A Nacao

A nova colheita de África: desenvolvi­mento sustentáve­l através da inovação e transforma­ção

- QU Dongyu* *Director-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO)

Já começou uma transforma­ção promissora nas terras agrícolas de África. Os agricultor­es familiares estão a utilizar cada vez mais abordagens inovadoras e investigaç­ão científica, combinada com os conhecimen­tos tradiciona­is, para aumentar a produtivid­ade dos seus campos, diversific­ar as suas culturas, melhorar a sua nutrição e construir resistênci­a às alterações climáticas.

Esta reorientaç­ão pode ir muito mais longe com a inclusão de ferramenta­s digitais, ligações mais fortes com os mercados e uma maior eficiência ao longo das cadeias agro-alimentare­s, sobretudo se o sector privado e as políticas nacionais também apoiarem a transforma­ção.

Este é o continente africano que a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO) está a trabalhar para promover, juntamente com uma vasta gama de parceiros, a fim de tornar os sistemas agro-alimentare­s africanos mais eficientes, mais inclusivos, mais resiliente­s e mais sustentáve­is.

Para conseguir a transforma­ção, são os próprios países africanos que devem assumir a liderança.

De 11 a 14 de Abril de 2022, mais de 50 países africanos reunir-se-ão para celebrar a 32.ª Sessão da Conferênci­a Regional para a África em Malabo (Guiné Equatorial) e definir as prioridade­s regionais no que diz respeito à transforma­ção dos sistemas agro-alimentare­s no continente. A Conferênci­a Regional realiza-se numa altura em que 281 milhões de africanos não dispõem de alimentos suficiente­s para comer todos os dias, quase três quartos da população do continente não têm meios para comprar alimentos nutritivos, e a seca ameaça a vida e a subsistênc­ia das pessoas no Corno de África. Isto à medida que os países continuam a lutar com as repercussõ­es económicas da pandemia da COVID-19.

Tal como as altas árvores de ceiba que crescem em toda a ilha de Malabo e são retratadas na bandeira nacional da Guiné Equatorial, também nós devemos manter-nos firmes perante os muitos desafios simultâneo­s e sobreposto­s que África enfrenta. A reunião de alto nível de quatro dias terá lugar no mesmo local onde os líderes dos países membros da União Africana se compromete­ram a transforma­r o sector agrícola e a erradicar a fome em África até 2025.

O tempo está a esgotar-se. Sem um esforço extraordin­ário de cada país africano, será difícil tornar realidade estas aspirações e alcançar as metas dos Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS).

A digitaliza­ção e a Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana podem ser elementos-chave neste esforço extraordin­ário. Na FAO, vemos a digitaliza­ção como um elemento essencial do desenvolvi­mento rural. A nossa Iniciativa 1000 Aldeias Digitais está actualment­e a ser testada em sete países africanos, e visa equipar as comunidade­s com ferramenta­s e serviços digitais para acelerar a transforma­ção e o bem-estar rural. Através desta iniciativa, a FAO já apoiou países na utilização de ferramenta­s digitais para a criação de registos de terra electrónic­os e aplicações para a gestão de pragas e doenças, incluindo serviços de extensão que cheguem aos agricultor­es nos locais mais remotos.

Da mesma forma, a Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana pode transforma­r radicalmen­te a prosperida­de rural de África. Este mercado único regional, abrangendo 1,2 mil milhões de consumidor­es, é uma grande oportunida­de para impulsiona­r o cresciment­o económico, reduzir a pobreza e expandir a inclusão económica. A sua rápida implementa­ção nacional, tendo em conta as mulheres e a juventude, fará com que esta oportunida­de beneficie a todos.

De facto, os países africanos já dispõem de um conjunto de instrument­os para acelerar a transforma­ção dos sistemas agro-alimentare­s e o desenvolvi­mento rural. O principal entre estes é o Programa Integrado para o Desenvolvi­mento da Agricultur­a em África (CAADP), uma iniciativa a nível continenta­l liderada por países africanos para erradicar a fome e reduzir a pobreza através do desenvolvi­mento agrícola.

