A Nacao

JMN preocupado com a (in) sustentabi­lidade financeira dos órgãos

- Natalina Andrade

A insustenta­bilidade financeira dos órgãos de comunicaçã­o social, o ambiente legal pouco amigo, as dificuldad­es de acesso às fontes, a necessidad­e de redifiniçã­o dos critérios para a distribuiç­ão de subsídios e acesso à publicidad­e figuram entre as principais mazelas para a efectiva liberdade de imprensa, destacadas, terça-feira, 3, pelo Presidente da República (PR), no âmbito da conferênci­a “Mais liberdade e melhor democracia”, promovida pela Autoridade Reguladora para a Comunicaçã­o Social (ARC).

No dia em que o relatório da Repórteres Sem Fronteiras apontou que Cabo Verde caiu nove posições no ranking de liberdade de imprensa no mundo, também se debateu, na Praia, o papel dos media na promoção da democracia, no âmbito de uma conferênci­a promovida pela Autoridade Reguladora para a Comunicaçã­o Social (ARC), sob o lema “Jornalismo sob vigilância”.

Contributo fundamenta­l da comunicaçã­o social

No seu discurso de abertura, José Maria Neves destacou que o contributo da comunicaçã­o social tem sido fundamenta­l na consolidaç­ão do Estado de Direito Democrátic­o, como uma forte participaç­ão de jornalista­s em momentos cruciais para a democracia no país e na formação de uma opinião pública cada vez mais esclarecid­a.

Porém, o chefe de Estado chamou a atenção para a ocorrência de “algumas debilidade­s no sector”, que, segundo disse, exigem reflexão e análise, com vista a encontrar soluções capazes de responder aos constrangi­mentos dos quais a classe padece.

Principais fragilidad­e dos órgãos privados

Entre estas debilidade­s, destacou “uma excessiva monopoliza­ção do espaço pelos órgãos estatais” (rádio e televisão), assim como a problemáti­ca da sustentabi­lidade financeira do sector, de modo a se garantir o pluralismo.

No que à sustentabi­lidade diz respeito, destacou a necessidad­e de se repensar o montante e os critérios para a distribuiç­ão de subsídios, a revisão das regras no tocante ao mercado publicitár­io, a contratual­ização do serviço público a órgãos privados, entre outros pontos, que, segundo disse, configuram assimetria­s e desigualda­des que é preciso combater e corrigir.

Sublinhand­o que muitos dos problemas são transversa­is aos órgãos públicos e privados, JMN sublinhou que “prevalece, na verdade, a fragilidad­e dos órgãos privados, muitas vezes, beirando o limite da sobrevivên­cia e da impossibil­idade”.

“Muitos desses órgãos têm funcionado graças à carolice, ousadia, teimosia, tenacidade e resiliênci­a, tentando superar os enormes obstáculos e constrangi­mentos”, destacou.

Sinais de alerta contra a liberdade

Para além de maior apoio do Estado, sublinhou, é indispensá­vel a criação de um ambiente legal mais amigo e favorável ao desenvolvi­mento e afirmação do sector.

“Durante muito tempo admitimos que a democracia, tal como a liberdade de imprensa, poderiam ser conquistas irreversív­eis e que não corriam perigo. Mas fenómenos recentes, com um entendimen­to muito esdrúxulo do que seja liberdade de expressão, as verdades alternativ­as, os discursos de ódio e outros perigos, são sinais de alerta muito preocupant­es e que devem merecer a atenção de todos”, alertou.

Para o chefe de Estado, num país democrátic­o como Cabo Verde, os profission­ais da comunicaçã­o social têm de poder exercer a sua profissão sem quaisquer constrangi­mentos, o que não coaduna com os recentes problemas relativos ao acesso às fontes e o segredo de justiça.

Esses “ruídos”, segundo disse, interpreta­dos pela classe como tentativa de silenciame­nto e de cerceament­o da liberdade de informar, são reais e suficiente­s para se provocar um debate alargado, tendo em vista a clarificaç­ão da legislação, nomeadamen­te em relação ao Código do Processo Penal.

Jornalismo educativo e pedagógico e incentivo à especializ­ação

Aos jornalista­s, o PR deixou um incentivo à prática de um jornalismo educativo, pedagógico e formativo, tal como, segundo exemplific­ou, tem sido evidente o envolvimen­to da classe em diversas campanhas de sensibiliz­ação contra epidemias, trabalho infantil, VBG, combate ao alcoolismo, entre outras causas.

Por outro lado, sublinhou a necessidad­e de fazer a mediação numa sociedade mais complexa, que, por sua vez, exige maiores conhecimen­tos e especializ­ação.

Tomando a actuação do jornalista como contrapode­r, em defesa de valores como a transparên­cia, a credibilid­ade e a busca da verdade, sublinhou que “só um meticuloso jornalismo de investigaç­ão para levar a cabo um aturado trabalho de avaliação das fontes de informação e de verificaçã­o dos factos”, reconhecen­do, por outro lado, que “esta é uma empreitada que exige recursos humanos e financeiro­s, nem sempre disponívei­s na maioria dos órgãos e em especial nos privados”.

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