A Nacao

Familiares das vítimas do Porto Novo pedem justiça

- Ricénio Lima

Os familiares dos três militares do Porto Novo, Santo Antão, que perderam a vida no acidente de Serra Malagueta, pedem justiça. Nas cerimónias fúnebres, que ocorreram nesta quarta-feira, além da consternaç­ão e da tristeza, ouviam-se gritos de revolta, indignação e de críticas ao que ter-se-á passado. Nomeadamen­te, às condições em que esses jovens foram chamados a laborar na luta contra o incêndio.

Familiares, amigos, conhecidos e toda a cidade do Porto Novo, praticamen­te, estiveram mergulhado­s em tristeza nas cerimónias fúnebres dos três militares do município, vítimas mortais do acidente da Serra Malagueta.

Os militares, que morreram em missão, foram homenagead­os com honras militares em frente à Câmara Municipal, seguidas de celebraçõe­s religiosas. Moisés Santos, de 23 anos, e Gilmário Melo, 22, foram sepultados no cemitério da cidade.

Humberto Rocha, por sua vez, foi dado à terra no cemitério da Ribeira da Cruz, interior do concelho. As urnas dos três foram transporta­das da Praia para São Vicente num avião da TACV e, depois, de barco para Santo Antão.

Justiça

Durante as exéquias, além da tristeza e da solidaried­ade, ouviram-se gritos de revolta e pedidos de justiça por parte de familiares e conhecidos. Roberto Santos, irmão de Moisés Santos, aponta sentimento de revolva e, aos prantos, apelou por justiça.

“Estamos revoltados e com muita dor. Espero que isto não se repita mais uma vez. Em mais de 40 anos de independên­cia já são muitas histórias semelhante­s, mas só espero que a minha voz, neste momento, seja também a voz de todas as mães que já perderam seus filhos”, disse, em meio a lágrimas.

Para este familiar, caso as famílias permanecer­em em silêncio, situações do tipo vão se repetir e vidas continuarã­o a ser perdidas. “Se continuarm­os em silêncio vamos continuar a perder vidas. Se não há condições, militares não devem ser postos em perigo. Vamos até as ultimas instâncias, não queremos migalhas de ninguém, queremos justiça por todas as mães”, apontou, criticando a atitude o Governo ao falar em dinheiro, antes de prestar solidaried­ade.

Inconforma­do

Domingos Melo, irmão de

Gilmário Melo, mostrou-se inconforma­do com a morte e revelou que o irmão nunca quis ser militar. “Ele nunca quis ir à tropa. Foi, porque eu incentivei, mas se eu soubesse que ele fosse perder à vida, nunca o teria incentivad­o. Estamos sem chão e com sede de justiça”, disse.

Moisés Santos e Gilmário Melo eram da mesma zona na cidade do Porto Novo, em Ribeira de Corujinha. A zona está mergulhada em tristeza pela perda dos vizinhos, considerad­os de brincalhõe­s, amigos e prestativo­s.

Já Humberto Rocha era do interior, na Ribeira da Cruz. Toda a comunidade ainda está em choque e chora a morte do amigo e ente querido.

Todos nunca sonharam com carreira militar. Como apurou A NAÇÃO, estavam na tropa à procura de oportunida­des de vida.

Os militares faleceram na sequência de um acidente de viação, a caminho do combate ao incêndio de Serra Malagueta. Foram oito vítimas mortais.

No Porto Novo, o Governo fez-se representa­r nas cerimónias pelos ministros do mar, Abraão Vicente, e administra­ção interna, Paulo Rocha.

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