Fundos e financiamentos
Ogrande desafio dos produtores e realizadores cabo-verdianos é chegar aos fundos. Se antes era o cabo dos trabalhos, hoje o processo é mais fácil. «Há mais conhecimento e mais ousadia», diz Samira Vera-Cruz, mesmo quando se sentem, aqui na sub-região, como «lusófonos a boiar num mar de francófonos.»
Para além dos fundos disponibilizados na região africana e no âmbito da CPLP, existem também os do PNUD, da África do Sul, do próprio Brasil, que voltou a financiar projectos de cinema no âmbito da língua portuguesa; fundos europeus: portugueses, belgas, holandeses, franceses, assim como os nacionais - uma novidade recente, através do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas (MCIC).
«Se me pergunta se o cinema, em Cabo Verde, hoje, está como ontem, digo-lhe claro que não», começa por responder Julião Silvão, presidente da Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde (ACACV). A primeira preocupação foi preencher o vazio legal que existia no sector.
«As pessoas, os produtores internacionais, chegavam aqui para filmar e não havia regulamentação nenhuma, quando outros países já tinham dado passos nesse sentido.» Por outro lado, sem regulamentação nem entidade interlocutora, as instituições europeias que financiam projectos, não tinham a quem entregar os fundos. «Estávamos a perder o comboio, a ficar para trás, a perder apoios, não havia em Cabo Verde quem os distribuísse. França, Portugal, Luxemburgo queriam estabelecer acordos connosco.» Em 2020, o projecto da ACACV, para regulamentar o sector, foi acolhido e aperfeiçoado pelo MCIC e depois aprovado, por unanimidade, na AN, dando lugar à Lei do Cinema.
A experiência recente da produtora Korikaxoru, de Yuri Ceunink e Natasha Craveiro, na preparação do filme The Master’s Plan, é elucidativa: «Andámos à procura de fundos, sem muitas referências, fizemos várias candidaturas, mas com muitas lacunas na preparação do projecto. Houve uma abertura quando foi selecionado pelo fundo Hot Docs, do Canadá, para desenvolvermos o projecto.» Com os meios mínimos, conta Yuri, o projecto foi selecionado e viajou para Durban Film Mart, na África do Sul, para MiradasDoc Market, nas ilhas Canárias (2018), para o AfricaDoc, no Senegal (2016), onde ele próprio assistiu a workshops de elaboração de projectos e teve formação na área.
Mas o esforço e a estreita margem na porta aberta, apesar da forte concorrência, acabou por dar frutos. «Eram 117 projectos, no total, e apenas cinco do continente africano foram escolhidos: dois da África do Sul, um do Quénia, um de Marrocos e um de Cabo Verde. Na verdade, era a primeira vez que recebiam uma candidatura de Cabo Verde.» Escrever uma boa história não chega, afirma. Como também não chega ter um bom projecto na cabeça. Tem de ter a mesma força no papel.
Para o filme Omi Nobu, premiado no FESPACO, no Burkina Faso, puderam contar com fundos da Jeune Creation Francophone, Wordl Cinema Fund, um dos mais importantes da Alemanha, da Berlinale, o fundo regional belga Federation Valonie Bruxelles e Doca, do Quénia.