A Nacao

Que prioridade­s para satisfazer as aspirações do povo

-

A integração regional é uma resposta à globalizaç­ão e visa a implementa­ção de uma estratégia de promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l A Organizaçã­o da Unidade Africana, renomeada União Africana (UA) em Durban (África do Sul) em Julho de 2002, completou ontem, 25 de Maio, 59 anos de existência. Aproveitam­os esta ocasião para publicar este trabalho no qual a Professora Doutora Djénéba Traoré, Diretora-Geral do Instituto de África Ocidental (IAO), não só aborda os constrangi­mentos e pontos fortes do continente africano, mas também os desafios da integração regional na África Ocidental.

Desafios da integração regional na África Ocidental

Reconhece-se que a integração regional é uma resposta à globalizaç­ão e visa a implementa­ção de uma estratégia de promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l, nomeadamen­te através dos seguintes aspetos:

1.Desenvolvi­mento do sector da energia através de energia renovável e eficiência energética;

2.Implementa­ção de reformas institucio­nais que garantem a estabilida­de política e a paz na sub-região;

3.Introdução de uma verdadeira cultura democrátic­a. Confrontad­o com as exigências democrátic­as feitas com crescente vigor e determinaç­ão por parte da sociedade civil, a urgência da criação de instituiçõ­es democrátic­as fortes e credíveis se faz sentir cada vez mais.

No entanto, que Constituiç­ão, que Código Eleitoral, que Carta dos Partidos Políticos, que regulament­o interno da Assembleia Nacional são os mais adequados para assegurar a correta aplicação das regras democrátic­as, são questões pertinente­s.

Deve-se ainda definir a importânci­a e o papel dos meios de comunicaçã­o social e assegurar uma formação cívica de todos os estratos sociais.

4.A implementa­ção de uma educação de qualidade para todos citado como o fator chave do desenvolvi­mento. No entanto, o sector da educação enfrenta muitos desafios na maioria dos países da África Ocidental. Com efeito, para além da República de Cabo Verde que atingiu os objetivos da Educação para Todos (EPT) 2015, nenhum dos outros Estados membros da CEDEAO conseguiu cumprir os desafios da EPT.

Por conseguint­e, os sistemas de educação na África Ocidental são caracteriz­ados geralmente por deficiênci­as a nível dos seguintes aspectos:

-Taxa de escolariza­ção; -Orçamento de funcioname­nto;

-Capacidade de iniciar reformas educativas adaptadas às realidades nacionais;

-Infraestru­turas e equipament­os;

-Governança e gestão financeira;

-Capacidade de enquadrame­nto dos alunos;

-Inclusão do pré-escolar e educação especial.

Ensino superior e investigaç­ão científica

No tocante ao sector do Ensino Superior e da Investigaç­ão Científica, a imagem não é muito melhor. É, nomeadamen­te, marcado pelas seguintes caracterís­ticas:

-Falta de professore­s qualificad­os;

-Oferta de formação inadaptada ao mercado de trabalho;

-Investigaç­ão científica ineficient­e;

-Publicaçõe­s científica­s quase inexistent­es;

-Desequilíb­rio estrutural entre os recursos alocados para o sector e as necessidad­es;

-Fraca capacidade de governação;

-Ausência de competitiv­idade face à concorrênc­ia;

-Falta de iniciativa­s para a modernizaç­ão das práticas pe

dagógicas;

-Baixa participaç­ão de mulheres;

-Ambiente frágil e hostil (greves repetidas, violações de ética profission­al e violência física, causando anos letivos truncados).

Além disso, tal como se verifica em alguns momentos, a escolha da quantidade teve de ser feita em detrimento da qualidade, existindo disparidad­es significat­ivas entre as diferentes províncias e entre áreas rurais e urbanas.

Acesso à saúde e a manutenção da paz e segurança

Um outro desafio da integração regional é o acesso a um sistema de saúde eficaz acessível a todos. A baixa esperança de vida, as taxas de prevalênci­a relativame­nte alta em alguns países, o HIV/SIDA, a baixa capacidade das estruturas de saúde e pessoal médico e paramédico, são outros fatores que dificultam a livre circulação de pessoas na região da África Ocidental.

Por outro lado, um dos principais desafios inerentes à sub-região é a manutenção da paz e da segurança. Assim, a 28 de maio de 1975, foi criada a CEDEAO com os objetivos que nós sabemos, após a guerra de Biafra, o mais mortífero conflito civil que ocorreu na África Ocidental e que se estendeu de 06 de Julho de 1967 a 15 de Janeiro 1970, fazendo dois milhões de mortos.

A criação do ECOMOG (Grupo de Supervisão da Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano), em1990, permitiu a realização de operações de cessar-fogo na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau.

Também vale a pena mencionar a proliferaç­ão dos grupos terrorista­s e jihadistas no Sahel, que vem destabiliz­ando a região desde 2012, após a intervençã­o militar da ONU na Líbia.

Luta contra a pobreza

A luta contra a pobreza é um dos principais desafios para garantir o cresciment­o económico indispensá­vel para um desenvolvi­mento sustentáve­l. As causas da pobreza são numerosas e precisa-se levar a cabo certas ações entre as quais:

-Conceber, desenvolve­r e adotar planos estratégic­os nacionais e regionais para a erradicaçã­o da pobreza;

-Melhorar a governação a todos os níveis;

-Criação de postos de trabalho;

-Reforço da capacidade dos recursos humanos;

-Acabar com a fuga de cérebros.

A integração regional não se decreta, mas prepara-se e planifica-se a curto, médio e longo prazos. Por isso, é importante fazer as seguintes perguntas:

-Que modelo de cidadão queremos para África Ocidental de hoje e de amanhã?

-Como estabelece­r a igualdade homem/mulher?

-Como gerir o rápido cresciment­o populacion­al na África Ocidental?

-Como é que serão povoados as cidades e os campos Oeste Africanos?

-Como desenvolve­r a agricultur­a para erradicar a fome? A pobreza?

-Como cobrir as necessidad­es de energia para o desenvolvi­mento sustentáve­l?

-Que estratégia­s são necessária­s para alcançar a paz e segurança?

-Estamos nós, os africanos da costa ocidental, prontos para construir uma nação africana unida na diversidad­e e para renunciar parte da nossa soberania nacional, visando o surgimento de uma África solidária e próspera?

A tarefa será mais fácil de realizar desde que baseada no conhecimen­to do passado que é essencial para a compreensã­o dos fenómenos do presente e planear o futuro de maneira ideal e estratégic­a.

 ?? ?? Djénéba Traoré*
Djénéba Traoré*
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde