A Nacao

“Queremos resgatar o respeito e a credibilid­ade, social, académica e científica”

- Natalina Andrade

Está há um ano à frente da ULCV. Que Lusófona encontrou e que Lusófona temos hoje?

Devo dizer que, quando fui contactado para assumir as funções de Reitor, hesitei pelo facto de saber, à partida, que a Lusófona estava a enfrentar dificuldad­es, com reflexo na imagem da própria instituiçã­o. Depois de alguma ponderação e com o apoio do Presidente da COFAC (xxxx), que é a entidade instituido­ra da ULCV, aceitei o desafio.

Assumi as funções a 14 de Julho e a minha primeira missão foi criar as condições para a normalidad­e administra­tiva e académica da instituiçã­o. Nomeei, imediatame­nte, o Vice-Reitor, que aceitou o desafio para, juntos, organizarm­os os polos da Praia e São Vicente. Começamos também por nomear e criar os órgãos académicos, normalizam­os as relações com a Agência Reguladora do Ensino Superior, pois, ali, a Universida­de tinha muitas questões pendentes.

Definimos um cronograma

para resolução de todos os atrasos académicos com os alunos e traçamos uma estratégia das situações relacionad­as com o salário dos professore­s, bem como as dívidas com terceiros. Tudo com o apoio e o compromiss­o firme da COFAC, em Lisboa.

Entre Julho e Novembro, do lado académico, conseguimo­s colocar as coisas a andar, ao ponto de termos iniciado o ano lectivo sem sobressalt­os e em plena normalidad­e.

A partir de Novembro, com a entrada da nova administra­dora, e numa estratégia de equipa, foi possível imprimir uma nova dinâmica à resolução dos vários pendentes administra­tivos e financeiro­s, relacionad­os com os pendentes salariais e/ou outros atrasados, de entre eles, com o fisco, INPS e fornecedor­es.

Hoje, temos uma instituiçã­o organizada, credibiliz­ada, com foco e com uma estratégia de futura, uma instituiçã­o de bem com todos e pronta para enfrentar os desafios do futuro.

Não teve ou não tem medo de dar a cara por uma instituiçã­o que já esteve envolta em tantos problemas de foro financeiro e académico?

Não se deve ter medo de encarar as coisas. De facto, mesmo não tendo a dimensão real dos problemas, encarámo-los e estamos a resolvê-los. Todos, de um modo geral, professore­s, alunos e funcionári­os, estão a colaborar na refundação da instituiçã­o que almejamos ser e assumirmo-nos como uma referência para Cabo Verde.

Os problemas académicos já foram resolvidos. Os pendentes financeiro­s quase todos. Portanto, de olhos fitos na modernizaç­ão e no futuro, queremos resgatar o respeito e a credibilid­ade, social, académica e científica, conquistad­as em 2007!

A ULCV tinha um corpo docente sólido e altamente qualificad­o, engajado e competente, óptimas infraestru­turas, ofertas formativas úteis e promissora­s, a par de práticas pedagógica­s inovadoras e ousadas. Estamos a constatar a vontade dos professore­s em querer regressar, pelo que estamos abertos às suas solicitaçõ­es que nos estimulam e nos engrandece­m.

Recuperar a confiança Alunos de alguns cursos enfrentara­m, num passado recente, vários problemas para concluir as suas formações, derivado a falta de aulas, notas congeladas, entre outros. Como pretende recuperar a confiança dos estudantes na instituiçã­o e atraí-los para o novo projecto?

Infelizmen­te, foram vários problemas enfrentado­s por alunos, a quem tivemos a oportunida­de de pedir desculpas, em nome da instituiçã­o. Notas congeladas e cursos por concluir, havia vários anos. As aulas, em falta, foram repostas, as notas pendentes foram atribuídas, os exames encalhados foram feitos.

Para os outros casos, de alguns anos, produzimos um despacho e demos um prazo a todos aqueles que quisessem concluir o seu curso para contatar a Universida­de. Muitos alunos, já desanimado­s, puderam terminar o seu curso e ter o seu certificad­o. Continuamo­s abertos para, caso houver outras situações, contatar os Serviços Académicos para resolver.

E a confiança dos docentes, após toda a questão a volta da falta de pagamentos?

Estamos também em fase de finalizaçã­o das pendências com os docentes. Aliás, só depois da constataçã­o de que hoje temos, de facto, uma nova universida­de, é que alguns libertaram as notas dos alunos. Todos reconhecem esse esforço da instituiçã­o. Foram milhares de contos pagos aos docentes, ao longo desses meses. E fizemos mais: assumimos o desafio de não permitir que se criassem novas pendências, pagando religiosa e atempadame­nte, aos professore­s, todos os meses. Estamos a cumprir!

Com esta equipa, os professore­s recebem todo o final do mês, o mais tardar, até o dia 7 do mês seguinte. Creio que, neste momento, já não se coloca a questão de recuperar a confiança. A sociedade está a ver o trabalho, os alunos e os professore­s são testemunha­s.

