Nota de abertura
Sete anos após o Massacre do Monte Tchota, que culminou com a morte de onze pessoas, em Abril de 2016, as Forças Armadas voltam a passar por uma tragédia, que tão cedo não será esquecida.
Desta feita, na sequência do incêndio da Serra Malagueta, deflagrado no último fim de semana, temos um saldo de oito jovens militares que perderam a vida num acidente de viação e um civil quando tentava combater as chamas, no domingo, 2. Sem dúvida, como disse esta semana o bispo do Mindelo, Dom Ildo Fortes, são muitas mortes de miliatres, para um país que não está em guerra.
Esta é uma tragédia que chocou a sociedade e que veio pôr a nu as fragilidades públicas no combate a incêndios, desta natureza. A existência de perímetros florestais e os cuidados a ter para a sua manutenção constituem, cada vez mais, focos de preocupação diante dos incêndios que começam a ser recorrentes entre nós. Santo Antão, Fogo e agora Santiago são exemplos recentes que falam por si, em matéria de cuidados a ter num país montanhoso, sem meios terrestres e aéreos, mas também humanos, para enfrentar situações do género.
Neste momento de dor e pesar, com os corpos das vítimas dados à terra, com o Governo assumir que não deixará as famílias dos sinistrados desprovidas, há contudo responsabilidades a apurar e, porque não, também, a assacar.
Manda o bom-senso aguardar, serenamente, pelos resultados das investigações já prometidas pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, António Duarte Monteiro, sendo certo, também, que alguns dos sinais já vindos a público são à partida preocupantes.
O amadorismo no combate aos fogos, os equipamentos ao dispor, entre outras razões, constituem elementos a ter em devida conta na hora de se apurar a verdade. Nisso, importa responder se jovens recrutas estão em condições de enfrentar e assumir o combate a incêndios florestais como os da Serra Malagueta? Se a viatura que transportava 31 jovens sinistrados era a mais adequada, se estava em condições para esse tipo de operações? Se ter bombeiros a combater fogos apenas com base em bolachas e leite, como revelou ontem o comandado dos Bombeiros da Praia, Carlos Teixeira, é admissível?
Estas são questões que passado o momento da dor importa esclarecer, independentemente das leituras – legitimas – que qualquer Governo, ou Estado, tem de ser confrontado pela oposição e pela sociedade civil. Não fazê-lo é não encarar a realidade e a verdade.