A Nacao

O perigo à solta na Rua Flor di Brava

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O nome é dos mais bonitos da capital, mas a Rua Flor di Brava está encantador­a de dia e cada vez mais perigosa à noite. Que o diga o canadiano-cabo-verdiano, Jean Charles, dono da Casa JC, uma guesthouse, que nos últimos anos tem visto os seus hóspedes, turistas europeus, na maior parte, assaltados e agredidos, nas redondezas.

Oúltimo caso aconteceu na quinta-feira passada, pelas 20h30, quando Ephrem, o guarda senegalês, regressava com um saco com frango e foi vítima de assalto. Em casa, Jean Charles e outro amigo, Jacques Chopin, ouviram um tiro na rua. Abrindo a porta deram com o corpo de Ephrem caído no chão, já numa poça de sangue, que lhe saía de uma das pernas.

Três jovens tentaram assaltá-lo, pelo caminho. O guarda resistiu e envolveu-se numa luta, até que um deles sacou de uma arma e disparou, atingindo-lhe a perna. De imediato, foi levado por ambos para o Hospital Agostinho Neto, tendo sido operado e lhe retirado o projéctil.

De acordo com Jean Charles, a rua, sempre encantador­a, com as suas acácias rubras floas ridas, tornou-se muito perigosa nos últimos tempos, sobretudo depois que abriu também uma outra casa de hóspedes, ali mesmo em frente. «Isso levou a que os assaltante­s passassem a rondar a rua, de noite, em busca de vítimas, de turistas estrangeir­os.»

A proximidad­e do bairro do Cobom foi sempre problemáti­ca, desde o início, como lembra. «Mas, antigament­e eram só rapazinhos que subiam a vedação, roubavam a bicicleta do meu filho ou um grelhador; mas agora não, são mais velhos, e acontece quase sempre quando há festas, como o Festival da Gamboa, o período do Natal, etc. É quando precisam de dinheiro para a bebida e outras coisas.»

A presença de duas unidades hoteleiras é um atractivo cada vez maior para os assaltante­s. «A rua é escura, embora todas casas tenham guardas, estes não podem fazer nada, só os veem a passar, mais nada.»

O proprietár­io queixa-se da falta de policiamen­to, o que acha estranho, numa zona tida como da classe média alta da capital, onde residem figuras públicas importante­s, como o ex-primeiro-ministro, Carlos Veiga.

Turistas: dinheiro fácil

Já são vários os casos de turistas assaltados e agredidos, na Rua Flor di Brava, quando se dirigem ou regressam dos restaurant­es, ali perto. «Normalment­e, o nosso guarda acompanha-os, mas é impossível evitar todas estas situações, devia ser o policiamen­to.»

O fruto dos assaltos a turistas, acaba por circular entre os assaltante­s do Cobom ou Meio da Achada, e estes sabem que os roubos na Rua Flor di Brava compensam, largamente.

«Ainda a semana passada, saiu daqui um grupo de franceses, mais mulheres do que homens, para irem jantar e duas pessoas que ficaram para trás foram alvo de tentativa de assalto; um dos homens voltou para defendê-las e envolveu-se numa luta com um dos assaltante­s, com troca de socos; o assaltante pegou na sua bolsa, que tinha, entretanto, caído, e fugiu, levando 400 euros que estavam na carteira.»

Outro roubo, não há muito tempo, desta vez a vítima a ser um casal de alemães de meia idade, também rendeu aos meliantes uns módicos 500 euros…»

A técnica utilizada, diz Jean Charles, é os bandidos ficarem na paragem de autocarro, junto da rotunda das Nações Unidas, como se o aguardasse­m, mas é claro que é para disfarçar, enquanto espreitam possíveis vítimas.

Outra das pessoas que, com Jean Charles, socorreu o guarda Ephrem, Jacques Chopin (ambos com nacionalid­ade cabo-verdiana e vivendo há décadas na Praia), publicou um texto na sua página do FB denunciand­o a situação:

«Esses ataques sempre ocorrem no mesmo local, quase todas as semanas. Neste bairro, são principalm­ente os turistas de passagem que são as principais vítimas. Três semanas atrás, um homem foi esfaqueado na garganta e na semana passada um casal de idosos teve a sua bolsa roubada. É novidade para mim que conheço o país há cerca de trinta anos e nunca senti o mínimo medo. As autoridade­s devem reagir imperativa­mente. Está em jogo a imagem e a segurança dos seus habitantes.»

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Joaquim Arena
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