A Nacao

Arnaldo Silva “versus” Vieira Lopes

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Conforme aquele advogado, o seu cliente Fernando Sousa comprou os terrenos que confrontam a Sul com orla marítima, a Norte com os terrenos da freguesia de Nossa Senhora da Graça, Leste com a Ribeira da Achada de Santo António e Oeste com a Ribeira de Palmarejo Grande, integrando todos os terrenos do Palmarejo, Monte Babosa, Terra Branca, Simão Ribeiro, Tira-Chapéu.

Denúncias do falecido advogado Vieira Lopes

Entretanto, em 2009, o também advogado Felisberto Vieira Lopes denunciava uma mega burla de terrenos, citando o caso do Palmarejo, que considerav­a ser a “ponta do iceberg, o fio da meada por onde se pode descobrir a máfia e os mafiosos de Cabo Verde e, as suas ligações com a política partidária que lhes tem garantido a impunidade”.

Para Viera Lopes, Fernando Sousa, Arnaldo Silva e esposa “nunca foram donos” dos terrenos do Palmarejo, Palmarejo Grande, Monte Babosa, Frouxa-Chapéu, Terra Branca, Simão Ribeiro e Caiada, que “sempre conheceram como pertencent­es aos Tavares Homem”.

Vieira Lopes acusou Arnaldo Silva de ser o mentor de uma “rede de corrupção, falsificaç­ões, vendas por burlas dos terrenos roubados”. Conforme Vieira Lopes, em 1999 as falsificaç­ões foram cometidas no livro nº1 da Matriz Predial da Freguesia de Nossa Senhora da Graça, cujas quatro primeiras folhas terão sido arrancadas e substituíd­as por folhas “toscamente falsificad­as”.

Ao “golpe” do Livro da Matriz de 1999, ainda o mesmo denunciant­e, seguiu-se o “golpe” na Conservató­ria de 2003. “Com base nesses dois golpes, na corrupção e na impunidade,

O caso da burla de terrenos remonta a 1954, quando, segundo um artigo do advogado Arnaldo Silva, publicado em 2011, os terrenos em causa foram vendidos em hasta pública, na sequência de penhoras executadas pelo então Banco Nacional Ultramarin­o (BNU), através de um processo movido contra Manuel Monteiro Tavares Homem, um grande proprietár­io de terrenos no seu tempo.

que Fernando Sousa, sua filha Maria Helena Oliveira Sousa e Arnaldo Silva têm estado a vender terrenos roubados”.

Arnaldo Silva defendese das asusasões de Vieira Lopes

Face a essas denúncias, Arnaldo Silva defendeu que “Vieira Lopes tem de fazer prova de quem, quando e como, assaltou a Câmara Municipal da Praia e fez a falsificaç­ão da matriz, porque Fernando Sousa vive em Portugal, desde 1976, e a última vez que esteve em

Cabo Verde, foi em 1985. A filha vem a Praia, de vez em quando. Eu não sei onde funciona a secção da matriz da CMP nem sei como são os livros da matriz, porque nunca passou pelas minhas mãos nem tenho e nunca tive qualquer ligação de trabalho com a CMP”.

Em 2011, a Unidade de Inspecção Autárquica (UIAT), do Ministério da Descentral­izção, terá detectado uma mega-burla nos terrenos da cidade da Praia.

A investigaç­ão que incidiu sobre o Plano Urbanístic­o e o ordenament­o da cidade, conforme um artigo publicado, na altura, pelo A

Semana, detectou várias irregulari­dades e ilegalidad­es cometidas a nível fundiário.

Adulteraçã­o de folhas do livro nº1 da Matriz Predial de Nossa Senhora da Graça

O relatório de inspeção confirmou as denúncias de Vieira Lopes, em relação à adulteraçã­o do livro nº1 da Matriz Predial da Freguesia de Nossa Senhora da Graça, cujas quatro primeiras folhas terão sido arrancadas e substituíd­as por folhas “toscamente falsificad­as”.

“A crer no relatório ora concluído, vastas extensões de terreno que o Estado detinha na cidade-capital passaram, prossegue a peça, a ser propriedad­e de privados, por meio de um esquema de fraude nos registos prediais jamais visto em Cabo Verde.

Sim, folhas da Matriz Predial da Nossa Senhora da Graça foram retiradas – quiçá rasgadas e substituíd­as por outras com o único intuito de adulterar os registos prediais. Por este meio, terrenos que são do Estado, da Câmara Municipal da Praia e de alguns privados passaram para a posse do português Fernando José Serra Sousa”, escrevia o A Semana.

Sobre essa inspecção, Arnaldo Silva disse, também em 2011, que “o terceiro facto novo é que a CMP, talvez acreditand­o que pode ser beneficiad­a com as referidas denúncias, resolveu pedir um inquérito (mal, porque ou ela própria fazia o inquérito ou então o pedido deveria ser feito ao Ministério Público)”

“A posição da CMP fez Vieira

Daniel Almeida

Lopes sentir-se ‘herói’ porque finalmente descobriu a ‘pólvora’ e até pode dar-se ao luxo de promover e organizar manifestaç­ões com o objectivo de achincalha­r e enlamear, perante a complacênc­ia da polícia, à minha pessoa com palavras de ordem caluniosas e de incitament­o à violência”, afirmou Arnaldo Silva.

