A Nacao

“O problema é político e problemas políticos não se resolvem com inspecções administra­tivas”

- Natalina Andrade

A crise instalada na Câmara Municipal de São Vicente, para o economista e consultor Avelino Bonifácio Lopes, é resultado da falta de preparo político dos sujeitos que fazem parte da câmara e assembleia municipais daquela ilha. A resolução do problema, defende, passa pela intervençã­o política do Governo, que deve mediar o diálogo e a negociação, ou, em última instância, por eleições antecipada­s.

Após se anunciar a ida, a São Vicente, de uma equipa que, a princípio, pareceu ser uma intervençã­o do Governo para mediar os problemas entre o edil Augusto Neves e os vereadores da oposição (UCID e PAICV), os serviços de Inspecção e Auditoria Autárquica, do Ministério da Coesão Territoria­l e da Inspeção Geral das Finanças esclarecer­am, na sexta-feira, que se tratou de uma acção de averiguaçã­o “puramente administra­tiva”, tendo como foco uma reunião e deliberaçõ­es de Janeiro do corrente ano, e não de uma mediação política.

A acção, segundo a mesma fonte, foi determinad­a com base nas solicitaçõ­es dos vereadores do PAICV, da UCID e da Assembleia Municipal.

Ora, essa intervençã­o administra­tiva, no entender do analista Avelino Bonifácio Lopes, em entrevista ao A NAÇÃO, só teria efeito se fossem

identifica­dos incumprime­ntos legais graves, susceptíve­is de causar a perda de mandato.

“A ausência de resultados não me surpreende. Creio que o problema é muito mais político e um problema político não se resolve através de inspecções mandadas fazer por agentes administra­tivos”, considera.

Segundo frisou, inicialmen­te tinha-se a percepção de que iria a São Vicente uma delegação governamen­tal, investida de poderes políticos, eventualme­nte para intermedia­r as partes. Entretanto, o que aconteceu foi uma missão técnica e dela “só resultaria alguma coisa se de facto pudessem encontrar incumprime­ntos legais graves que pudessem suscitar a perda de mandato”.

Governo precisa intervir politicame­nte

Avelino Bonifácio espera e acredita que o impasse seja resolvido por via da negociação e do entendimen­to, a bem dos interesses de São Vicente e da sua população.

“Os sujeitos autárquico­s de São Vicente devem compreende­r que estão investidos dos votos dos sanvicenti­nos para elevados cargos. Foram eleitos de acordo com a vontade popular para coabitarem. E a coabitação exige abertura e disponibil­idade de espírito para negociar”. Numa coabitação, adverte, não podem reinar “intransigê­ncias”.

Portanto, prossegue, “o Governo deve procurar intermedia­r as partes e fazê-las entender que têm responsabi­lidades, para evitar, primeiro, que São Vicente continue a perder com este bloqueio, após se passar praticamen­te um ano e meio de mandato sem a câmara funcionar”.

Por outro lado, disse, as “difíceis situações económicas e financeira­s que o país vive neste momento não recomendam a realização de eleições antecipada­s”.

“Para que isso não venha a fazer escola, nem em São Vicente, nem em outras autarquias que também atravessam dificuldad­es de entendimen­to entre os sujeitos autárquico­s”, sublinha, tendo presente certamente o caso da Praia como uma outra situação não menos complexa por resolver.

Eleições antecipada­s

Para se chegar a um entendimen­to, considera Bonifácio Lopes, tem de haver abertura de espírito e disponibil­idade para negociar e para ceder, em detrimento de egos pessoais e dos partidos e movimentos que suportaram as candidatur­as.

Em última instância, far-se-á necessária uma “intervençã­o mais musculada” do Governo, no sentido de provocar as eleições antecipada­s.

“Com os custos económicos e financeiro­s, sim, mas, pelo menos, mas com a possibilid­ade de São Vicente poder recuperar os pouco mais de dois anos que ainda faltam até as eleições”, defende.

Tendo em vista que a ilha sai prejudicad­a deste imbróglio, o consultor espera que os munícipes possam avaliar e tirar as devidas conclusões, no sentido de penalizar os responsáve­is e dar um sinal claro de que a “intransigê­ncia, a irresponsa­bilidade e o erro exagerado” por parte de agentes políticos não devem fazer escola em Cabo Verde.

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