No centenário da sua morte Loff de Vasconcelos ganha “obra quase completa”
Luís Loff de Vasconcelos, patrono dos jornalistas cabo-verdianos, paladino do desenvolvimento de Cabo Verde no seu tempo (1861-1923), passa a ter os seus textos compilados em livro. Trata-se, ainda, do primeiro de três volumes, conforme o projecto de Larissa Rodrigues e do jornal e editora Artiletra.
Oprimeiro volume de “Obra quase Completa”, de Luís Loff de Vasconcelos, organizado por Larissa Rodrigues, foi lançado no ano passado em São Vicente, mas apenas agora chega à cidade da Praia, estando o lançamento agendado para logo mais, às 18h15, no edifício da Câmara Municipal da Praia. A apresentação estará a cargo de Vera Duarte e Eurídice Monteiro.
Até aqui, os textos de Loff de Vasconcelos estavam dispersos, apenas localizado numa ou outra biblioteca, sendo por isso conhecidos apenas por um grupo restrito de investigadores e interessados na história dessa figura impar de Cabo Verde.
Além-fronteiras
Nascido na ilha do Maio, em 1861, com vivência em Santiago, São Nicolau, Brava e São Vicente, além de Lisboa e Paris, onde fez a sua formação superior, Loff de Vasconcelos foi advogado, jornalista, professor e comerciante.
Além de Cabo Verde, a sua presença como advogado estendeu-se à Guiné Portuguesa (hoje Guiné Bissau), aqui, para a defesa de um grupo de cidadãos desse território contra as tropelias do capitão João Teixeira Pinto, nos primeiros anos do século XX.
De Loff Vasconcelos são, sobretudo, as denúncias contra a fome de 1900, na imprensa portuguesa, altura em que acusou a então Coroa lusitana de pretender o “extermínio” dos cabo-verdianos pela fome. Uma denúncia reforçada, em 1904, pelo historiador Cristiano de Sena Barcelos.
Acima de tudo, ao fundar a Revista Cabo Verde, em 1899, em São Vicente, Loff de Vasconcelos abriu o caminho a vários intelectuais e publicistas, como se dizia então, de José Lopes a Viriato Gomes da Fonseca, passando por Eugénio Tavares (que o considerava seu mestre), entre vários outros.
Polemista temido
Dono de uma escrita enérgica, com passagem por vários periódicos em Cabo Verde e em Portugal, Loff de Vasconcelos protagonizou vários embates políticos, tendo quase sempre como motivo a defesa dos interesses da então colónia portuguesa de Cabo Verde, e de São Vicente em particular. Morreu a 19 de Março de 1923, aos 62 anos, deixando um legado apreciável, que incluiu a sua passagem pela Câmara Municipal de São Vicente.
Apesar dessa relevância, o seu nome foi caindo no esquecimento, destino de vários outros dos seus contemporâneos. Apenas recentemente o seu nome começou a ser resgatado, por historiadores e investigadores, mas também pelo Artiletra, daí – sem sombra de qualquer dúvida – a importância desta “Obra quase Completa”, volume I, onde estão reúne textos/opúsculos ou intervenções como “A perdição da pátria” (1900), “O extermínio de Cabo Verde, Pavorosas revelações” (1903), a questão dos presos da Guiné, entre outros.
Centenário
Ainda no mesmo quadro, de recolocar Luís Loff de Vasconcelos na galeria das personalidades cabo-verdianas, em 2015, uma resolução do Governo (de José Maria Neves) instituiu o 5 de Janeiro, dia do nascimento desse nosso antepassado, como o Dia Nacional do Jornalista Cabo-verdiano.
A par disso, e agora graças à publicação do primeiro volume dos seus escritos, “Obra quase Completa”, o centenário da morte deste que pode ser considerado o primeiro intelectual moderno cabo-verdiano, que se cumpriu no passado dia 19 deste mês, não passará em branco neste ano de 2023.