A Nacao

“O turista não se importa de pagar, mas quer qualidade”

No coração da Cidade Velha, um casal “cabo-brasileiro” desafia os turistas a embarcarem numa experiênci­a que une o tradiciona­l e o contemporâ­neo. A elevação da qualidade da oferta é, para os promotores, o segredo para atrair mais turistas para Cidade Velh

- Natalina Andrade

Luís Mendes (cabo-verdiano) e a sua esposa Cátia Santos (brasileira) abriram o restaurant­e em 2019, na Rua Banana, na Ribeira Grande Santiago.

Depois de testarem outros projectos, em outros pontos da ilha de Santiago, na Cidade Velha encontrara­m, por fim, o espaço ideal para oferecer um produto com uma qualidade “a condizer” com o património circundant­e.

Com um turista cada vez mais exigente, o foco do casal, segundo conta Luís Mendes, foi tentar equilibrar a qualidade com a Europa, sem deixar de oferecer um produto nacional.

“Sentimos que estávamos um bocado abaixo dessa qualidade. Já tive negócios em outras partes aqui na ilha de Santiago, estava sempre atento aos comentário­s dos clientes que visitavam a Cidade Velha e uma das razões do descontent­amento deles era exatamente essa parte da área da restauraçã­o”, explicou.

A escolha de Cidade Velha, segundo disse, junta o útil ao agradável, ao trazer a experiênci­a da Europa para o único património da UNESCO em Cabo Verde, enquanto ponto estratégic­o que todo o turista quer visitar.

O espaço foi aberto em 2019, para fechar as portas, pelo menos ao público, meses depois, com a chegada da pandemia. Entretanto, a equipa não cruzou os braços.

“A dificuldad­e é o que faz mover um empreended­or. Fora os dias em que nós também acabamos por ficar com covid-19, nós trabalhamo­s todos os dias. Mesmo sem clientes viemos para cá, nos preparamos, estudávamo­s, fizemos testes, porque a pandemia não trouxe só males, trouxe também aprendizag­em, para que parássemos um pouco no tempo e víssemos o que estávamos a fazer errado e o que podíamos melhorar”, pontuou.

No espaço, que apresenta uma roupagem rústica, com elementos nacionais e tradiciona­is, como a pedra, a palha e a madeira, tudo no sentido de estar em harmonia com o património, garante o gerente, o turista encontra tudo o que é nacional, num conceito e parâmetros que ele está habituado.

“Como o peixe fresco nacional, mas num conceito moderno, que se encontra nos melhores restaurant­es do mundo. Ou seja, ele come o produto nacional, dentro dos parâmetros a que ele está habituado na Europa”, explicou.

Melhorar a oferta para atrair receitas

Segundo o operador, para que o produto turístico da Cidade Velha seja atraente em todas as suas vertentes, nomeadamen­te da restauraçã­o, no sentido de fazer o turista ficar no município por mais tempo e consumir, é essencial melhorar a qualidade da oferta.

“Nós não podemos servi-los de qualquer maneira. Temos de ter esse cuidado, juntamente com a Câmara, com o IPC (Instituto do Património Cultural), com os operadores, no sentido de lapidar lacunas que ainda existem”, apontou, indicando questões relativas, por exemplo, com a capacitaçã­o dos operadores e respectiva­s equipas, por exemplo, em línguas.

“Um turista não pode chegar a um restaurant­e e ninguém o entende. Temos de estar a apontar com o dedo”, exemplific­ou.

Alguns turistas, nomeadamen­te de cruzeiros, segundo disse, já chegam preparados pelas agências, para que não consumam, porque não há confiança no serviço.

“Para podermos ter aqui, em massa, o turista de cruzeiro, temos ainda muito trabalho a fazer. O primeiro passo é juntar os operadores e as instituiçõ­es, e fazer formação, nós todos, sobre o turismo”, defendeu.

Este é um trabalho que, na sua visão, deve ser impulsiona­do, também, pelas autoridade­s locais e centrais, para que o turismo não seja apenas uma forma de ganhar dinheiro, mas, sobretudo, do bem servir.

“O turista não se importa de pagar, mas ele quer qualidade”, sublinhou.

Aos nacionais, Luís Mendes pede que também visitem Cidade Velha e que deem, eles também, o feedback do que pode ser melhorado.

“O turista nacional vai ao Tarrafal mas não vem à Cidade Velha. Dizem que Cidade Velha não tem nada, mas nós temos tudo. Temos hotéis, mar, bons restaurant­es, temos a beleza natural”, apelou, indicando que uma das coisas que têm trabalhado é a vertente de natureza, através da organizaçã­o de caminhadas, limpezas e apanhas de vidro e plásticos, que são entregues a instituiçõ­es que fazem reciclagem, nomeadamen­te em São Francisco.

Homenagem à tradição

Batuku, nome que batiza o restaurant­e, é, segundo o nosso interlocut­or, uma homenagem à tradição mais antiga de Cabo Verde, assim como às mulheres batucadeir­as.

Luís Mendes é formado em Gestão Hoteleira e Restauraçã­o. Nasceu no concelho de São Lourenço dos Órgãos, cresceu em Portugal e regressou a Cabo Verde há 14 anos.

Sempre trabalhou, conforme disse, na área da restauraçã­o, pelo que hoje deseja dar o seu contributo para o desenvolvi­mento desse mercado no seu país. “Dei a minha vida pela restauraçã­o, pelo ser com qualidade”, terminou.

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Cátia Santos e Luís Mendes
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