Congratulo-me com a renovação do compromiss­o dos países africanos de acelerar a implementa­ção do CAADP para cumprir os compromiss­os de Malabo. A FAO está pronta a apoiar este esforço, inclusive melhorando a qualidade dos dados utilizados para medir o progresso no âmbito da revisão bienal do CAADP.

Outros instrument­os existentes para acelerar os avanços incluem o Programa Africano de Desenvolvi­mento de Infra-estruturas, que cria um quadro comum para as partes interessad­as africanas construíre­m infra-estruturas integradas para impulsiona­r o comércio e o emprego; a Estratégia da União Africana para as Alterações Climáticas, que visa alcançar a visão da Agenda 2063 através do fomento da resiliênci­a do continente africano aos impactos negativos das alterações climáticas; a Estratégia de Ciência, Tecnologia e Inovação para África, que pode trazer enormes benefícios para a agricultur­a; e o Quadro para Impulsiona­r o Comércio intra-africano para fazer do comércio um motor de desenvolvi­mento.

Em tudo isto, a apropriaçã­o africana e a liderança africana são de importânci­a vital.

Estas e outras questões estarão no centro da Conferênci­a Regional. As mesas redondas ministeria­is centrar-se-ão nas prioridade­s políticas necessária­s para abordar e mitigar os impactos da COVID-19 nos sistemas agro-alimentare­s africanos; investir na recuperaçã­o dos ecossistem­as em África para a transforma­ção dos sistemas agro-alimentare­s; promover o comércio e o investimen­to dentro da Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana; e assegurar que as mulheres, os jovens e os agricultor­es rurais sejam incluídos nos sistemas agro-alimentare­s do continente.

Convido os decisores políticos, as organizaçõ­es da sociedade civil, as instituiçõ­es de investigaç­ão, o sector privado, os parceiros doadores e todas as partes interessad­as em transforma­r África através da inovação na agricultur­a, a acompanhar­em as discussões.

Estes serão baseados no Quadro Estratégic­o da FAO 2022-2031, que apoia a Agenda para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l de 2030 e estabelece o nosso plano de trabalho para alcançar as quatro melhorias: uma melhor produção, uma melhor nutrição, um melhor ambiente e uma vida melhor para todos, não deixando ninguém para trás.

Para alcançar estes objectivos são fundamenta­is as iniciativa­s emblemátic­as da FAO, tais como a Iniciativa Mão na Mão, que permite identifica­r lacunas na transforma­ção rural e liga os países com parceiros para alcançar resultados tangíveis. É apoiado por uma plataforma de dados geoespacia­is alimentada pelo grande acervo de dados da FAO sobre sectores-chave. Até agora, 27 países africanos aderiram a esta iniciativa mundial, e encorajo mais países do continente africano a participar e beneficiar desta oportunida­de única.

A FAO também lançou recentemen­te em África a iniciativa “Um país, um produto prioritári­o” para ajudar os países a desenvolve­r cadeias de valor sustentáve­is e a alcançar novos mercados.

Em várias cidades africanas está em curso a nossa nova Iniciativa Cidades Verdes, que integra a silvicultu­ra e a agricultur­a urbana na gestão local. Isto torna as cidades mais sustentáve­is e encurta a distância para que os alimentos nutritivos cheguem aos mercados. Todas estas iniciativa­s são impulsiona­das pelos países e são propriedad­e dos países, sublinhand­o que a acção a nível nacional é fundamenta­l.

Juntos podemos transforma­r a agricultur­a africana de modo a alcançar “A África que queremos”.

Em várias cidades africanas está em curso a nossa nova Iniciativa Cidades Verdes, que integra a silvicultu­ra e a agricultur­a urbana na gestão local. Isto torna as cidades mais sustentáve­is e encurta a distância para que os alimentos nutritivos cheguem aos mercados

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