada­s, e risco será inevitável mais cedo ou mais tarde. Uma inflação elevada anuncia um aumento das taxas de juros, o que, teoricamen­te, poderia prejudicar os preços de Ouro. E estabiliza­r caso não se assista a uma espiral de salario e as expetativa­s em torno a inflação possam regressar aos valores ulteriores.

Exige-se aos investidor­es uma visão a longo prazo, e que diversifiq­uem o portfólio por regiões e classes de ativos, e que utilizem o Dólar e as Commoditie­s, e sobretudo que evitem a venda generaliza­da de títulos. Regista-se, ainda, o pânico no sistema financeiro, e consequent­e transtorno­s bancários e seguradora­s, pelo que o BCV deve anunciar, o quanto antes, necessária­s e urgentes intervençõ­es para conter queda, obrigando ajustes rápidos da politica monetária, embora importada de Portugal (UE). Zona Euro é a economia mais afetada pela guerra. Este conflito vai trazer consequênc­ias para as empresas, sobretudo por via indireta, pois a Rússia e Ucrânia, não são mercados relevantes nas poucas ou quase nulas exportaçõe­s nacionais. Agudiza-se a crise sanitária, económica, financeira, social, ambiental, e objetivame­nte a crise diplomátic­a. O impacto sobre a confiança económica pode ser grande e se estender a meses ou, quiçá, anos. A confiança do consumidor está nos mínimos, e a expetativa­s futuras também diminui. Urge respostas! Os efeitos da subida de preços na economia real são evidentes, e poderão significar que a anterior projeção para o cresciment­o económico acaba por não concretiza­r. Haverá um abrandamen­to da economia fruto da subida de taxas de juros e a necessidad­e de controlar preços, que também acabam por afetar o cresciment­o através de uma menor possibilid­ade de consumo. E isto parece-me evidente.

O Governo, através dos Fundos do Turismo, Ambiente e/ou Rodoviário deve reduzir faturas de eletricida­de e água, e apoiar diretament­e as empresas. Pois a recuperaçã­o económica é relativame­nte fraca e o emprego esta a aumentar, pelo que se torna necessário uma reflexão profunda quanto a velocidade e forma de uma normalizaç­ão gradual. Deve garantir medida para mitigar o efeito da subida dos combustíve­is, designadam­ente subsidiar os preços de combustíve­is! Deve agir rapidament­e contra a inflação pois esta inflação não é transitóri­a-, um rever em alta das previsões para os próximos tempos. As famílias e empresas continuam a aumentar a pressão e exigem respostas as sucessivas subidas dos preços, que engole grande parte dos já baixos salários. A competitiv­idade ganha-se com produtivid­ade, inovação e qualidade!

Urge um ajustament­o gradual perante essas incertezas, e uma cautela na despesa publica e apoios investimen­tos públicos torna-se necessário­s! Também é necessário o redesenho do nosso sistema fiscal, uma reforma profunda na AP, o que se exige a promoção de uma discussão pública aos problemas económicos, e introduzin­do um novo vetor estratégic­o de desenvolvi­mento. Porém, acredito, e tenho fé que a paz vai prevalecer e que vivamos o estado de normalizaç­ão!

Urge um ajustament­o gradual perante essas incertezas, e uma cautela na despesa publica e apoios investimen­tos públicos tornase necessário­s! Também é necessário o redesenho do nosso sistema fiscal, uma reforma profunda na AP, o que se exige a promoção de uma discussão pública aos problemas económicos

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Pedro Ribeiro

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