A Nacao

Goy Cardoso, da prisão para as câmaras

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Aprimeira vez que pegou numa câmara, soube logo que ali estava o seu futuro. Em 2015, Goy era artista, estava a fazer o seu primeiro videoclip, tal como sonhara quando cumpria pena na cadeia de São Martinho. Nos cinco anos e 10 meses que ali passou, idealizou uma outra vida para si, longe do crime, uma carreira nos palcos e também a gravar músicas de outros artistas cabo-verdianos. Mas nunca pensou em trocar o canto pela câmara. Tudo lhe chegou de repente. «Nesse dia, com aquela câmara na mão, senti um amor à primeira vista.»

Mas adquirir o material não foi nada fácil. «A minha primeira câmara custou-me 30 contos, fiado, dei 15 e depois fiquei a dar aos poucos, até que ganhei 10 contos com o primeiro spot que fiz, numa “summerset fest”. Fiquei muito, muito contente.» Mas, para um ex-presidiári­o colocavam-se outras barreiras.

«Fui furando muitos buracos, muitos obstáculos, quase a desanimar, deitado na cama a pensar na vida, a pedir a Deus uma ajuda, mas eu sabia que Ele ia dar essa mão, até que encontrei a chave de uma porta, com os primeiros vídeos que consegui fazer do MC Tranka Fulha e comecei a criar o meu nome no mercado», conta.

Mas Goy ainda só tinha uma câmara e nem editava o seu material; recorria a outros profission­ais no mercado para esse trabalho. «Filmava e tinha de trabalhar de barbeiro para conseguir juntar dinheiro para adquirir outra câmara por 120 contos, em segunda mão.»

Como na maioria dos casos, Goy também é autodidata. Teve de estudar os vídeos tutoriais do Youtube, onde aprendeu a mexer com o pouco equipament­o que tinha, e a dar os primeiros passos na edição e outras técnicas. A manutenção do equipament­o passou também a ser feita por ele. Muitas vezes era a única forma para resolver os problemas imediatos de consertos e das avarias. «Aprendi sozinho a consertar os meus computador­es, a mexer com software, nas aplicações, com o meu drone, etc.»

Pagar a outros para editar, afirma, não dava, levava-lhe parte do dinheiro que conseguia. «Fui ganhando e pondo o dinheiro no banco, vivia com muito pouco. Deixei de ir à boite, de gastar com piquena, deixei de comprar sapatilha cara, roupa de marca, mudei o meu estilo de vida, só para poder cumprir o meu sonho.»

Encomendar o equipament­o do estrangeir­o é praticamen­te impensável, como explica. Os 30 por cento de IVA que tem de pagar impedem de tirar o material da alfândega. Por isso, aproveitou sempre todas as oportunida­des de amigos que vinham da Europa. Mas durante muito tempo, as pessoas continuava­m a não acreditar nele, como explica:

«Chamavam-me de ‘dodu’ e diziam que ia deitar dinheiro fora. Mas hoje sou bem-sucedido, tenho a minha casa nova, todo o equipament­o de que preciso, o material com que sempre sonhei.» Num mês mau, confessa que factura 120 contos, mas num bom mês de trabalho, «pode ir até aos 300…» O orgulho do estatuto alcançado sente-se na voz do profission­al conhecido no país e lá fora, pelos seus muitos trabalhos realizados.

Mas, Goy Cardoso não se fica apenas pelos videoclips. Presta também serviços de captação de imagem para diversas empresas públicas e privadas, mesmo para o governo, salienta, como o acompanham­ento de obras públicas, pelas ilhas. E do alto da sua experiênci­a e sucesso, deixa um conselho aos mais novos: «Esta pode ser uma saída profission­al para os jovens delinquent­es dos bairros, como eu fui um dia. Em vez de seguir o caminho de Thug, de crime e cadeia. Não é fácil, mas os jovens têm mais talento do que imaginam. Só precisam de

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Goy Cardoso
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