A Nacao

Zelensky pede a JMN que ajude a influencia­r os pequenos estados insulares a favor da Ucrânia

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“Continuamo­s o nosso trabalho sistémico com a #GlobalSout­h [Sul Global]. Tive a primeira chamada telefónica da história das relações diplomátic­as com o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves”, escreveu o chefe de Estado ucraniano nas suas páginas oficiais nas redes sociais, logo após a conversa com o seu colega cabo-verdiano, na terça-feira.

Na mensagem, Zelensky disse ainda que agradeceu ao chefe de Estado cabo-verdiano pela “posição de liderança” de Cabo Verde no grupo dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvi­mento (SIDS, sigla inglesa) em apoio à soberania e integridad­e territoria­l da Ucrânia.

“Falei sobre a ‘Fórmula da Paz’ Ucraniana e ofereci a Cabo Verde para se juntar à sua implementa­ção. Discutimos o tema da segurança alimentar global, em particular a iniciativa humanitári­a”, terminou.

Pouco depois foi José Maria Neves a revelar, em directo, à Rádio de Cabo Verde (RCV) como decorreu o telefonema, inédito na história dos dois países, até aqui sem especial significad­o, tirando o facto de no passado, no quadro da antiga União Soviética, a Ucrânia ter contribuíd­o para a formação de quadros cabo-verdianos. Zelensky terminou convidando o seu interlocut­or a visitar a Ucrânia em data ainda a marcar.

Guerra

A invasão militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de Fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerad­a a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Tanto o Presidente da República, José Maria Neves, como o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, condenaram a invasão e pediram diálogo, e Cabo Verde foi um dos 141 países que em Março de 2022 votaram a favor de uma resolução das Nações Unidas a repudiar a ofensiva militar de Moscovo.

A cidade da Praia destoou em boa parte de vários outros países africanos que, sem esquecer o apoio soviético na luta contra o colonialis­mo, preferiram manter-se oficialmen­te neutrais, não condenando a Rússia pela invasão à Ucrânia. Entre os países que se recusaram a condenar Moscovo constam Angola, África do Sul e Moçambique.

Ao A NAÇÃO José Maria Neves admite que as várias intervençõ­es que andou a fazer, na semana, durante a sua visita de Estado ao Luxemburgo, sublinhand­o sempre a posição de Cabo Verde em prol da paz e da convivênci­a pacífica entre as nações, terão chegado ao conhecimen­to de Zelensky.

“Foi o gabinete dele a entrar em contacto connosco dizendo que o presidente da Ucrânia gostaria de falar com o presidente de Cabo Verde. Aceitamos e marcamos a hora e a conversa aconteceu”.

“Falamos, obviamente, dos problemas criados pela invasão russa à Ucrânia, sublinhand­o da nossa parte as nossas posições, enquanto pequeno Estado insular, amante da paz e do desenvolvi­mento, na linha do que defende o artigo 11º da nossa Constituiç­ão da República”, prosseguiu.

Ainda no quadro do conflito russo-ucraniano, JMN disse também que já tratou deste assunto, em mais de uma ocasião com o actual embaixador russo na Praia, Yuri Materiy.

“Pela primeira vez, em Fevereiro, quando ele apresentou as suas cartas credenciai­s no Mindelo. Ele apresentou-me as posições do país dele e eu falei-lhe das nossas. A nossa posição é muito clara: por mais graves que sejam os problemas nenhum país tem o direito de invadir o outro para impor a sua soberania”.

Rússia e Ucrânia em ofensiva africana

O diálogo entre José Maria Neves e Volodymyr Zelensky acontece numa altura em que Moscovo e Kiev têm em curso uma ofensiva no continente africano. Nos últimos dias, quer o ministro dos Negócios Estrangeir­os ucraniano, Dmytro Kuleba, quer o seu rival russo, Sergei Lavrov, estiveram em vários países para procurar atrair o continente africano para o seu lado.

Em Julho Moscovo anunciou a realização de uma cimeira económica Rússia-África, com promessas de um regresso em força ao continente. Essa poderá ser a altura de ver quem alinha ou não no projecto que Putin tem em carteira para o continente negro, depois de vários anos de ausência ditada pelo colapso soviético.

A África do Sul, membro do BRIC, anunciou, na terça-feira, que concede a imunidade diplomátic­a caso Vladimir Putin entenda ir à cimeira do grupo de países desse “bloco” político-económico, formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a ter lugar na Cidade do Cabo, de 22 a 24 Agosto. O presidente russo, como se sabe, é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI).

Em Março, Pretória havia convidado Putin para a cimeira de Agosto. No entanto, logo em seguida, o TPI, em Haia, emitiu uma ordem de prisão contra o presidente da Rússia. Esse tribunal internacio­nal alega que Putin é responsáve­l por crimes de guerra, incluindo a deportação ilegal de crianças da Ucrânia para a Rússia.

Supostamen­te, como membro do TPI, a África do Sul seria obrigada a cooperar na prisão de Putin, o que colocou o governo do presidente Cyril Ramaphosa em situação difícil.

À semelhança de outros países africanos com laços históricos com a antiga União Soviética, a África do Sul tenta manter uma posição de neutralida­de no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, insistindo no diálogo e na diplomacia, como meio de resolver o problema que os opõe.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu na terça-feira, o apoio de Cabo Verde à soberania e integridad­e territoria­l do seu país após a invasão da Rússia. A cidade da Praia passa, assim, a fazer parte do radar ucraniano numa altura em que Kiev e Moscovo disputam apoios em África. O convite a José Maria Neves para visitar Kiev ainda não tem data marcada.

A NAÇÃO e agências

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