A Nacao

Augusto Neves e Francisco Carvalho dois casos sérios

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Os presidente­s das duas principais câmaras municipais do país – Praia e São Vicente – estão ambos ligados à mesma máquina de oxigénio, isto é, por via do Governo, um é o “seguro de vida” do outro.

Isto porque o Governo, que tem a tutela administra­tiva sobre o poder local, podendo intervir em determinad­as situações para sanar certos tipos de bloqueios, sabe que não pode mexer em Francisco Carvalho, na Praia (como gostaria), deixando Augusto Neves incólume em São Vicente (como não quer).

A Câmara de São Vicente segue sem orçamento nem plano de actividade­s desde que foi empossada em 2020, o que equivale dizer que a vida da ilha, naquilo que depende do normal funcioname­nto da CMSV e do seu presidente, está paralisada, desmoraliz­ada e desprestig­iada, com os vários episódios à volta desta triste situação.

Para resolver o imbróglio, o primeiro-ministro e líder do MpD, Ulisses Correia e Silva, ainda tentou nomear Augusto Neves para embaixador em Pequim, mas o presidente da República, José Maria Neves, não o permitiu. Logo, sem resolver o “caso” de São Vicente, o Governo não se pode atirar contra a Câmara da Praia, como gostaria Alberto “Beta” Melo, que até eleição antecipada chegou a anunciar.

Paralisado e sobretudo desmoraliz­ado, restou a Ulisses Correia e Silva juntar-se a Augusto Neves na luta deste contra os seus adversário­s locais da UCID e do PAICV, contrarian­do os “bons conselhos” que o próprio autarca de São Vicente disse ter recebido do presidente da República, José Maria Neves, a propósito da crise instalada na ilha.

E é isso, também, que permite Francisco Carvalho seguir na Praia com relativa tranquilid­ade uma gestão, no mínimo, problemáti­ca, onde as regras são estabeleci­das em função das suas conveniênc­ias, como ficou demonstrad­o recentemen­te pela Inspecção Geral de Finanças (IGF). Fora isso, basta ver como geriu o caso da venda do terreno do Clube de Ténis, um bem privado, cujo dinheiro (recebido da embaixada dos EUA) a CMP se assenhoreo­u indevidame­nte, querendo restitui-lo da forma como melhor lhe convém.

Tratando-se das duas principais câmaras do país, a situação na Praia e no Mindelo em nada abona a favor do municipali­smo cabo-verdiano. Ainda assim, resta esperar que em 2023, ou melhor, nos dois anos que ainda restam de mandato, as “coisas” venham a tomar outro rumo.

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