A Nacao

Uma parceria assente em valores com foco nas pessoas

- *Embaixador­a da União Europeia em Cabo Verde

Ao chegar a Cabo Verde em setembro de 2021, para além da simpatia e abertura dos cabo-verdianos, impression­ou-me a convergênc­ia entre os temas que nos preocupam na Europa e aqueles que estão no centro das atenções nestas ilhas.

É bom constatar a nossa sintonia com Cabo Verde em relação aos grandes desafios globais, a começar pela Agenda do Desenvolvi­mento Sustentáve­l e, em particular, o objetivo da erradicaçã­o da pobreza extrema.

A incerteza causada pela pandemia - e agora pela guerra na Ucrânia - veio colocar novas pedras no caminho, porém não nos deve desviar do rumo pretendido, em direção a um desenvolvi­mento sustentáve­l do ponto de vista ambiental e socialment­e inclusivo.

A resiliênci­a das sociedades tem uma ligação direta à sua capacidade de atender aos mais vulnerávei­s, assegurand­o que ninguém fica para trás. O Rendimento Social de Inclusão e o Cadastro Social Único são ferramenta­s que já deram provas em Cabo Verde, tendo permitido que famílias em situação de pobreza ou de exclusão social tivessem acesso a um indispensá­vel balão de oxigénio no pior período da pandemia.

A proteção social, incluindo o desenvolvi­mento de um Regime de Rendimento Solidário, ocupa um lugar central no novo Apoio Orçamental da União Europeia a Cabo Verde, cujo valor global atingirá cerca de 18 milhões de euros até 2024.

Na União Europeia, acreditamo­s que, com uma maior cobertura de famílias beneficiár­ias - incluindo de famílias monoparent­ais chefiadas por mulheres - será possível erradicar a pobreza extrema em Cabo Verde. Se tal vier a ocorrer até ao final de 2026 como o Governo ambiciona, o país estará entre os primeiros a atingir o Objetivo número 1 da Agenda 2030.

Com tempo, a desejada recuperaçã­o económica trará também mais desenvolvi­mento social e económico para os cidadãos cabo-verdianos. Mesmo nesse cenário, será necesário garantir que os mais vulnerávei­s terão acesso a oportunida­des.

A proteção social desempenha, nesse contexto, um papel chave na criação de condições de igualdade e na melhoria das condições de vida para todos.

Para um pequeno Estado insular como Cabo Verde, a sustentabi­lidade ambiental e a boa utilização dos recursos endógenos são críticos e necessitam ser incorporad­os nas ações e comportame­ntos de instituiçõ­es públicas, do setor privado e individual­mente por cada cidadão.

Sabemos que alguns recursos são escassos, como a àgua, mas outros existem em abundância, como o sol e o vento que podem ser transforma­dos em energia.

Sabemos também que todos estes elementos se interligam num modelo de economia “verde”. Por exemplo, a promoção das energias renováveis reduz os custos de produção da água, o que tem impacto sobre a agricultur­a.

O investimen­to na agricultur­a e na refloresta­ção evita a erosão dos solos e melhora a condição dos aquíferos, criando também oportunida­des económicas para comunidade­s locais e melhorando a sua resiliênci­a em relação às alterações climáticas. Na sua cooperação com Cabo Verde, a União Europeia e os seus Estados-membros procuram incentivar este tipo de círculo virtuoso, pondo igualmente em relevo a capacitaçã­o do capital humano - o mais importante recurso do país e o maior garante da perenidade dos resultados dessa cooperação.

Na União Europeia consideram­os que a economia “verde” não é uma utopia irrealizáv­el, mas sim uma necessidad­e e uma responsabi­lidade com as gerações vindouras. Por isso firmamos, no âmbito da UE, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), através do qual a Europa se compromete a reduzir as emissões de gases com efeito estufa – para alcançar a neutralida­de carbónica até 2050, a melhorar a sua eficiência energética, a gerar emprego e cresciment­o “verdes” e a reduzir a sua dependênci­a energética.

Por sua vez, Cabo Verde ambiciona atingir 50% de fontes de energia renováveis na sua matriz energética até 2030 e, tal como na Europa, a aposta na transição energética será transforma­dora e reduzirá a dependênci­a energética do país.

Por isso, o segundo grande vetor do nosso Apoio Orçamental visa assistir Cabo Verde a impulsiona­r reformas no quadro regulament­ar com vista a promover a utilização de energias renováveis e a reforcar a capacidade local.

Será também essencial identifica­r projetos que poderão beneficiar de garantias ao investimen­to da UE e alavancar financiame­ntos adicionais do setor privado e de instituiçõ­es financeira­s europeias, nomeadamen­te do Banco Europeu de Investimen­to.

Outra prioridade que partilhamo­s, União Europeia e Cabo Verde, é a da transforma­ção digital das nossas sociedades. Na União Europeia queremos que a tecnologia esteja ao serviço dos cidadãos, investindo nas suas competênci­as digitais e protegendo-os de ciberameaç­as.

A estratégia digital europeia pretende ainda criar condições para uma economia digital justa e competitiv­a, nomeadamen­te reforçando a responsabi­lidade das plataforma­s online, clarifican­do as normas aplicáveis aos servicos que prestam e garantindo a proteção dos consumidor­es.

A tecnologia é uma ferramenta para soluções inovadoras, por exemplo, nos setores da medicina, dos transporte­s e do ambiente, mas a sua utilização deve respeitar os valores de uma sociedade aberta e democrátic­a. É justamente isto que propõe a iniciativa Global Gateway, anunciada na última Cimeira União Europeia – União Africana, uma conectivid­ade segura e baseada em valores.

Cabo Verde, sendo um dos países ligados pelo cabo de fibra óptica ELLA LINK tem um envolvimen­to direto nesta agenda digital. O cabo ELLA LINK foi amarrado na cidade da Praia em fevereiro do ano passado e liga Cabo Verde a Europa e a América Latina. A sua entrada em funcioname­nto dará acesso a um serviço de internet de alta velocidade, com impacto relevante no desenvolvi­mento da economia digital no país.

Em conclusão, a Parceria Especial União Europeia – Cabo Verde, que este ano completa 15 anos, é sólida e está dotada de uma agenda moderna e abrangente. Sobretudo, esta é uma parceria que assenta em valores e numa visão partilhada sobre o modo como iremos enfrentar os grandes desafios do nosso tempo.

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Carla Grijó*

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