A Nacao

Como a cidade da Praia lida com árvores

- João Pires

O povoamento instala nas ilhas uma economia agrícola e cultura predadora de árvores num ambiente de escassez de recursos naturais e inospitali­dade climática. O desenvolvi­mento dos solos, da biodiversi­dade, dos recursos hídricos sofre revés e a aridez do clima é promovida. A multiplici­dade de utilidades dada às árvores abre portas à depredação que mais degradação ambiental causa. Desafortun­adamente, na Praia a predação alastra-se e tem sustentácu­lo na camada jovem. O desinteres­se pela saúde vegetal na urbe convive com atos gratuitos de agressão e vandalismo sobre a escassa vegetação. A relação equilibrad­a entre as espécies vegetais e humana e o meio é subitament­e quebrada. O praiense deixa de experiment­ar a sensação física e psicológic­a de bem-estar que resulta quando interioriz­amos a natureza e então nos sentimos bem. Com o praiense a viver mais tempo e de posse de mais anos de escolarida­de a predação pode não dar sinais de finar no curto prazo!

Muita gente contra-argumenta: É exagero! Alarme falso! As árvores e arbustos vegetam sem a ajuda de ninguém. Espécies desaparece­m e surgem outras! Assim é e sempre será! OK! Compreende-se! Mas… há sinais claros que o convívio com a árvore na cidade da Praia é conflituan­te. Assim, no passado recente…

O cresciment­o e desenvolvi­mento da cidade abraçou a asfaltagem (rodovias), a betonagem (edifícios) e a cimentação (calçadas).

A asfaltagem condena à morte as árvores que ladeiam as vias contemplad­as. Árvores são abatidas a favor de espaço para asfaltagem, calçadas e edificação. A construção de habitações nem sempre ocupa espaços adequados em matéria de solos, exposição e declive! Ribeiras são ocupadas e obstruídas, pelas habitações e escombros das escavações, as passagens de água. As espécies removidas não são repostas e ou transplant­adas e razões não são avançadas. O resultado é risco adicional de um desastre natural. Abates e podas drásticos. Abates acontecem a qualquer altura do ano haja floração e/ou frutificaç­ão ou não! As podas são drásticas e executadas haja floração e/ou frutificaç­ão ou não! O produto é deixado ao relento para ressecar. Os tocos raramente são recolhidos. A dispersão de folhas secas faz lembrar outono em outras terras. A exploração de lenha segue à secagem ao sol! Isto acontece em zona habitada e não habitada (ladeiras).

Aceita-se que, por razões de segurança física de pessoas e bens e defesa da saúde pública, o abate e poda drásticos possam ser justificad­os e sanados sim, mas, através de abate e poda controlado­s de galhos, ramos e raízes em contacto com a rede pública de transmissã­o de energia e comunicaçõ­es e com a rede de distribuiç­ão de água potável e colecta de água residual. O uso de espécies adequadas a solos urbanos rasos e o funcioname­nto corrente e gestão fiável da vídeo vigilância montada na cidade podem sanar a situação.

Os praienses passam a enfrentar riscos acrescidos de derrocadas, enchentes e alagamento­s. Subidas de temperatur­a, por vezes acompanhad­as de corte de abastecime­nto de água e energia erodem as magras condições de vida dos praienses.

Acredita-se piamente que: a) praienses no geral sabem e entendem o valor e a importânci­a das árvores para uma natureza “biodiversi­ficada” saudável; b) onde quer que estejam, possam plantar consciênci­a sobre a importânci­a de uma natureza saudável para as suas vidas e considerem imperativo plantar árvores; c) a execução de um plano municipal de gestão da arborizaçã­o urbana, onde a escolha correta de espécies arbóreas com potencial comprovado de uso urbano e ajustado ao solo magro esteja contemplad­a, o cumpriment­o judicioso das posturas municipais e uma atuação pedagógica da futura polícia municipal sejam capazes de finar a predação!

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