Os primeiros filmes cabo-verdianos
O Guarda Vingador e Segredo dum Coração Culpado (drama passional, tendo como protagonista principal António Puntchinha e como heroína, Anita Tedd), são as primeiras ficções produzidas em Cabo Verde, nos anos 50 do século XX, a que se junta A Vingança do Cavaleiro Mascarado. A autoria dos dois westerns é de Henrique Pereira, português, que antes passara pelo Brasil. Teve como produtor, Luís Morazzo, no som Zito Azevedo, e a participação dos actores, Aguinaldo Wahnon, Eduardo Ribeiro, Daniel Leite e Mariazinha Cohen.
Rodados na Ribeira de Vinha, em São Vicente, têm ainda como protagonistas Dante Mariano (irmão do escritor Gabriel Mariano) e o cantor Djosinha, que interpreta a morna ‘Luiza’, de B. Leza. Uma das actrizes que participaram nos filmes foi a professora e escritora Hermínia Curado Ribeiro, na época ainda criança.
Mas aquele que é considerado o filme mais antigo, com as primeiras imagens que se conhecem, das ilhas, foi realizado em 1937, por Mário ‘Marty’ Rose, filho de cabo-verdianos e nascido na América. No documentário de 44 minutos, vemos desfilar a baía do Porto Grande, em São Vicente e a antiga Rua do Telégrafo, e ainda a demonstração de uma aula de ginástica por alunos do Liceu Infante D. Henrique. Mário seguiu depois viagem para São Nicolau, onde captou uma procissão ao Monte Sentinha. Aqui pode ver-se como os devotos sobem a encosta, sob um sol abrasador, guiados pelo padre.
As imagens que se seguem são cenas do quotidiano da Brava, começando pela baía de furna, depois os preparativos para uma cerimónia de casamento, com noivos montados a cavalo e um grupo de músicos a tocar pelas ruas de Nova Sintra. Estas imagens e o conhecimento que Mário Rose tinha das ilhas (onde deveria ser colocado), valeram-lhe o recrutamento pela OSS (futura CIA), logo que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra.
Mário foi enviado para Nova Iorque, onde aprendeu técnicas de espionagem e mensagens secretas em correspondência. A sua vida por si só daria um filme, como artilheiro de um avião B-17, atingido e capturado em solo alemão e a sua posterior libertação pelos Aliados. Um soldado cabo-verdiano que fintou a segregação racial e combateu integrado num contingente militar só para brancos.