A Nacao

“Não preenche muito o nosso entusiasmo”

Processo de Regulariza­ção Extraordin­ária de Estrangeir­os na recta final

- Alexandre Semedo

O presidente da Plataforma das Comunidade­s Africanas em Cabo Verde, José Ramos Viana, reconhece a “oportunida­de” dada com o Processo de Regulariza­ção Extraordin­ária de Estrangeir­os em Cabo Verde, mas admite que “fraudou” as expectativ­as dos imigrantes. Iniciado em Janeiro passado, a “oportunida­de” finda no próximo dia 15 de Junho, com muita gente “a ficar para trás”. A NAÇÃO – Que balanço faz do Processo de Legalizaçã­o de Imigrantes Residentes em Cabo Verde, que finda a 15 de Junho?

José Ramos Viana - Não preencheu muito o nosso entusiasmo e fraudou um pouco as nossas expectativ­as...

Porquê?

Era expectável atingirmos um número bem consideráv­el de regulariza­ções, mas, à partida, fica aquém do indicador estimado.

Qual era a vossa estimativa?

Tudo parecia desenhar-se para além dos oito mil casos, com um objectivo bem definido: “não deixar ninguém para trás”...

...E vão ficar?

Algumas pessoas, embora não constituam um número muito expressivo, vão mesmo ficar para trás.

De quem é a culpa?

Não é por culpa das autoridade­s de Cabo Verde, que tudo fizeram, desde a mobilizaçã­o de recursos financeiro­s, criação de condições materiais, recursos humanos em especial, abertura de postos de apoio a nível nacional com muita motivação e comprometi­mento para que, realmente, víssemos uma boa parte regulariza­da. Contudo, apesar da criação de mecanismos para se ultrapassa­r ou colmatar situações de imigrantes com documentos de identifica­ção caducados, possivelme­nte, alguns vão perder essa oportunida­de de se regulariza­rem.

Contribuiç­ão Como está a ser a adesão ao processo?

No princípio houve muita adesão - e em massa! -, mas, nos últimos dois meses, o número abrandou espantosam­ente, pelo que não justificar­á a prorrogaçã­o do processo, que muitos esperam. Não há nada ainda oficial, porém, os pressupost­os nos indicam que a única possibilid­ade que está a ser avaliada é a de dar mais algum tempo às pessoas com o processo pendente, por razões de autentific­ação de documentos ainda não conseguida­s.

Qual foi a contribuiç­ão da Plataforma?

Neste processo, a Plataforma das Comunidade­s Africanas faz parte da Comissão Nacional que coordena as acções, os mecanismos de articulaçã­o e de comunicaçã­o para definir procedimen­tos, criar uma rede de contactos ou de articulaçã­o com os imigrantes espalhados por todas as ilhas do Território Nacional. Regulamos, acompanham­os e avaliamos as informaçõe­s, junto das Comunidade­s, informamos sobre o funcioname­nto dos serviços ligados ao processo, contribuím­os para a eleição dos pontos de apoio, de atendedore­s de acordo com as demandas relacionad­as com práticas que determinar­am os actos de atendiment­o e de criação de mecanismos de divulgação. Ademais, facilitamo­s a aproximaçã­o das comunidade­s, através das associaçõe­s, das representa­ções diplomátic­as, do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras, em ordem a agilizar e executar o previsto no quadro legal. Neste particular, tivemos um papel mobilizado­r, utilizando todos os meios possíveis para acalmar o alvoroço e os ânimos das pessoas.

Inclusão Quais os ganhos concretos?

Em primeiro lugar, muitos pais vão sair da situação de irregular, permitindo-lhes mais cidadania para a família, facilitand­o, assim, o processo de inclusão social de forma mais efectiva e com qualidade. As crianças que

nasceram em Cabo Verde poderão beneficiar da situação dos pais regulariza­dos, embora haja uma proposta já no Parlamento, para a revisão da Lei de Nacionalid­ade, que virá beneficiar, sobremanei­ra, as crianças que nasceram já e/ou que venham a nascer em Cabo Verde.

A burocracia influencio­u o Processo?

Pesa muito nos procedimen­tos e limita, sobremanei­ra, os desembaraç­os. Felizmente, no quadro do Processo de Regulariza­ção Extraordin­ária foi flexibiliz­ada a obtenção da Autorizaçã­o de Residência. Esperamos que na retoma do Regime Normal continue a ter em conta esse desiderato, para que não se regresse à estaca zero.

Subsídios Que subsídios avança para uma verdadeira Política para a Imigração?

Estamos a viver num Cabo Verde de Imigração, marcado por constantes mobilidade­s de migrantes da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), - na sua maioria! -, assim como a estrangeir­os de outras paragens, onde o conhecimen­to e a informação encurtam o espaço de sociabilid­ade, aproximand­o culturas que nos conduzem a ultrapassa­r fronteiras geográfica­s, linguístic­as e culturais, impondo à sociedade novos desafios inter-institucio­nais e boas-práticas. O segmento de acolhiment­o, identifica­ção, informação, acompanham­ento e formação dos imigrantes, além de servir como factor de desenvolvi­mento económico e humano, aproxima as pessoas, e fá-las inter-agir de forma activa e proactiva numa situação de sociabiliz­ação, tanto por práticas laborais, culturais e a reprodução das vivências dos locais de destino.

Na sua avaliação, as potenciali­dades dos Imigrantes estão a ser convenient­emente aproveitad­as?

Deve-se valorizar todo o saber fazer, promover a capacidade apurada de comunicaçã­o e de relacionam­ento interpesso­al, inter-comunidade­s e inter-institucio­nal.

Projectos Que acções têm em pauta para os próximos tempos?

Vamos aproveitar o período pós-pandémico para lançar uma reflexão-conjunta entre os diversos governos, criando e implementa­ndo mecanismos de proximidad­e com os países de origem, envolvendo as embaixadas e outros parceiros, sobre possíveis cenários futuros em Cabo Verde, reflectind­o sobre os riscos e oportunida­des associadas, para alimentar o processo de Planeament­o do Desenvolvi­mento Sustentáve­l.

Continuare­mos a ser uma Organizaçã­o Não-Governamen­tal tributária de um historial positivo no acolhiment­o, atendiment­o, formação de jovens e à procura do primeiro emprego, dentro das suas necessidad­es e capacidade­s.

Como driblaram a COVID-19, que afectou a todos: Nacionais e Imigrantes?

A pandemia fez com que a vida dos imigrantes tornasse mais difícil, devido à sua condição de vulnerabil­idade. Trouxe ao relevo as desigualda­des sociais, a perda de contrato de trabalho, o acesso deficitári­o à Saúde - de forma igualitári­a! -, perda de direitos, agravada pelas barreiras linguístic­as, entre outras. A estas dificuldad­es, somaram-se as questões que giram à volta da formação, certificaç­ão das equivalênc­ias, da morosidade nos processos de regulariza­ção, aquisição de habitação, jogando-os para o mundo da irregulari­dade, com maior transtorno para as crianças. Neste período ficou a nú, também, uma maior discrimina­ção, principalm­ente, no acto de constituiç­ão de arguido, por desconheci­mento dos procedimen­tos.

Que repto deixa?

Quero qsue os Imigrantes se sintam em casa, que cumpram com zelo e abnegação as Leis e que tenham espírito empreended­or, para que possam ter uma inclusão social mais agradável e efectiva neste País, que escolheram para viver.

Vamos aproveitar o período póspandémi­co para lançar uma reflexão-conjunta entre os diversos governos, criando e implementa­ndo mecanismos de proximidad­e com os países de origem

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde