Dia da África - Comunidade Imigrada em Cabo Verde
Katia Bragança Semedo (Enfermeira, Artista, Palmarejo, São Tomé e Príncipe)
Estou há nove anos em Cabo Verde e sempre tive a sensação de que esta era a minha segunda terra. Sinceramente, eu me sinto em casa. Os cabo-verdianos receberam-me de braços abertos, houve alguns momentos difíceis na fase de adaptação, o que é normal em todo processo de imigração.
Estou bem integrada nesta sociedade, pois consegui terminar os meus estudos, trabalhei por algum tempo na minha área de formação, hoje sou empresária e luto para concretizar o sonho de ser cantora profissional.
Não participei do processo de regularização extraordinária de imigrantes, porque como sou descendente de cabo-verdianos, tenho direito à atribuição de nacionalidade sem qualquer impedimento. Entreguei alguns documentos e depois de três meses me foi atribuída a nacionalidade cabo-verdiana.
Saidu Bangura (Professor Universitário, Palmarejo, Serra Leoa)
Estou há 23 anos em Cabo Verde e sinto-me normal como qualquer ser humano, seja como estrangeiro, seja como cidadão. Às vezes bem, outras vezes não muito bem. Tudo depende da saúde da economia e do sector onde trabalho.
Cabo Verde está a fazer bem na matéria da política da imigração. Há leis e há uma instituição que trata os assuntos dos imigrantes com responsabilidade. Os imigrantes têm que pensar que estão num outro país que pode ter normas e regras diferentes de seus países de origem. Mas também os cabo-verdianos, neste caso, têm que receber e tratar os imigrantes como querem ser recebidos lá fora.
Temos que ser bons vizinhos. Há que ter reciprocidade, compreensão e mutualidade. Os imigrantes contribuem também para o desenvolvimento dos países de acolhimento. Os naturais dos países de acolhimento também contribuem para a paz e a sustentabilidade que os imigrantes desfrutam no país de acolhimento.
Sendo já cabo-verdiano, não participei directamente. Mas passei a informação e encorajei os imigrantes sem cartões de residências para participar considerando a importância de ser documentado no país de acolhimento. Sem documento significa que o imigrante é ilegal e não é contemplado nas oportunidades que o país oferece para as pessoas e comunidades imigradas.
Lamine Fati (Agente cultural, \Activista social, Boa Vista, Guiné Bissau)
Estou em Cabo Verde desde os meus 12 anos de idade, completando agora 19 anos aqui, neste país, onde me sinto muito bem enquadrado, porque fui bem acolhido e aceite pelo povo cabo-verdiano.
Hoje sinto-me muito bem realizado, ajudando a desenvolver o país na área cultural, bem-estar da população e das famílias mais necessitadas, principalmente por causa pertinente que é a defesa dos menores contra crimes sexuais.
Quanto à minha integração e de outros imigrantes em Cabo Verde, ela é boa, mas poderia ser muito melhor, porque embora eu nunca tenha sofrido na pele problemas com o preconceito e o racismo, falta-me ter a nacionalidade cabo-verdiana que ainda não tenho, e estou mesmo a precisar do documento.
Estou a ajudar o governo no processo da regularização extraordinária para que todos se encontrem legais no país, através da associação que eu lidero, por acaso no início estava muito lento mas agora já estamos a avançar.
Nireida Lopes (Estudante, Ilha do Maio)
Sei que o dia da África é comemorado a 25 de Maio, como forma de criar laços entre as regiões do Mundo. É uma data para comemorar a África e que serve também como incentivo para a cooperação entre os países africanos e as outras regiões do mundo.
Vejo os imigrantes, igualmente, como os filhos de Cabo Verde, assim como nós, porque muitos deles dão o seu contributo ao nosso país assim como qualquer outra pessoa.
Pensando no dia da nossa África, sinto-me muito bem integrada na comunidade africana porque posso conhecer e interagir com os meus irmãos de outros países bem perto de Cabo Verde.
Olímpio Gonçalves Furtado (Comerciante, Assomada, Santa Catarina, Santiago)
O dia da África é comemorado a 25 do mês de Maio, um evento anual celebrado em muitos países da África e em todo o mundo, por ser o dia da libertação da África.
Mas, quando estou a falar da África em geral, sinto um vazio enorme, isto porque África é uma comunidade muito grande e conheço tão pouco sobre ela. Estamos mais apegados à cultura europeia do que da nossa África, as nossas tradições, hábitos e costumes estão sendo mais influenciadas pela Europa, do que pela África.
Sobre os imigrantes, eles são um dos pilares que sustenta o nosso país principalmente em tempos de crise como a que vivemos, causada sobretudo pela Covid-19 e constante escassez de chuva para a agricultura e criação de animais.
Os imigrantes deveriam ser reconhecidos pelo brilhante trabalho que têm feito não só em tempos de crise, mas sim todos dias, por tudo que fazem pelo desenvolvimento econômico e social do nosso país.
Muitos são africanos só na nacionalidade, no entanto, não sabem nada sobre o nosso continente.
Carla Correia (Enfermeira, Eugénio Lima, Praia)
Referente ao dia da África, sei que é uma data em que se comemora a fundação da organização da unidade africana e penso que é também o dia da libertação de África.
E, por sermos africanos e convivermos com outras nacionalidades africanas aqui em Cabo Verde, vejo os imigrantes como pessoas sacrificadas que lutam para obter um futuro melhor tanto a nível pessoal e familiar, como para a própria riqueza do seu país de origem.
Eles têm dado um grande contributo para Cabo Verde, sobretudo na luta contra a pobreza, então devemos ser solidários uns com os outros e recebê-los da melhor forma possível, pelo menos é o que eu faço sempre. Por isso, tenho muito orgulho em ser uma filha da África, pois qualquer país africano por onde eu passo, sinto-me em casa, e isto me alegra. Então estou e sou bem integrada na comunidade africana.
Daniel Ansumane Mané (Engenheiro Civil, Praia, Guiné-Bissau)
Nestes cinco anos que estou em Cabo Verde, fiz muitos amigos e aprendi muita coisa. Quando penso na forma como os cabo-verdianos recebem os imigrantes, tenho uma grande preocupação, a rejeição para com os imigrantes específicos (países da costa da África), que são tratados de uma forma diferente, comparado com os imigrantes europeus ou asiáticos, e isso do meu ponto de vista não é certo. Entendo que uma dada regra deve ser aplicada para todos, independentemente da cor da pele ou do país de origem.
Temos que mudar esta situação, não por causa dos decretos, imposições ou intimidações das pessoas, mas sim pela educação e por nos considerarmos todos irmãos, assim a integração será muito mais agradável para todos.
Considerando o meu tempo em Cabo Verde, a convivência diária com os cabo-verdianos no espaço residencial e no trabalho, felizmente não tive os problemas que constantemente um imigrante sofre por não estar no seu país, então penso que estou bem integrado nessa sociedade.
Quanto ao processo de regularização extraordinária, vejo que está a ter impactos positivos, visto que anteriormente seria muito difícil regularizar devido a grande quantidade dos documentos que são pedidos, isso implica que grande parte dos imigrantes não estejam regularizados.