Nelson Dias, um tamboreiro que já prepara o sucessor
Nelson Dias Naquice pertence a uma outra geração dos tamboreiros da ilha do Fogo que tem seguindo os passos dos seus conterrâneos e mestres. Segundo conta, abraçou a tradição quando tinha cerca de 10 anos.
Hoje com 30 anos, Nelson continua firme, tirando o máximo de proveito junto do seu tio Vladimiro e da mãe Budjodja. “Há mais de 20 anos que estou nisso e considero que ser tamboreiro é uma coisa de família”, afirma.
Antes de fazer parte do grupo de tamboreiros de Nhô São Filipe, Nelson esteve em outras festas, nomeadamente São João, São Pedro, São João Baptista e outros santos padroeiros, conta, referindo que já esteve também em outras ilhas. Como diz, “tocar nas festas de Nhô São Filipe é diferente de tocar em outras festas”.
Aqui, sublinha, “é uma festa em um outro patamar que eu sinto orgulho de fazer parte, enquanto tamboreiro. Tem mais gente e mais movimentação e o convívio entre nós as pessoas do grupo é uma coisa gratificante”.
“Vontade não falta”
É essa a satisfação que Nelson quer passar ao seu filho de 16 anos que também já mostra interesse em ser tamboreiro. “O meu tio ensinou-me e eu também quero ensinar ao meu filho para não deixar morrer a tradição”, conta, reconhecendo que pertencer a este mundo, hoje-em-dia, não é a mesma coisa que antigamente.
“No tempo do meu tio, a vida deles era tocar e estavam sempre disponíveis. Nós, os mais jovens, além de tocar, temos outros trabalhos, portanto não conseguimos dedicar tempo inteiro. Mas quando chega o tempo das festas estamos entregues inteiramente, de corpo e alma”, explica.
Para mostrar que estão a assumir o compromisso de não deixar perder a bandeira, o nosso entrevistado garante que os tamboreiros mais jovens sentem na veia o rufar dos tambores, num ritmo mais quente.
“Quando tocamos entre nós, os mais jovens, esquentamos um pouco e isso desperta interesse de outros jovens, mostrando que a diversão mora aqui também”, avança.
A preparar o sucessor
É esta vontade, amor e dedicação que quer também ver no seu sucessor. Aliás, conta que o seu filho já lhe substituiu em alguns momentos.
“Sou barbeiro e normalmente na época festiva temos muito mais movimentação e não consigo fechar as portas para estar em todas as cerimónias enquanto tamboreiro. Em alguns desses momentos, ele me representa orgulhosamente”, refere.
E, sendo assim, Nelson acredita que a tradição de tamboreiro manter-se-á viva por muito e muito tempo, ao contrário de coladeiras, concordando com o que disse Vladimiro e Budjodja: “Realmente as meninas hoje em dia não querem colar. Só querem estar nas festas e convivências mais modernas”, lamenta.