Nhonhô Hopffer, um cantor defensor dos compositores
Nhonhô Hopffer Almada considera-se um cantor e intérprete, defensor dos compositores musicais. Só que à sua maneira, como faz questão de ressalvar.
“Para a desilusão de muita gente, eu não sou compositor, sou cantor e intérprete. Dou voz aos compositores, sobretudo àqueles que não cantam ou não gostam de cantar ou ainda aqueles que criam e escrevem músicas só para os outros cantarem”.
E, por essa razão, assegura: “Não me sinto minimamente inferiorizado com isso, porque a Cesária Évora e o Bana, por exemplo, não eram e nunca foram compositores. Mesmo o Ildo Lobo, que tem algumas composições de sua autoria, humildemente, não se considerava compositor, mostra a qualidade e a quantidade dos nossos compositores”.
“Cunho pessoal” e “roupagen musical” próprios
Deste modo, Nhonhô Hopffer diz que sempre procurou imprimir uma “nova roupagem” às músicas por ele interpretadas, conferindo-lhes o seu cunho pessoal.
“Sempre defendi que cantar uma música já cantada por outro, sobretudo se terá sido cantada por um grande cantor ou cantora, o melhor é não imitar, mas cantar à tua maneira, com o teu toque pessoal, porque senão corres o risco de não conseguir imitar bem ou sequer cantar melhor que o original”.
E conta a sua experiência: “Cantei ‘Sema Lopi’ à minha maneira, apesar de antes ter sido cantado pelo rei, Zeca di Nha Reinalda, no período em que esteve nos Bulimundo. Cantei ‘Nha Terra Escalabrode’, à minha maneira, com o meu toque pessoal, apesar de ter sido gravado pelos Os Tubarões, na voz do grande Ildo Lobo. Em nenhuma destas músicas me saí mal de acordo com a crítica, justamente por ter colocado nelas a minha ‘roupagem’ musical”.
Esta forma de estar na música vai ter continuação no próximo álbum em preparação, onde – pela primeira vez – o nosso entrevistado irá apresentar uma composição da sua autoria, intitulada de “Sobrevivente”.
“Vou editar ainda este ano um EP/CD de nome ‘Sobrevivente’, a primeira letra para música que faço em toda a minha vida. Foi musicada por Maruka Tavares, um grande compositor mas também um dos responsáveis pela minha entrada na escrita de letras musicais. Ele e a minha sobrinha Krys desafiaram-me e quase me obrigaram a escrever”.
Homenagem a Antero Simas
“Sobrevivente” terá um valor especial, tendo em conta que se trata de uma homenagem a Antero Simas.
“Antero Simas, para mim, é uma das melhores pessoas e um dos melhores compositores de sempre que este país pariu. Antero é uma dádiva de Deus”, profere Nhonhô, recordando dos cuidados que esse bom amigo lhe prestou durante os primeiros momentos nos EUA.
“Além do seu humanismo, Antero era uma pessoa afável. É das pessoas que mais me ajudou desde que cheguei aos EUA. Ele doente, se preocupava comigo e me receitava vários medicamentos na área de ‘ramedi di terra’, por isso eu o considerava como o meu segundo médico”.
Com a morte física de Antero Simas, Nhonhô Hopffer Almada decidiu que o seu novo EP/CD de nome “Sobrevivente” será uma homenagem a este compositor cabo-verdiano. “Eu o admirava como pessoa e como compositor e penso que todos os músicos participantes do EP/CD concordarão com esta homenagem”.