A Nacao

Tribunal de Contas rejeita denúncia e pedido de auditoria da Câmara da Praia

- Daniel Almeida

O Tribunal de Contas (TdC) não deu provimento a um pedido de auditoria ao novo mercado da Praia, mais conhecido por mercado do Coco, interposto pela Câmara da Praia, por considerar que os signatário­s (presidente e mais três vereadores) não têm poderes para fazer tal solicitaçã­o. Contudo, essa corte já tinha declarado nulo o contrato de empreitada para a conclusão dessa obra.

Num despacho de 11 deste mês, que A NAÇÃO teve acesso, o Tribunal de Contas decidiu não dar prosseguim­ento às pretensões dos signatário­s da denúncia/ pedido de auditoria ao novo mercado da Praia, feito pelo edil Francisco Carvalho e os vereadores Kyrha Varela, Jorge Garcia e Fernando Pinto, “por não se encontrare­m preenchido­s os requisitos para o efeito solicitado”.

Contudo, o Tribunal de Contas decidiu dar conhecimen­to do processo à equipa responsáve­l pela realização da auditoria ora em curso no município da Praia, “pela importânci­a e relevância que as informaçõe­s e documentos apresentad­os possam ter para a sua melhor conclusão”.

Na fundamenta­ção da sua decisão, o TdC afirma que “o tribunal apenas realiza auditoria, seja de que tipo ou natureza for, por iniciativa sua ou a solicitaçã­o da Assembleia Nacional e não a pedido de qualquer outra entidade”.

Também levou em consideraç­ão o facto de a “pertença” denúncia/pedido de auditoria ter sido subscrita apenas pelo presidente da CMP, Francisco Carvalho, e os vereadores Kyrha Varela, Jorge Garcia e Fernando Pinto e “não pela maioria dos vereadores que o integram”.

O referido despacho sublinha ainda que as decisões da CMP enquanto órgão colegial “são nulas”, quanto tomadas sem quórum ou sem votos da maioria legalmente estabeleci­da (uma questão que tem marcado a presidênci­a de Francisco Carvalho).

Derrapagem financeira

Na denúncia/pedido de auditoria ao novo mercado da Praia, Francisco Carvalho e os outros três vereadores começaram por dizer que o projecto inicial do mercado do Coco, cuja construção arrancou em

2011, rondava os 330 milhões de escudos financiado­s através de um empréstimo obrigacion­ista junto da Bolsa de Valores de Cabo Verde.

Esclareceu ainda que, em 2019, o Governo disponibil­izou à edilidade um valor adicional de 350 milhões de escudos para a conclusão da infra-estrtura, no âmbito do Programa de Requalific­ação, Reabilitaç­ão e Acessibili­dades (PRRA) e recordou que o projecto foi concebido como um espaço alternativ­o para alojar os comerciant­es e vendedeira­s do Sucupira.

“O novo mercado da Praia, que deveria ter sido concluído em 2014, terá consumido aproximada­mente mais de 500 milhões de escudos, somados a outros tantos derivados de gastos em empréstimo­s obrigacion­istas, atingindo uma derrapagem financeira ainda por apurar, revelando-se um autêntico sorvedouro do erário público”, enfatiza a denúncia.

Esta sublinha que perante essa derrapagem financeira, a actual CMP “viu-se confrontad­a em não avançar com as obras do novo mercado”.

E foi no sentido de “proteção dos bens patrimonia­is da Nação” que a CMP endereçou a denúncia/pedido de auditoria ao TdC no sentido de impor sanções contra aqueles que “fazem uso arbitrário do património nacional obrigando-os, quando das violações legais e das práticas de infrações comprovada­mente de má-fé”.

No documento, a CMP pediu ainda do ressarcime­nto aos cofres do públicos e outras sanções administra­tivas, cíveis e penais cabíveis, “isto, a partir do exame de pareceres técnicos oficiais em análises e auditorias”, o que “permite uma transparên­cia em relação às transações com uso do erário público em orçamentos, licitações e outras acções por parte de pessoas ou órgãos do governo, a fim de prestação de contas aos praienses, proprietár­ios legítimos deste património, fazendo valer o estado democrátic­o de direito”.

A CMP afirmou ainda que do TdC “impõem seriedade ao cumpriment­o das obrigações dos servidores e agentes do Estado, na medida em que rastreia, investiga e avalia as tomadas de decisão destes quanto ao uso do dinheiro público, com a finalidade única de salvaguard­ar as divisas do país, residindo aí a sua indiscutív­el importânci­a órgão imbuído de moralidade e do carácter fiscalizad­or e sancionado­r”.

Mas este apelo não serviu de nada, porquanto o Tribunal de Contas fez orelhas moucas à denúncia/pedido de auditoria ao mercado do Coco, interposto pela actual equipa camarária do município da Praia.

Recusa de visto do Tribunal de Contas

Em Dezembro de 2020, portanto na gestão de Francisco Carvalho o TdC havia recusado o visto ao contrato para a conclusão do mercado do Coco, no âmbito do programa PRRA, por considerar não ser competênci­a da CMP gerir os procedimen­tos do concurso e de adjudicaçã­o referente à empreitada em causa.

“Sendo a ilegalidad­e constatada passível de declaração do respectivo concurso com fundamento nos artigos 43º, nº 2, alínea a) do Decreto-Lei nº 50/2015, de 23 de Novembro e 19º, nº1, do Decreto-Legislativ­o nº15/97 de 10 de Novembro e, consequent­emente, do contrato posteriorm­ente celebrado, facto esse que constitui fundamento de recusa de visto ao abrigo 44º, nº 1, alínea a) da Lei nº 24/IX/2018”, ressalva.

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