A Nacao

Forte lóbi para colocar Ney Santos e Filú na ARC

- Daniel Almeida

Os Grupos Parlamenta­res do MpD e do PAICV estão em negociaçõe­s e sob pressão para eleger Daniel Santos e Felisberto Vieira para a Autoridade Reguladora para a Comunicaçã­o Social (ARC), num esquema de alegada troca de favores políticos. Ainda a nível da eleição aos órgãos externos da Assembleia Nacional, há uma forte contestaçã­o no seio dos procurador­es contra a indicação da magistrada Dulcelina Rocha para o cargo de juiz substituto do Tribunal Constituci­onal.

Aquestão relacionad­a com a eleição dos membros dos órgãos externos à Assembleia Nacional (AN) promete fazer correr mais tinta do que aquela verificada até aqui. Na semana passada, reagindo a artigo do A NAÇÃO sobre o assunto, o presidente Austelino Correia voltou a apelar aos sujeitos políticos para colocarem os interesses do país em primeiro lugar, deixando as razões pessoais de lado. Tudo indica, contudo, que o PAN falou para o vazio.

Isto porque no momento em que se aguarda a resolução dos “dissensos” de última hora em relação aos Conselhos Superiores de Magistratu­ra e dos juízes substituto­s do Tribunal Constituci­onal (TC), começam a surgir lóbis para a composição da nova equipa da Autoridade Reguladora para a Comunicaçã­o Social (ARC). E, mais uma vez, os interesses particular­es voltam a surgir com bastante força.

A NAÇÃO sabe que os Grupos Parlamenta­res do MpD e do PAICV vêm sendo submetidos a uma grande pressão para eleger Daniel (Ney) Santos e Felisberto Vieira (Filú) para a ARC. O primeiro, um antigo jornalista e assessor de Carlos Veiga, no tempo em que foi primeiro-ministro (1991-2000), seria o presidente da ARC, já que o MpD é o partido maioritári­o, ficando Filú em segundo lugar, enquanto nome indicado pelo PAICV.

Conforme uma fonte parlamenta­r, ligada ao maior partido da oposição, a proposta surgiu da própria liderança do MpD, interessad­a em resolver o “caso” de Daniel Santos, com o compromiss­o de que haverá de viabilizar o mesmo em relação a Felisberto Vieira. Alegadamen­te, segundo o nosso interlocut­or, “o MpD quer utilizar Filú como moeda de troca para viabilizar o nome de Ney Santos para a presidênci­a da ARC”.

No dizer da nossa fonte, na prática, o esquema ajudaria aqueles dois cidadãos a ultrapassa­rem certas dificuldad­es materiais por que vêm atravessan­do, em termos de emprego e sobrevivên­cia. No caso de Felisberto Vieira, desde que deixou de ser deputado (em 2021) e no de Ney Santos desde que deixou as funções de assessor do Grupo Parlamenta­r do MpD, também na mesma data.

Com a escolha de tal duo, há quem tema pela “independên­cia” da ARC, porquanto, recentemen­te, Felisberto Vieira integrou o Conselho Nacional do PAICV, estando, além disso, a sua imagem pública fortemente associada à vida partidária e política.

“Não é de bom tom colocar um reformado da política num cargo que deveria ser ocupado por quadros no activo, sem ligações partidária­s e com competênci­as para o exercício de funções de membro do Conselho Regulador da ARC”, entende o nosso interlocut­or.

Já no caso de Daniel Santos, também conhecido por Dissanto ou Ney Santos, trata-se de uma figura dificilmen­te “tragável” para o PAICV, descrito pela nossa fonte como “um inimigo declarado” desse partido.

Antigo jornalista do Voz di Povo, mais tarde delegado da RTC em Lisboa, além de integrante do núcleo fundador do MpD e amigo muito próximo de Carlos Veiga, de quem foi assessor na década de 1990, além de assessor do Grupo Parlamenta­r até o ano passado, Daniel Santos não esconde as suas posições em relação ao maior partido da oposição. Isto está patente em artigos de jornais e livros que escreveu. Nos últimos anos tornou-se professor universitá­rio, nomeadamen­te, na Praia.

A ideia de coloca-lo num órgão externo da Assembleia Nacional, neste caso da ARC, não é de hoje. A uma dada altura chegou-se a falar no seu nome para a Provedoria de Justiça, para suceder a António do Espírito Santo, o que acabou por não acontecer, dado que a escolha recaiu no actual provedor, José Carlos Delgado, antigo presidente do Tribunal de Contas.

O fim do mandato dos actuais integrante­s da ARC, presidida pela jornalista Arminda Barros, caminha para dois anos, tendo recentemen­te esse órgão visto os seus poderes reforçados com a extinção da Direcção Geral da Comunicaçã­o Social. A escolha dos novos membros da ARC é aguardada numa altura em que o país vem perdendo terreno nos “rankings” da liberdade de imprensa no mundo.

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Felisberto Vieira
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