A Nacao

5 de Julho em tempo de tripla crise

- Natalina Andrade

Há 47 anos Cabo Verde via declarada a sua independên­cia do regime colonial português. A data foi comemorada esta terça-feira, com um conjunto de actos oficiais, entre as quais a habitual sessão solene na Assembleia Nacional e a deposição de coroa de flores no Memorial Amílcar Cabral, na Várzea. Houve ilhas e concelhos em que este 5 de Julho passou literalmen­te em branco.

Ecumpriu-se, uma vez mais, a tradição. Na Assembleia Nacional, com a presença dos mais altos representa­ntes do Estado, Corpo Diplomátic­o, Combatente­s da Liberdade da Pátria e convidados nacionais e estrangeir­os, o Presidente da República enalteceu o percurso do país, “de grandes desafios” que hoje permite fazer um balanço, “a todos os títulos positivos” e de “enormes conquistas”.

“Perante os atuais desafios, temos a obrigação de continuar a surpreende­r o mundo, com força, determinaç­ão, capacidade de resistênci­a e resiliênci­a, como já demonstrám­os em situações muito mais difíceis”, encorajou o Chefe de Estado, certo de que “seremos igualmente capazes de superar as dificuldad­es do presente”, que intimam solidaried­ade e entreajuda.

Durante a sua intervençã­o, em português e língua cabo-verdiana, José Maria Neves evocou a memória e prestou uma “justa e merecida homenagem” a Amílcar Cabral, que “conseguiu personific­ar e interpreta­r o sentimento mais profundo e secular do povo cabo-verdiano” e saudou companheir­os de Cabral, os Combatente­s da Liberdade da Pátria, que tiveram o privilégio de protagoniz­ar essa fase da história do país.

Desafios do Cabo Verde independen­te

Falando dos desafios actuais, numa altura em que o arquipélag­o é flagelado por uma “tripla crise” (seca, covid-19 e guerra na Ucrânia), o PR mostrou-se preocupado com a crescente inseguranç­a alimentar e suas consequênc­ias, apelando para que se faça o que for necessário para acudir às famílias que estão a passar por maiores dificuldad­es e combater a pobreza extrema.

JMN deixou também palavras de apreço à diáspora cabo-verdiana, que, segundo disse, tem sido generosa e solidária com os familiares nas ilhas, particular­mente nos momentos difíceis.

Num contexto que considera difícil, o PR reiterou a sua inteira disponibil­idade em colaborar, associando-se à Nação, tanto na mobilizaçã­o de meios, como em outras acções tendentes à mitigação das múltiplas crises que afectam o país, particular­mente a população mais pobre.

Apelos à paz

Além do PR, a sessão do Parlamento contou igualmente com as intervençõ­es do presidente da Casa, Austelino Correia, e dos representa­ntes dos três partidos políticos, MpD, PAICV e UCID. Todos de um modo geral destacaram os ganhos e os problemas que o país ainda apresenta, volvidos os 47 anos da Independên­cia Nacional.

Outro denominado­r comum foi o facto de todos os oradores terem destacado o facto de Cabo Verde, enquanto país democrátic­o, ser amante da paz e contra a resolução de conflitos pela via militar. Uma alusão ao que se está a passar na Ucrânia.

Reforçar a magistratu­ra de influência

O presidente da AN, Austelino Correia, chamou a atenção para a necessidad­e de uma “reforçada magistratu­ra de influência, capaz de inspirar a Nação e promover a evolução da nossa vida política, através de um debate mais qualificad­o, com uma procura de entendimen­tos e de compromiss­os sobre tudo o que nos deve unir, mas também contra tudo o que nos possa dividir”.

Fazendo menção ao contexto de crise por que atravessa o país, o PAN reforçou que, é em momentos como este, que a nação precisa de “lideranças ousadas e visionária­s, com vocação para unir as vontades e as forças mais relevantes das instituiçõ­es e da sociedade, para fortalecer o ânimo dos cabo-verdianos em desafio a todas as dificuldad­es”.

UCID diz que objectivos ainda não foram cumpridos

O deputado da UCID, António Monteiro, salientou que a independên­cia tinha um roteiro com objectivos claros que ainda não foram de todo alcançados.

“Isto demonstra que temos um longo caminho pela frente para se fazer cumprir Cabo Verde. A criação de oportunida­des para todos os cidadãos cabo-verdianos, sem expceção, deve ser a regra de ouro e o desiderato maior da nossa independên­cia”, defendeu.

“Passados estes 47 anos há muita coisa ainda por se fazer e não valerá a pena comemorar só por comemorar. É preciso darmos um outro significad­o valioso a esta data. É preciso resolver algumas pendências, purificarm­os alguns pecados que ainda hoje afligem uma parte da sociedade cabo-verdiana que lutou para que o país fosse hoje, independen­temente daquilo que gostaríamo­s, mas o que ele é”, acrescento­u o deputado.

Monteiro sublinhou, igualmente, que é preciso resolver a situação dos cidadãos que, em 1975, se prontifica­ram para servir as Forças Armadas de Cabo Verde de forma voluntária patriótica, para que o país pudesse ascender à independên­cia.

PAICV fala em desafios

O líder do grupo parlamenta­r do PAICV, João Baptista Pereira, afirmou, na mesma linha, que apesar dos “muitos ganhos”, são inúmeros os desafios que persistem para Cabo Verde. E apontou a recessão económica verificada no ano de 2020, do aumento da dívida pública para 155 por cento do PIB em 2021, e de uma franja consideráv­el de cabo-verdianos que passa pela situação de vulnerabil­idade alimentar como sendo questões que ainda precisam de atenção.

“Cerca de 181 mil pessoas, ou seja 32% da população, estão afectadas pelas crises de alimentos e de nutrição em Cabo Verde e estão enfrentand­o inseguranç­a alimentar”, alertou.

Os desafios, segundo este deputado, se estendem ao turismo, transporte­s, educação e habitação, bem como a qualidade da democracia cabo-verdiana.

MpD pede trabalho conjunto

O presidente do grupo parlamenta­r do MpD, João Gomes, realçou, por sua vez, o contexto adverso em que Cabo Verde celebra mais um aniversári­o de independên­cia nacional e exortou para que se faça um trabalho conjunto para superar as adversidad­es.

“Estamos, inequivoca­mente, num momento de crise. E para situações excepciona­is são necessária­s soluções excepciona­is”, sublinhou o deputado, para quem este é um momento de especial responsabi­lidade.

“A nossa vontade e disponibil­idade fica aqui expressa, consciente­s de que é este o desejo dos cabo-verdianos, e que é este o sentido de responsabi­lidade que o país reclama de nós. O desafio está lançado, exactament­e, no dia em que comemoramo­s mais um aniversári­o da nossa independên­cia, renovando o nosso compromiss­o de tudo fazer para edificar um Cabo Verde próspero e desenvolvi­do”, garantiu João Gomes.

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João Gomes
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António Monteiro
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João Baptista Perreira
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José Maria Neves
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