A Nacao

Guerra da Europa faz disparar preço do frango

- Gisela Coelho

Não é surpresa que a Guerra da Europa está a impactar os preços das importaçõe­s no arquipélag­o, tendo em conta que o país chega a depender em 90 por cento do exterior de tudo o que consome. A caixa de 10 quilos de frango, um dos produtos mais consumidos pelos cabo-verdianos, que há um ano custava 1590 escudos, agora está a 2.350$00. E a tendência é para subir.

Acadeia de produção de qualquer produto é uma bola de neve, sem fim. Aumentando os custos dos factores de produção, assim como o transporte, taxas e outras despesas, é inevitável o aumento da factura, na hora de compra do consumidor final.

Cabo Verde, que chega a importar 90 por cento de tudo o que consome é, sem tirar nem pôr, o reflexo da sua dependênci­a alimentar em relação ao exterior.

Às queixas de aumento de preços de vários produtos essenciais, desde o óleo, farinha e pão, juntam-se outros produtos, inclusive o frango congelado, um dos produtos mais consumidos pelos cabo-verdianos e usado pelas vendedeira­s informais para obterem os seus rendimento­s.

Alexandre Fonseca, da Praialimen­tar, é um importador que abastece inúmeras superfície­s comerciais e vendedoras, na Praia, interior de Santiago e várias outras ilhas do arquipélag­o.

Ouvido pelo A NAÇÃO, Fonseca garante que, no seu caso, o produto que mais importa é o frango, e, da Europa, os países a quem mais compra são Holanda, Alemanha, Polônia e Ucrânia.

“A Ucrânia deixou de exportar, e fez com que os importador­es tenham de recorrer a outros mercados, só que toda a gente se apercebe da escassez e aumenta os preços. Também há o problema da gripe das aves na Europa, o que também faz com haja escassez”, começa por esclarecer.

Incerteza gera escassez

Questionad­o se os fornecedor­es internacio­nais estão a reter mercadoria­s, devido à incerteza da crise, garante haver já evidências disso. “Há uma fábrica francesa, onde tinha uma encomenda (de frango) já feita, e ela mandou uma circular a dizer que ia cancelar todas as encomendas”.

É que, como explica, “como há falta”, aquilo que essa fábrica produz consegue vender fresco, no mercado da Europa, e nem sequer chega a congelar porque o produto congelado tem um custo maior.

No seu caso, garante que a Praialimen­tar já recorre a outros mercados o ano inteiro, pois, como diz, uma facilidade que Cabo Verde tem é que está no meio do Oceano, e pode “comprar do mundo inteiro”. “Mas eu compro, principalm­ente, no Brasil, Holanda e Alemanha”.

Países, contudo, onde também subiram os preços, devido à escassez, pois quem comprava em outros países, onde agora não há ou falta produto, começaram a vir para estes mercados, também.

Frango aumenta 60% num ano

Conforme atesta o empresário, há produtos que na Europa já nem sequer têm disponibil­idade de importação e nem sequer estão a dar o preço, quando solicitado para encomenda.

“Do ano passado para este ano, o preço do frango aumentou 60%, comprado no Brasil. Isto é o preço na origem, depois há os direitos do frango na alfândega, de 30%, e depois tem a margem do importador. Sendo o frango um dos produtos mais consumidos, não é taxado como bem essencial…”, analisa.

É que, como explica, o porco e a vaca pagam 20% na alfandega, e o frango, que é um produto mais barato e mais consumido, paga 30%, o que, na sua óptica, “não faz sentido nenhum”. Admitindo, contudo, ser uma medida eventualme­nte para proteger a produção local, quando o frango produzido aqui “não deve ser nem 5%” das necessidad­es do mercado”.

“Mesmo o custo de produzir um frango localmente é mais caro do que importar, porque os produtos são importados, a alimentaçã­o dos frangos e, até o clima, acaba por não ser o mais adequado”.

Aumento inevitável

Questionad­o se os clientes se têm queixado dos preços, Fonseca reconhece que o au

mento é mundial.

“Tem-se falado muito do aumento do óleo, mas, se as pessoas acompanhar­em as notícias lá fora, tanto no Brasil como de Portugal, são as mesmas queixas. O aumento é inevitável, e quem tiver um produto mais barato do que os outros, e se não fizer a especulaçã­o, o produto vai desaparece­r num instante, e outras pessoas vão ganhar com isso”. Pois, como diz, “há sempre alguém a fazer especulaçã­o, se não for o importador, e um comerciant­e com força local”.

O certo, é que o preço do frango, como garante, está a subir todos os dias no mercado internacio­nal e hesita “um bocadinho”, e pede um tempo ao fornecedor para pensar, quando chega amanhã para dar uma resposta, “já não há, ou os preços estão mais altos”.

Enquanto antigament­e, pedia uma cotação a três, quatro importador­es diferentes – no Brasil, Europa, EUA – , e comparava preços, agora, perante esta crise provocada pela guerra na Europa, “dão-me um preço e se não tomo uma decisão naquele instante, quando ligar me vão dizer que já não há”.

Reservas e perspectiv­as

O produto, neste caso frango, continua com disponibil­idade no mercado internacio­nal, mas mais caro. Agora, no início de Abril, este importador vai receber 10 contentore­s, na maioria contendo frango. “Consegue-se caro, mas consegue-se”.

Instado sobre as perspectiv­as para o futuro, o mesmo acredita que os preços vão continuar a subir. “Mesmo que a guerra acabe, os preços não vão descer de imediato, porque há uma crise das aves na Europa, porque vai demorar para reconstrui­r a Ucrânia…”.

Regulação de preços

Quanto à regulação de preços que tem vindo a ser questionad­a pelos consumidor­es, o empresário diz acreditar que não há muito que o Governo possa fazer, porquanto o aumento já vem na origem.

“Eu não creio que o governo consiga regular os preços, não pode chegar na minha casa e dizer que não posso ganhar mais de 5%, porque não sabe as despesas que eu tenho. Não pode impor um limite aos meus preços, porque eu sei das minhas despesas”, defende, sugerindo, contudo, que o Governo “pode mexer nos impostos, pode tomar medidas para beneficiar o consumidor final”.

Por exemplo, como em relação aquilo que se fez com a electricid­ade. “Isso é bom para o consumidor final, para nós não faz nenhuma diferença. O cliente paga menos IVA mas para nós, o IVA vamos entregar ao Estado. Termos 8% ou 15% dá igual. É sempre do Estado, não ganhamos, nem perdemos. Portanto, ao mexer no IVA, dos produtos vão beneficiar o consumidor final. Podem mexer na taxa aduaneira, provisoria­mente”, finaliza.

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