Quem mandou arrestar o Boeing da Icelandair? ASA ou Governo?
Com o desfecho do caso relacionado com o arresto do Boeing 757-200 D4-CCG “Baía de Tarrafal”, imobilizado há mais de um ano no Aeroporto da ilha do Sal, as autoridades cabo-verdianas estão a tentar passar a ideia de que o processo foi movido pela ASA. Nada mais falso! A ordem foi emitida pelo próprio Governo e a empresa que gere os aeroportos do país foi um mero instrumento utilizado pelo executivo nesse processo.
O ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, disse, na anterior edição deste Jornal, que a acção interposta junto da Comarca do Sal “não é uma acção do Governo, é da ASA”. Explicou ainda que pelo facto de a TACV passar a ser detida em 90 por cento (%) pelo Estado, “os fundamentos que a ASA tinha no início para pedir o arresto foram desaparecendo”, porquanto, “na altura, como a empresa era detida pelos islandeses, pediram o arresto por causa das dívidas”.
Mas, ao que tudo indica, essa informação não corresponde à verdade. Conforme um e-mail a que A NAÇÃO teve acesso, o referido processo foi interposto pelo Governo e não pela ASA.
Um e-mail da advogada e consultora Eva Marques endereçado, no dia 18 de Junho de 2021, ao administrador da ASA, Moisés Monteiro, e com conhecimento de Jorge Benchimol Duarte (PCA da ASA), Nuno Santos (administrador da ASA), Carlos Santos (ministro do Turismo e Transportes) e de Sandeney Fernandes (coordenador da UASE) é claro:
“Incumbiu-me o Governo de Informar a ASA que o Governo se encontra tramitando um pedido de arresto da aeronave D4-CCG, operacionalizada pela TACV/CVA. Uma vez que o avião se encontra junto aos vossos aeroportos para partida para Portugal, e tendo em conta o risco iminente de dissipação de crédito e dos privilégios creditórios acoplados a aeronave, solicitam-se os bons ofícios no sentido de serem observadas as providências necessárias e consentâneas com o processo de arresto em andamento”.
A ASA, por seu lado, que deveria manter uma postura de isenção no conflito, acabou por entrar no jogo do gato e do rato com a administração da TACV liderada, na altura, pelos islandeses, impedindo o voo de retoma dessa companhia aérea depois de quase dois anos de paralisação por causa da pandemia da covid-19.
Agora, com a resolução do caso, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse na semana passada que o acordo com a Icelandair para liberalização do avião arrestado foi “vantajoso” para o país. Não disse, todavia, como é que ficou a situação de “risco iminente de dissipação de crédito e dos privilégios creditórios acoplados a aeronave”, descrito no referido e-mail e nem disse o que o Estado desembolsou um milhão de euros a favor dos islandeses.
De resto, confirma-se, uma vez mais, que a Icelandair voltou a lucrar com a sua passagem por Cabo Verde, encaixando largos milhões de dólares, numa “parceria”, que de parceria apenas teve o nome.
Com efeito, além dos avales e outros custos, os cabo-verdianos talvez um dia venham a saber, na plenitude, o quanto custou realmente o negócio com a Loftleidir Icelandic. DA