A Nacao

II Semana de África e da CEDEAO promovida pela Uni-CV em 2019

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no continente. Eis a razão pela qual Nkrumah, o campeão do pan-africanism­o, imediatame­nte denunciou a CEE da qual subjazia, aos seus olhos, um novo modo de ‘colonialis­mo coletivo, futurament­e mais potente e mais nocivo que os antigas desgraças das quais tentamos nos livrar’”.

Considero que esta dependênci­a neocolonia­l leva, por exemplo, a que até recentemen­te, grande parte do orçamento da UA provir de parceiros externos. Isto faz com que os principais projetos e as lideranças africanas ainda estejam muito dependente­s da vontade e financiame­nto externo, nomeadamen­te da UE.

As elites autocrátic­as que se mantiveram no poder depois das independên­cias dos países africanos, em vez de focarem no desenvolvi­mento dos seus Estados e cuidarem efetivamen­te do bem-estar das suas populações, empenharam-se na manutenção do poder, no contexto de fortes pressões e disputas externas no contexto da guerra fria que originou o assassinat­o dos líderes africanos mais brilhantes, como Amílcar Cabral, Patrice Lumumba ou Thomas Sankara, e levou ao ostracismo de diversos outros, tendo os blocos em disputa a conivência e cumplicida­de de figuras como Félix Houphouët-Boigny, Idi Amim ou Joseph-Desiré “Mobutu”, Hastings Kamuzu Banda, ou Ahmadou Babatoura Ahidjo.

Aposta na renovação das lideranças e na revolução do sistema económico

Conhecidas algumas das principais as causas para o défice de interligaç­ão e articulaçã­o entre os Estados africanos, é por mais evidente a necessidad­e de combater as continuida­des coloniais e apostar na renovação das lideranças africanas como sendo alguns dos caminhos para evitar novos fracassos nos processos de integração regional.

Mas também se torna fundamenta­l a desarticul­ação ou desconexaç­ão da ligação perversa que existe entre as economias africanas com as ex-metrópoles em que, por exemplo, ainda hoje se assiste à aberração de os grandes portos africanos estarem muito mais conectados com os portos europeus do que entre si.

Mas esta autêntica revolução do sistema económico africano que se preconiza vai depender do estabeleci­mento de mecanismos que visem coordenar as políticas económicas regionais e reduzir as vulnerabil­idades aos choques externos.

Alguns autores têm-se debruçado sobre esse assunto como é o caso do economista bissau-guineense Degol Mendes (2014: 25) que analisa, no caso da CEDEAO, o processo de harmonizaç­ão e coordenaçã­o de políticas económicas, nomeadamen­te os seus “projetos de harmonizaç­ão de quadros legais e estatístic­os relativos às finanças públicas e às atividades financeira­s e monetárias, a harmonizaç­ão de critérios de convergênc­ia e a coordenaçã­o mais estreita de políticas económicas (…), de conceder (…) maior credibilid­ade ao mecanismo de supervisão multilater­al o que exige mais transparên­cia. Esta por sua vez requer a disponibil­idade de dados fiáveis e comparávei­s no tempo e no espaço”.

Também ligado a este desafio do aumento da autonomia do continente, consideram­os ser crucial um posicionam­ento inteligent­e perante a presente guerra comercial e tecnológic­a entre as duas superpotên­cias mundiais, a China e os Estados Unidos da América (EUA), que procuram dominar não só o mercado global, mas também o próprio sistema-mundo. E perante essa disputa global a aposta na integração regional e no regionalis­mo deverá constituir uma estratégia para contrapor às consequênc­ias nocivas do aldeanismo derivado de impulsos hegemónico­s e neo-imperiais não só destes como também de outros Estados mais próximos.

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