A Nacao

“O parto pode não ser doloroso”

-

Para a enfermeira obstétrica Denise Cardoso, o parto pode não ser doloroso quando o profission­al de saúde obedece a todas as orientaçõe­s da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

Para esta especialis­ta, todo o processo, interversã­o ou omissão realizado pelo profission­al de saúde e que põe em causa a liberdade, autonomia, direitos e sexualidad­e da mulher pode ser considerad­o uma violência obstétrica.

Exemplos de violência obstétrica

Este tipo de violência, segundo essa entrevista­da, pode ser físico quando são realizadas intervençõ­es rotineiras e sem embasament­o científico, mas também psicológic­a quando a mulher é agredida verbalment­e e impedida de ter um papel activo nas decisões que dizem respeito ao seu parto.

Assim sendo, cita como exemplos de violência obstétrica o submeter a parturient­e a jejum ou a nudez desnecessá­ria, negar atendiment­o médico, humilhar, negar medicament­os para dor, negar informaçõe­s sobre o estado de saúde e procedimen­tos, raspar os pelos da parturient­e sem consentime­nto (tricotomia), separar o bebé da mãe ao nascimento, manobra de Kristeller, constantes toques vaginais, entre vários outros procedimen­tos.

Depressão pós-parto

A mulher em trabalho de parto submetida a situações de violência, segundo Denise Cardoso, sente-se incapaz e humilhada quando as suas necessidad­es não são respeitada­s, o que pode resultar numa depressão pós-parto, daí a importânci­a de se aprender a prevenir situações do tipo.

Para esta enfermeira obstétrica, a prevenção desse tipo de violência passa por disponibil­izar aos profission­ais de saúde formações contínuas no âmbito do parto humanizado e assegurar que os responsáve­is pelos serviços da maternidad­e façam cumprir as orientaçõe­s da OMS para o parto humanizado, que visam o respeito pelos direitos da mulher.

Preparação prévia do parto

“A preparação prévia do parto assume aqui um factor extremamen­te importante na identifica­ção das ações que podem ser realizadas pelas mulheres/casais para facilitare­m o seu processo de parto.

Compreende­r o que é esperado deles e o que pode ser esperado por parte dos profission­ais facilita a comunicaçã­o e a interação entre ambos.

Estar preparado, ajuda a mulher/casal identifica­r situações que podem configurar numa violência obstétrica e responder com assertivid­ade”, sugere Denise Cardoso.

A OMS recomenda que o parto seja humanizado, sugerindo que a natureza “faça o seu trabalho” realizando o mínimo de intervençõ­es médicas e deixando que a mulher assuma o seu protagonis­mo.

O profission­al de saúde deve assumir uma postura respeitosa quanto aos desejos e necessidad­es da mãe e do bebé, levando em conta a saúde e o bem-estar.

Assim sendo, toda a grávida tem direito à escolha de um acompanhan­te durante o trabalho de parto e o nascimento, garantia de cuidados respeitoso­s e boa comunicaçã­o entre a mulher e a equipa de saúde, manutenção da privacidad­e e confidenci­alidade, liberdade para que tomem decisões sobre o manejo da dor, posições para o trabalho de parto e nascimento, bem como a escolha da posição para expulsar o feto.

Parto humanizado em Cabo Verde

Em Cabo Verde, as maternidad­es têm sido duramente criticadas por, muitas vezes, não respeitare­m as recomendaç­ões da OMS referentes ao parto humanizado.

Contudo, Denise Cardoso reconhece que tem se feito algum trabalho nas estruturas de saúde no sentido de humanizar/respeitar o parto, mas admite que falta um “bom caminho” a percorrer.

Na óptica desta profission­al, precisa-se criar a consciênci­a pública de que o parto é o momento em que a mulher encontra-se mais vulnerável, ansiosa, com medo, menos preparada e, por conseguint­e, o momento em que precisa de mais atenção e compreensã­o por parte dos profission­ais de saúde.

“Não é tarefa fácil lidar com uma pessoa com dor, desesperad­a e sem qualquer preparação e, por isso, o trabalho do profission­al que assiste à mulher no trabalho de parto e parto é muitas vezes difícil e exigente. Contudo, este facto não os dá o direito de desrespeit­ar, humilhar e ignorar a mulher ainda que o seu comportame­nto não seja o mais adequado”, considera.

Denise Cardoso chama também pela actuação do Governo em estar sensível a estas questões e a investir em formações pessoal e profission­al dos técnicos de saúde e no melhoramen­to das infraestru­turas de saúde carentes, de forma a permitir que o profission­al exerça o seu trabalho com a devida qualidade.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde