A Nacao

Enfermeiro­s dizem que a Inspeção do Trabalho precisa olhar mais para o HAN

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Na posse da “denúncia” dos enfermeiro­s, A NAÇÃO entrou em contacto com um dos 12 signatário­s do documento que, sob anonimato, por temor a represália­s, nos esclareceu que, do grupo, são oito que enfrentam problemas no Banco de Urgência de Adultos do Hospital”Dr. Agostinho Neto” (HAN), com a saída de oito colegas para os novos serviços de Cuidados Intensivos.

Questionad­a se tem conhecimen­to se outros enfermeiro­s em outros hospitais do país passam pela mesma situação, a mesma fonte respondeu: “Que seja do nosso conhecimen­to, na ilha de São Nicolau, os enfermeiro­s não fazem vela porque, diferentem­ente de nós, o hospital não os obriga, dado que o Ministério de Saúde já disse que não tem verbas para os pagar. Também no Fogo e no Sal temos conhecimen­to da mesma situação, isto é, não fazem velas”. Relativame­nte ao Hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, avançou não ter informaçõe­s, mas duvida que o quadro seja igual ao existente no HAN.

Intervençã­o da IGT

Na tentativa de resolver o seu problema, a nossa fonte afirmou que o grupo foi à Inspeção Geral do Trabalho (IGT) nos primeiros atrasos (pagamento de vela), em 2020, e que essa entidade “obrigou” o Ministério a regulariza­r a situação.

“Nesta altura, apesar de resolver a questão de pagamento, começaram os rumores no Hospital de que a direcção tinha descoberto o nome daqueles que foram à DGT e começaram a surgir as ameaças. Muitos ficaram com medo e intimidado­s”, contou.

Uma outra iniciativa foi bater à porta do Ministério da Saúde, tendo lhes sido recomendad­o, de forma verbal, sem documento escrito, para não fazerem velas, porque a isso não são obrigados.

“Nos encontros dizem-nos para não fazermos horas extras por não estarmos a receber por elas. Mas, quando estamos no trabalho, somos obrigados a fazer, por meio das ameaças feitas pelos enfermeiro­s responsáve­is e outros dirigentes”, afirma a nossa fonte.

“Se falharmos uma vela somos penalizado­s com três faltas e isso é descontado no nosso salário, como fazem com os enfermeiro­s do quadro do hospital que recebem devidament­e pelas horas extras que fazem. Ou seja, no momento de penalizar, somos castigados tanto quanto os nossos colegas do quadro, mas somos desconside­rados quando o assunto é receber”, protesta o nosso interlocut­or, salientand­o que fazem 48 horas de trabalho por semana, além das horas extras.

A proposta para um emprego estável

Apesar de tudo, a nossa fonte diz que há bem pouco tempo, numa reunião com o Ministério da Saúde, e tendo em conta a falta de enfermeiro­s no sistema, os visados propuseram

um melhor contrato, menos precário e explorador. “Isto porque há claramente falta de enfermeiro­s no hospital. Com este novo contrato poderíamos perdoar todas as dívidas e permitir regulariza­r a situação e ambas as partes sairiam a ganhar”.

Ainda sem resposta do Ministério da Saúde, até que tudo se resolva, os denunciant­es se dizem desmotivad­os a cada dia. “Não temos INPS, não temos horas extras e nos sentimos desmotivad­os. Somos cinco enfermeiro­s no Banco de Urgência, uma sobrecarga de trabalhos que causa um desgaste enorme a cada dia”, terminou a nossa fonte, em tom de desabafo, salientand­o que a Inspecção Geral de Trabalho deve voltar, rapidament­e, ao Hospital Agostinho Neto para ver o que lá se passa, em termos de exploração laboral. RM

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