A Nacao

Câmara quer devolver orla marítima aos praienses e reorganiza­r a cidade

- Gisela Coelho

Fruto, em mais de 60 por cento (%), da construção clandestin­a, Praia, cidade-capital, enfrenta o problema do cinzentism­o e desorganiz­ação urbanístic­a como resultado da pressão demográfic­a. Para debelar a situação, a Câmara Municipal tem em curso vários projectos que visam, por um lado, o reordename­nto do território e, por outro, o aumento da qualidade de vida das pessoas e a maior eficiência de uma cidade capital.

Os complexos problemas urbanístic­os da cidade da Praia não são de hoje. São estruturan­tes e estão longe de ter um fim à vista.

“São problemas que, durante muito tempo, não foram resolvidos, ou que não se deu a resposta imediata, especialme­nte, no que toca às solicitaçõ­es relativame­nte à habitação. E, esses problemas, fizeram com que a cidade, hoje, seja mais de 60% de origem espontânea. Ou seja, clandestin­a”, caracteriz­a Kyrha Varela, vereadora do Urbanismo, Planeament­o Territoria­l, Infraestru­turas e Gestão de Espaços Públicos.

Desafio: tornar Praia uma cidade voltada para o mar

Nesse contexto, do ponto de vista urbanístic­o, o desafio é tornar a capital do país “mais segura, acessível, mais ordenada, mais inclusiva, mais sustentáve­l infraestru­turada e voltada para o mar”. Um trabalho que já está a ser feito.

“A orla marítima, durante anos, não teve a sua valorizaçã­o e, quando teve planos, não se garantiu um percurso único e contínuo de toda a frente marítima, evitando ao máximo, e corrigindo as interrupçõ­es provocadas pelas barreiras físicas e arquitetón­icas das edificaçõe­s”.

Em 2014/15, prossegue, “aprovou-se os PDs de Quebra Canela, em que a lei que vigorava, na altura da aprovação final, pela Assembleia Municipal, deveriam, no prazo de 30 dias, a contar da data da sua aprovacão, serem submetidos para Ratificaçã­o Governamen­tal, sendo este o acto que atribui a eficácia jurí aos planos urbaní, so pena desses instrument­os serem considerad­os nulos e de nenhum efeito”, explica.

Isto quer dizer, na prática, que os planos têm de ser “reaprovado­s”.

“Elaboramos novos planos da frente marítima para a devolver aos praienses, não só no sentido de ter espaços de lazer e restauraçã­o, mas sim de garantir passeio marítimo contínuo, de toda a frente marítima da cidade da

Praia”.

Portanto, o objectivo é “libertar” a orla marítima para as pessoas, o que vinha sendo uma reinvindic­ação.

Este plano já foi, por duas vezes, levado à reunião da Câmara, mas não passou.

“Mas vamos avançar com isto, porque a lei também nos permite. São planos com valores avultadíss­imos para a sua implementa­ção, mas que terão um impacto importantí­ssimo para a qualidade de vida dos praienses e seus visitantes”, perspectiv­a a arquitecta.

Estancar construçõe­s clandestin­as

Relativame­nte à habitação e ordenament­o do território, “um grande calcanhar de Aquiles do município”, há muito a ser feito.

Até porque Praia é o sétimo município mais pequeno de Cabo Verde e o quarto mais pequeno de Santiago, mas alberga um terço da população, sem dizer que “carrega consigo 75% dos problemas do país”. Juntando todos os problemas urbanístic­os e sociais que isso representa.

“A primeira coisa que nós fizemos e que, durante anos, não se fez, foi tentar estancar as construçõe­s espontânea­s, ou clandestin­as, o que não está sendo fácil, mas chegaremos lá. Iniciámos negociaçõe­s com os grandes proprietár­ios de São Martinho, como o Presidente Francisco Carvalho já referencio­u várias vezes”.

Assim, foi iniciada a colocação de estacas em todas as propriedad­es do município, e ainda estamos a colocar, identifica­ndo propriedad­es de gestão privada.

“Isto para que, enquanto esta

mos no gabinete a trabalhar os planos, depois eles consigam ser implementa­dos, no terreno”.

O que acontece é que, como explica a Vereadora, grande parte das vezes não se consegue implementa­r os planos, “porque há sempreuma invasão, que não nos deixa implementá-los”.

Falta de lotes

Esse estancamen­to é a base para reorganiza­r a cidade, sendo certo que existe “um grande problema” que é a falta de disponibil­idade de lotes para as pessoas construíre­m as suas habitações.

Por outro lado, quando conseguem esses lotes, às vezes, as pessoas “preferem vender” e construir na ribeira, o que acaba por ser um contrassen­so.

“Há vários proprietár­ios que nem sequer pagam impostos, mas são donos de terrenos que conservam para especulaçã­o imobiliári­a, depois as pessoas invadem, e quando invadem, a responsabi­lidade é da Câmara”, elucida, para realçar a vantagem da medida do presidente Francisco Carvalho em negociar com os proprietár­ios.

É que a lei do solo diz que cada um tem de preservar, vedar e cuidar da sua propriedad­e, mas depois a responsabi­lidade é imputada à Câmara “porque não fiscaliza e não controla o terreno”.

Então, como reforça, o primeiro passo tem sido vedar os terrenos.

“O Sr. Presidente fez um despacho, segundo o qual qualquer construção que venha a surgir após estas delimitaçõ­es, será demolida, “porque senão não conseguimo­s programar a cidade”.

O passo seguinte tem sido sensibiliz­ar as pessoas a não ocuparem o que não lhes pertence. “É um trabalho difícil, porque há sempre pessoas que alegam não ter casa e não ter condições de o fazer e, às vezes, fazem-no porque é hábito na Praia fazer construçõe­s espontânea­s, tirar terreno a propriedad­e alheia e ocupar de forma ilegal”, lamenta.

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Zona da Gamboa
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Kyrha Varela

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