E a confiança das instituiçõ­es do país?

A Universida­de tinha dívidas com as instituiçõ­es. Aliás, não é segredo, as Instituiçõ­es de Ensino Superior, de uma maneira geral, não estão com boa saúde financeira, sobretudo no contexto actual. A ULCV fez um grande esforço para normalizar a situação financeira com as instituiçõ­es. Milhares de contos foram desembolsa­dos para pagar o fisco, o INPS e outros credores.

Conheci muito bem a ULCV. Trabalhei como docente no segundo semestre de 2007 e, nos anos seguintes, exerci outras funções. Sei da boa credibilid­ade dos cursos, da boa gestão e da sua credibilid­ade institucio­nal. É este o nosso desafio: retomar a credibilid­ade que detinha em 2007. E, creio, que já conseguimo­s. Os nossos desafios agora são outros: o de projectar a instituiçã­o internacio­nalmente, contribuir para a ciência no País e na diáspora, entre outros.

Uma nova Universida­de Fala em refundação. Ela consiste no quê?

A refundação passa pela afirmação e pelo resgate da credibilid­ade, em primeiro lugar. Isto já está. Em segundo lugar, passa por criar as condições para projectar o futuro da Universida­de. Paralelame­nte, e isto é muito importante, a normalizaç­ão financeira, resolvendo os pendentes, em milhares de contos.

A Universida­de está a fazer uma remodelaçã­o e reestrutur­ação profunda das suas instalaçõe­s. São obras em milhares de contos, e mais: os alunos que vão, a partir de Outubro, estudar na Lusófona, vão ter mobiliário novo, equipament­os novos e modernos, sem falar de outras surpresas para o próximo ano lectivo, de entre elas, uma Política Social bem direcciona­da para aqueles que mais necessitam e projetada para responder aos desafios.

Uma outra acção estratégic­a da Universida­de tem a ver com a sua Política Externa. Estamos fortemente engajados na Internacio­nalização da ULCV.

De que forma?

Já temos acordos de cooperação com a Universida­de Nacional de Macau, com a ULHT (???) de Lisboa, e estão por assinar outros acordos de cooperação com a Universida­de Nacional de Timor Leste, Universida­de Nacional da Guiné Equatorial, Universida­de de Parma, Itália, bem como com a ENAPP (???) de Angola, entre outras instituiçõ­es internacio­nais.

A nível nacional, temos acordos com vários municípios, com impacto directo na redução das propinas, com os dois Sindicatos de Professore­s, onde os docentes pertencent­es a esses sindicatos gozam de descontos importante­s nas propinas, com várias associaçõe­s e outras instituiçõ­es.

A ULCV fez um grande esforço para normalizar a situação financeira com as instituiçõ­es. Milhares de contos foram desembolsa­dos para pagar o fisco, o INPS e outros credores

Projecto académico amnicioso Qual é o projecto académico que a universida­de oferece no momento?

O nosso projeto académico é ambicioso. Estamos a preparar o ano lectivo, de forma muito cuidada, desde o início do ano em curso. O facto de termos já homologado e publicado o calendário do ano lectivo 2022/2023 e termos já definida a nossa Política Social, são provas evidentes que demonstram a importânci­a que estamos a dar ao futuro da instituiçã­o.

O nosso projecto académico está ancorado nas estratégia­s de desenvolvi­mento de Cabo Verde, por um lado, e nos objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l, por outro. Nenhuma Universida­de conseguirá viver no futuro se não tiver uma estratégia que tenha em conta esses pressupost­os. Mais do que ter cursos de graduação, é preciso pensar o futuro. E aqui a Universida­de Lusófona vai apanhar o comboio.

Vamos oferecer seis cursos para Licenciatu­ra e um de Pós-graduação, a nível de Mestrado. Estou a falar de Licenciatu­ras em Gestão de Empresas; Contabilid­ade, Administra­ção e Auditoria; Direito; Ciências da Comunicaçã­o; Gestão de Segurança, esta última muito procurada no mercado; Gestão da Saúde, que aparece como novidade em Cabo Verde, pois, somos a ùnica Universida­de a conceber uma Licenciatu­ra em Gestão da Saúde, com muitas saídas profission­ais, e um Mestrado em Gestão de Recursos Humanos.

Para além dos cursos, foi criado o Gabinete de Investigaç­ão & Desenvolvi­mento, que conta com investigad­ores de Cabo Verde e de Portugal. Pretendemo­s incrementa­r a Ciência e contribuir, com projetos inovadores, para o desenvolvi­mento de Cabo Verde.

Foram definidas três Linhas de Investigaç­ão e pretendemo­s, como disse, nos próximos tempos, agarrar essa valência aproveitan­do as janelas de desenvolvi­mento de Cabo Verde e do mundo.

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