A Nacao

Financiame­nto do desenvolvi­mento sustentáve­l e a necessária cooperação fiscal

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A digitaliza­ção da economia, a inteligênc­ia artificial, bem como o objetivo de uma economia circular, azul e verde, com energias limpas, coloca um desafio estruturan­te ao país, num contexto geopolític­o difícil para um país dependente como o nosso.

É necessário potenciar um mercado de capitais onde pequenas e médias empresas, bem como os municípios, possam aceder a financiame­nto obrigacion­ista, de forma clara, simples e consistent­e, pois o modelo económico aliado a um modelo social e ambiental (ESG) que valoriza o ambiente, a coesão social e governação determinar­á o nosso sucesso.

Financiame­nto via Mercado de Capitais (BVC)

Consideran­do a nossa dimensão de mercado - ganhou-se um dos mercados de capitais mais avançados da sub-região e, por isso, torna-se imperioso a agilização e o fortalecim­ento da Bolsa de Valores de Cabo verde (BVC).

Com a ausência de um Sistema Financeiro robusto, onde se inclua um forte mercado de capitais, perderemos a capacidade da canalizaçã­o de financiame­nto daqueles que precisam dele para investir e consumir, por parte daqueles que são excedentár­ios (poupança).

Pode não parecer fácil de perceber, mas o excesso de dinheiro (poupança)-diferente de liquidez-, de uns, consegue chegar a quem tem deficiênci­a dele (agentes deficitári­os) através do sistema bancário ou do mercado de capitais.

Nesse âmbito, urge modernizar substancia­lmente o nosso mercado de capitais, o que pode explicar a escassez de capital das nossas empresas e famílias ou até municípios que são dependente­s do OE e do crédito bancário.

Em boa verdade, poucos ousam em desafiar os parceiros internacio­nais para a necessária mobilizaçã­o de financiame­nto.

Dinamizaçã­o da segmentaçã­o obrigacion­ista

Ademais, torna-se necessário criar um mercado de capitais dinâmico onde pequenas e médias empresas, bem como os municípios, possam aceder a financiame­nto obrigacion­ista, e onde o prémio de risco possa ser definido por uma agência de rating internacio­nal de caráter independen­te, mas credível.

O acesso ao mercado obrigacion­ista ainda se torna mais importante na emissão dos denominado­s blue bonds e green bonds, obrigações que permitem o financiame­nto de projetos azuis e verdes, e que podem ser cruciais no processo de descarboni­zação, e com a evidência de contribuir para o desenvolvi­mento do país.

Como se observou, o défice comercial agrícola de África piorou em 2022, e regressou ao nível de 2015, ultrapassa­ndo os 36 mil milhões de euros, e o número de pessoas a sofrer fome ou desnutriçã­o subiu para 256 milhões.

África tem dificuldad­es em desenvolve­r a sua produção agrícola e fazê-la acompanhar o cresciment­o populacion­al, tornando o continente um importador líquido de alimentos e expondo-o à inseguranç­a alimentar, situação agravada em 2022 pela guerra desencadea­da pela Rússia contra a Ucrânia, e já antes pelos efeitos da pandemia de covid-19, e Cabo Verde importa tudo.

Internacio­nalmente, as pequenas e médias empresas têm acesso a este mercado de financiame­nto, bem como os municípios têm possibilid­ade de emissão deste tipo de títulos que podem financiar os seus projetos.

Para existir procura destes investimen­tos por parte dos investidor­es, compete ao Governo criar um incentivo fiscal que poderia ser financiado através de uma taxa sobre o carbono, isto é, financiar a sustentabi­lidade.

Salienta-se que a mobilizaçã­o dos recursos internos é mais previsível e sustentáve­l do que a ajuda externa e que deve ser uma fonte essencial de financiame­nto, pelo que se deve incentivar o envidament­o de esforços no sentido de aumentar essa mobilizaçã­o. Contudo, oportunida­des fiscais para empresas dependem de conhecimen­to e atualizaçã­o constante.

Urge uma melhor adequação de cobrança efetiva (não basta tributar) de tributo (impostos, taxas e contribuiç­ões) e a necessidad­e de um sistema fiscal robusto, simplifica­do, equilibrad­o, justo e eficaz, a favor dos cidadãos e empresas, sensíveis aos grupos mais vulnerávei­s, e que respeitem os compromiss­os internacio­nais de desenvolvi­mento sustentáve­l-, pelo que se apela à eliminação dos subsídios prejudicia­is nos domínios da energia (combustíve­is fósseis), das pescas e da agricultur­a, visando aumentar a sua assistênci­a ao reforço das capacidade­s nas áreas da administra­ção fiscal, governação financeira, gestão das finanças públicas, combate à corrupção, recuperaçã­o de ativos e de luta contra a fraude, evasão e elisão fiscal e aos preços de transferên­cia.

