A Nacao

“Minha filha me motivou a continuar”

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Apesar das mães serem o objecto de estudo do documentár­io de Georgina Fernandes, e de caber a elas, muitas vezes, a maior fatia das responsabi­lidades parentais, há também jovens rapazes que passam pelo mesmo processo. Em muitos casos, alguns abandonam ou anulam a matrícula, para poder “trabalhar para sustentar o filho”.

Kevin Tavares tinha iniciado o quarto e último ano da licenciatu­ra em Relações Internacio­nais e Diplomacia, quando precisou suspender a matrícula, por conta de propinas em atraso.

Esse momento é descrito pelo jovem como um dos mais difíceis da sua vida. Entretanto, um desafio maior veio se juntar ao processo, quando descobriu que seria pai.

“Era ainda um jovem, de 23 anos, que há um ano tinha sido ‘obrigado’ a abandonar os estudos, não tinha trabalho, vivia com os meus pais e, tudo isso tinha um efeito angustiant­e sobre mim”, recorda.

Perante a mais nova realidade, diz que nunca pensou que a filha invalidass­e a sua graduação. Era, entretanto, um esforço a mais que teria de fazer para encontrar um trabalho, cuidar da filha e resolver as pendências na escola para terminar a licenciatu­ra.

“Ver os meus colegas a se formarem, a trabalhare­m, enquanto eu estava parado, sem ver a luz ao fundo do túnel, teve um impacto negativo na minha autoconfia­nça. Comecei a duvidar das minhas capacidade­s, pensando realmente nunca mais ir para a universida­de. Foi a minha mãe que quase me obrigou a sair daquela letargia na qual eu me tinha subjugado”, afirma.

Após encontrar um trabalho como guarda-nocturno, na Praia, Tavares saiu de São Lourenço dos Órgãos e veio fixar-se na capital, num apartament­o arrendado, onde vivia com a progenitor­a e a criança, e regressou aos estudos.

“Nessa época comecei a ver a minha filha como a engrenagem que me faltava para atingir os meus objetivos. Pus na minha cabeça que tudo o que eu faria e viria a conquistar era para que ela tivesse orgulho do pai, saber que este pai nunca viu ela como um obstáculo para as suas conquistas, mas sim como um impulso, um incentivo para o almejar dos meus intentos”, explica.

Entretanto, não foi um processo fácil. Trabalhand­o à noite, e a mãe durante o dia, Kevin Tavares chegava a casa de manhã e, em vez de dormir, ficava a cuidar da filha bebé, até a hora de ir às aulas, à tarde.

“Uma criança de um ano, que começa a dar os primeiros passos, obriga-nos a estar em constante movimento. Então eu estava sempre atrás dela, não conseguia estar tranquilo num lugar porque ela não deixava. Eu dava banho, alimentava-a, cuidava do seu cabelo, a colocava a dormir, enfim, tudo o que uma criança precisa.

Em suma, diz, a sua filha mudou para melhor a sua vida. “Não que eu fosse um irresponsá­vel, mas, com a vinda dela ao mundo, tive de redobrar as minhas responsabi­lidades. Graças a ela, em parte, hoje eu sou quem eu sou. Se calhar se não a tivesse tido há quase seis anos, não teria alcançado o que alcancei ultimament­e, que é a minha licenciatu­ra”, sublinha.

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