Ocidente e Rússia, a fome como arma de arremesso político
“A Rússia está a colocar bombas nos campos da Ucrânia, os navios de guerra russos estão a bloquear dezenas de barcos carregados de trigo”, lamentou esta semana o chefe da diplomacia europeia. Esta afirmação de Josep Borrell surge em resposta a Moscovo que acusa o Ocidente, com as suas sanções, de matar o mundo, sobretudo a África, por fome.
Josep Borrell acusou na segunda-feira a Rússia de “causar a fome no mundo” com a guerra na Ucrânia, destruindo as reservas de trigo e impedindo-a de exportar, especialmente para África.
Antes, também na segunda-feira, a Rússia havia responsabilizado o Ocidente pela crise alimentar global. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, o país é um exportador “confiável”, mas as sanções impostas depois da invasão à Ucrânia prejudicaram o abastecimento de grãos.
“Nós não somos a fonte do problema. A fonte do problema que leva à fome no mundo são aqueles que impuseram sanções contra nós, e as próprias sanções”, disse Peskov.
Diante disso o chefe da diplomacia da UE comentou: “Os russos culpam as sanções (impostas pelo Ocidente) pela escassez de alimentos e pelo aumento dos preços quando não são as sanções”, afirmou o Alto Responsável da União Europeia para a Política Externa após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 no Luxemburgo.
“A Rússia está a colocar bombas nos campos da Ucrânia, os navios de guerra russos estão a bloquear dezenas de barcos carregados de trigo”, acusou Joseph Borrell, acrescentando que com isso “causam escassez” e “a fome no mundo”.
“Então parem de culpar as sanções. É o exército russo que está a causar escassez de alimentos. E África é uma grande fonte de preocupação porque está particularmente exposta à crise alimentar que se aproxima”, insistiu Borrell.
Além dos Estados Unidos, na última semana, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas),
António Guterres, alertara para um “novo recorde” nos níveis globais de fome e para o número de pessoas em insegurança alimentar severa, que duplicou de 135 milhões, no período pré-pandemia, para 276 milhões actualmente.
Segundo o Kremlin, o presidente russo, Vladimir Putin, concorda com a afirmação, devolvendo contudo a responsabilidade pela situação ao Ocidente. Em reunião sobre segurança alimentar organizada pelos EUA, em Nova York, António Guterres apelou à Rússia para permitir “a exportação segura de grãos armazenados nos portos ucranianos” e para que alimentos e fertilizantes russos.
DA