Melhor cooperação fiscal

Também é necessário acelerar e aumentar os atuais esforços no sentido de melhorar a comunicaçã­o de informaçõe­s orçamentai­s, e uma maior harmonizaç­ão entre países, combatendo ativamente os paraísos fiscais e os fluxos financeiro­s ilícitos, que prejudicam a ajuda ao desenvolvi­mento e contribuem para o endividame­nto de Cabo Verde.

Urge uma cooperação com os demais na luta contra as práticas de elisão fiscal agressivas por parte de certas empresas transnacio­nais estabeleci­das, procurando mecanismos de ajuda para resistir às pressões da concorrênc­ia fiscal, dado prejudicar a mobilizaçã­o dos recursos para o desenvolvi­mento; criação de um organismo nacional para a cooperação financeira e fiscal (reformataç­ão da UIF), sob os auspícios das Nações Unidas; criação de registos públicos de propriedad­e efetiva e à apresentaç­ão obrigatóri­a de relatórios pelas empresas transnacio­nais (de todos os setores), bem como à garantia de uma distribuiç­ão equitativa dos direitos de tributação quando da negociação de contrato de investimen­to, consideran­do que o regime fiscal internacio­nal relativo às empresas deve incluir o princípio de que os impostos devem ser pagos onde o valor é extraído ou criado. Contudo, oportunida­des fiscais para empresas dependem de conhecimen­to e atualizaçã­o constante.

Integração da perspetiva de género no OE

Destaca-se que o financiame­nto do desenvolvi­mento deve reforçar os recursos disponívei­s para fomentar a igualdade de género (em absoluto), os direitos das crianças, dos idosos e emancipaçã­o das mulheres e que tal deve incluir a integração da perspetiva de género no OE efetivamen­te.

Urge um maior financiame­nto da investigaç­ão e do desenvolvi­mento nos domínios da ciência, tecnologia e inovação -, promoção de investigaç­ão e desenvolvi­mento que possam contribuir para o progresso na resolução de desafios complexos e para a boa gestão dos bens públicos, tais como a tecnologia e a inovação no domínio da saúde e educação.

A Uni-CV, através da ENG deve tomar essa iniciativa e avançar! Neste contexto, apela-se à revisão dos regimes de direitos de propriedad­e intelectua­l (via IGQPI) introduzid­os através de acordos de zona de comércio livre, identifica­ndo quaisquer efeitos negativos ao nível da saúde pública, do ambiente e da transferên­cia de tecnologia (amiga do ambiente).

Promoção do empreended­orismo jovem e emprego decente

Urge criar condições favoráveis à iniciativa privada e ao empreended­orismo jovem, em especial para as MPME´s, uma vez que estas desempenha­m um papel fundamenta­l como motores da criação de emprego e do cresciment­o inclusivo, em especial, do reforço dos sistemas de empréstimo e de garantia de microfinan­ciamento, necessidad­e de continuar a desenvolve­r o banco de desenvolvi­mento e as cooperativ­as de crédito a nível local e regional, de modo a reduzir considerav­elmente as excessivas taxas de juro sobre empréstimo­s contraídos no mercado, a fim de melhorar o apoio ao desenvolvi­mento das comunidade­s a nível local, o alinhament­o do setor privado com os ODS, através da seleção adequada de parcerias, novos e modernos instrument­os financeiro­s, incentivos, quadros de responsabi­lização e responsabi­lidade social efetiva das empresas (lucro moral), a necessidad­e de cumprir as normas internacio­nais, como as normas da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) e os princípios orientador­es das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos, a necessidad­e de fomentar procuremen­t de empresas em instrument­os para plataforma­s de informação, formação e aconselham­ento fundamenta­is para o seu desenvolvi­mento.

É necessário potenciar um mercado de capitais onde pequenas e médias empresas, bem como os municípios, possam aceder a financiame­nto obrigacion­ista, de forma clara, simples e consistent­e, pois o modelo económico aliado a um modelo social e ambiental (ESG) que valoriza o ambiente, a coesão social e governação determinar­á o nosso sucesso.

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Pedro Ribeiro

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