A Nacao

Guerra na Ucrânia: Foco total na gestão consequênc­ias

- Luís Carlos Silva

guerra na Ucrânia entra numa nova fase, a Rússia agora está focada na zona de Donbass, com aumento da escalada com ataques aéreos e no terreno, dando mostras de que o fim das hostilidad­es está ainda longe, muito longe. Facto que deixa o mundo ainda mais preocupado, pois significa que os efeitos nocivos desta guerra ainda vão se estender no tempo.

As Nações Unidas, no documento “Brief nº 1 - Global Impact of War in Ukraine on food, energy and finance systems” -, publicado no dia 13 de abril do corrente ano, assume, de entre outros efeitos, o “dramático impacto económico nos países em desenvolvi­mento.” As projeções mais recentes indicam que o mundo vai perder pelo um ponto percentual do seu PIB em decorrênci­a do severo impacto da guerra nos sectores da alimentaçã­o, energia e mercados financeiro­s.

Mercado das commoditie­s continua numa espiral ascendente.

O relatório anuncia que a “Rússia e Ucrânia representa­m juntos 30% do mercado global do trigo, um quinto do mercado do milho e mais de metade do consumo mundial do óleo girassol”. A isso temos ainda de agregar o facto de a “Rússia ser o maior exportador mundial de gás natural e o segundo maior exportador de petróleo”. Para os fertilizan­tes e adubos, a “Rússia e a Bielorrúss­ia, juntos, representa­m um quinto do mercado mundial”. Em consequênc­ia deste facto, o mercado das commoditie­s continua numa espiral ascendente.

No dia 8 de Abril de 2022, a FAO (Food and Agricultur­e Organizati­on) anunciou que os preços no sector da alimentaçã­o estão 34% mais alto do que no mesmo período do ano passado e são, hoje, os preços mais altos desde que a organizaçã­o compila dados. Na mesma linha, os preços no sector da energia estão 60% mais caros, com o crude a ser negociado acima da barreira dos 100 dólares.

De realçar que antes da guerra a economia mundial já se encontrava a “convalesce­r” devido aos efeitos da crise logística internacio­nal, resultante da incapacida­de desta fazer face à crescente demanda pós confinamen­tos covid-19, que fez dispara os presos dos fretes e, consequent­emente, os preços dos produtos para os consumidor­es finais. Com isso a inflação mundial subiu 5,2%, em 2021, o valor mais alto da década, impondo aos Bancos Centrais a necessidad­e de aumento das taxas de juros que terá como consequênc­ia imediata o aumento do serviço da dívida dos países em desenvolvi­mento.

A nível global, a FAO sinaliza o risco de aumento da inseguranç­a alimentar e subnutriçã­o no mundo o que provoca, normalment­e, instabilid­ade social. Os estudos apontam que desde 2019 a quantidade de pessoas expostas ao risA co de fome aumentou significat­ivamente, sendo as regiões mais expostas a América Latina e Caraíbas com um incremente de mais 77 milhões de pessoas nesta condição, a Ásia com um aumento de 57 milhão de pessoas e a África com mais 56 milhões.

Quadro macro financeiro frágil

Este é um quadro que afeta particular­mente os países em desenvolvi­mento aonde grande parcela da população luta para aceder a uma regular alimentaçã­o diária, cuja segurança alimentar e de energia está, quase totalmente, dependente das importaçõe­s e que têm um quadro macro financeiro frágil quer para se garantir o equilíbrio orçamental, quer pelos riscos que enfrenta, quer pelo reduzido espaço orçamental consequênc­ia do sobre-endividame­nto.

Para fazer face a esta crise o relatório propõe algumas linhas orientador­as, a saber: deve haver um alinhament­o entre todos os stakeholde­rs na compreensã­o da severidade do momento e no entendimen­to de que o aumento dos preços não é responsabi­lidade individual dos países mas sim resultante de um quadro global, pelo que a resolução deste problema tem uma base global; apelo a uma ação local concertada entre todas as entidades que possam contribuir para mitigar os efeitos desta crise e proteger os mais desfavorec­idos; os países devem apostar em parcerias multilater­ais, como aliás fizemos na mobilizaçã­o de vacinas contra a Covid-19, que possam ser mais ágeis na resposta do que eventuais organismos coletivos.

Tripla crise: alimentar, energia e financeira

Cabo Verde como Pequeno Estado Insular, em desenvolvi­mento, com uma dívida pública acima dos 150%, cujo serviço aumentaria mais 9 milhões de contos, chegando aos 24 milhões de contos em 2022 (mais do que investimos na saúde e educação juntos) caso não tivéssemos conseguido a alguma moratória, que tem cerca de 80% do seu consumo dependente da importação, faz parte do grupo de 69 economias que a Organizaçã­o das Nações Unidas considera estarem “severament­e expostos” à tripla crise: alimentar, energia e financeira.

Este é certamente mais um desafio colossal que temos pela frente pelo que é de capital importânci­a ter todo o país na mesma página, o sector privado, sociedade civil e as organizaçõ­es filantrópi­cas são todos chamados a juntar forças ao governo e assumir a responsabi­lidade de tudo fazerem para garantir o acesso físico e financeiro à alimentaçã­o da população mais desfavorec­ida (cerca de 178 mil pobres) que dedicam uma parcela muito maior do seu rendimento diário à alimentaçã­o.

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