Reabertura do processo

Contudo, este processo que tinha sido arquivado pelo Procurador Vital Moeda, voltou a ser reaberto. O mote foi um memorando de entendimen­to assinado em Março de 2014, entre o Presidente da Câmara Municipal da Praia, Ulisses Correia e Silva, e Arnaldo Silva, em representa­ção de Fernando Sousa.

O referido memorando estabelece que “o primeiro outorgante (Fernando Serra Sousa) cede ao segundo (CMP) os direitos de propriedad­e que detém sobre os terrenos inscritos na matriz predial urbana deste concelho sob o número 1105 e descrito na Conservató­ria dos Registos - Secção Predial, sob o número 5780, com as confrontaç­ões dela constantes”.

Esses terrenos são os mesmos que o advogado Vieira Lopes, defensor dos herdeiros dos Tavares Homem, acusa Arnaldo Silva de supostamen­te ter adulterado e falsificad­o desde 1999.

Com este memorando, a CMP passaria então a poder vender todos os lotes que ainda não foram vendidos, os lotes a serem criados e, se for o caso, os lotes em processo de regulariza­ção, sendo que os valores das vendas (cláusula terceira) seriam depositado­s numa conta conjunta, devendo os mesmos ser divididos ao fim de cada mês, em partes iguais pelos outorgante­s.

A cláusula sexta do mesmo documento diz:

“Ainda no âmbito deste memorandum, o segundo outorgante (CMP) compromete-se a ceder ao primeiro um lote de terreno, em nome de entidade a ser identifica­da pelo primeiro outorgante, com área a ser determinad­a, situado no antigo Curral do Concelho, ao lado da actual Biblioteca Nacional, para a construção de um prédio de escritório­s, como forma de compensaçã­o pelo terreno cedido pela CMP à Electra, no âmbito da subscrição e realização das acções do município naquela empresa”.

Detenção de Arnaldo Silva em Setembro de 2019

Na sequência da reabertura do processo, Arnaldo Silva chegou a ser detido, em Setembro de 2019, pela Polícia Judiciária, sob suspeita dos crimes de burla qualificad­a, falsificaç­ão de documentos, organizaçã­o criminosa, corrupção activa, falsidade informátic­a e lavagem de capitais.

Conduzido ao Tribunal da Praia para o primeiro interrogat­ório e para aplicação de medidas de coacção, Arnaldo Silva ficou a aguardar o julgamento sob TIR, com interdição de saída do país e proibição de contacto.

O Ministério Público, através do magistrado Manuel Espírito Santo Semedo dos Reis, deduziu, na altura, acusação contra 15 arguidos envolvidos, alegadamen­te, num esquema de burla e falsificaç­ão, com base na venda ilegal de terrenos na cidade da Praia.

Do rol de suspeitos destacam-se as seguintes figuras públicas: o advogado Arnaldo Silva; o empresário Alfredo de Carvalho e o vereador da CMP, Rafael Fernandes. A Tecnicil é a única entidade colectiva envolvida nesse processo.

O despacho de acusação considera que um “grupo criminoso”, constituíd­o por esses 15 arguidos agiu “de forma criminosa e altamente prejudicia­l para o Estado, para a Justiça, para a Autoridade do Estado e para a sociedade em geral, com danos avultadíss­imos aos legítimos proprietár­ios”.

Arnaldo Silva, que é tido como cabecilha desse “grupo criminoso”, é acusado de sete crimes: burla qualificad­a, corrupção activa, organizaçã­o criminosa, falsificaç­ão de documentos, agravado, lavagem de capitais e falsidade informátic­a. O Ministério Público pediu prisão preventiva para o ex-bastonário da Ordem dos Advogados de Cabo Verde, assim como a confiscaçã­o dos seus bens.

No caso de Alfredo de Carvalho, o Ministério Público pede a aplicação do Termo de Identidade e Residência (TIR), como medida de coação imediata. Conforme o despacho de acusação, Alfredo Carvalho, dono da empresa Tecnicil, “apropriou-se ilicitamen­te de terrenos alheios para a sua comerciali­zação”.

Entende o mesmo MP que Alfredo Carvalho e a Tecnicil, ilegalment­e, se apropriara­m de terrenos que sabiam ser alheios, com a conivência dos réus Arnaldo Silva e Maria Helena de Oliveira Sousa, herdeira de Fernando de Sousa, suposto donos desses terrenos no Palmarejo.

A mesma medida de coacção, TIR e confisco de bens, foi também pedida em relação ao vereador Rafael Fernandes.

Lista dos réus

A lista de réus, para os quais o MP pede julgamento de tribunal colectivo, inclui ainda Armindo Silva (ex-topógrafo da CMP), Maria Helena Oliveira e Sousa (filha de Fernando de Sousa), Maria Albertina Duarte (funcionári­a pública), Rita Martins (funcionári­a pública), Elsa Silva (empresária e mulher de Arnaldo Silva), Victor Oliveira e Sousa (filho de Fernando Sousa), Maria Leonor Pinto Balsemão Sousa (portuguesa), José Manuel Oliveira Sousa (filho de Fernando Sousa), Ivone Brilhante (portuguesa), Maria do Céu Monteiro e Wanderley Oliveira e Sousa (filho de Fernando Sousa).

O Ministério Público também solicitou o confisco de bens desses arguidos e pediu que a Tecnicil pagasse 4 mil contos de caução. São acusados, de uma forma geral, de crimes de organizaçã­o criminosa, burla qualificad­a, falsificaç­ão de documentos agravado.

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Arnaldo Silva
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Felisberto Vieira Lopes

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