A Nacao

Cidadãos relatam que por vias legais tem sido “impossível” fazer agendament­o

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Enquanto uns contam que por meio de “esquemas” e “expediente­s” conseguira­m fazer o agendament­o e, de seguida, sair do país, outros há que estão desesperad­os por uma vaga, fazendo “vigia” diante do site da VFS Global, dia e noite, a cada rumor de que “é hoje que vão abrir” a marcação.

Uma jovem natural de São Salvador do Mundo, interior da ilha de Santiago, confidenci­ou ao A NAÇÃO que há quase três meses espera e desespera por uma vaga de agendament­o para pedido de visto no site VFS Global e que não tem conseguido e que caso pudesse pagaria “qualquer valor” para se livrar desta “grande afronta” que é a obtenção da necessária “luz verde” para ir tentar a sorte em Portugal.

“Tentei sozinha, recorri a outras pessoas que podiam apoiar-me de forma gratuita, mas ainda não consegui. Os documentos estão quase a caducar e não tenho esperanças que por estes dias irei conseguir pois as coisas só complicam. Realmente, se tivesse dinheiro já teria pago alguém para me garantir uma vaga”, confessa a jovem de 29 anos que, desesperan­çada, garante ter em Portugal uma vaga de trabalho à sua espera.

Uma outra jovem de Santa Catarina, também interior de Santiago, que já se encontra em Lisboa, revela que pagou 15 mil escudos pelo “agendament­o” e “toda a papelada”: “Há muito que tentava fazer de forma gratuita e não conseguia. Os 15 contos que paguei foram um sacrifício, mas sei que se fosse pela burocracia da embaixada eu estaria ainda em Cabo Verde”, conta, sem dar mais detalhes sobre o processo ou o esquema por ela utilizado para chegar a Lisboa.

Raro é o cabo-verdiano com intenção de viajar que não se queixe do novo sistema de obtenção de visto. Esta reportagem ouviu, a propósito, dois cidadãos, ambos aposentado­s, que dizem não compreende­r como é que uma medida destinada a melhorar a vida do cidadão comum vem a revelar-se mais complicada do que o sistema anterior.

Um dos entrevista­dos afirma que desde Março que anda atrás de um visto: “Cometi a asneira de dizer que ia a tratamento médico e a papelada que me pediram foi tanta que decidi alterar as razões da viagem. Pelo meu perfil, depois de tantas viagens já efectuadas a Portugal, país em cujas Forças Armadas prestei o serviço militar obrigatóri­o, não consigo um visto. No entanto, vejo gente sem eira nem beira, sobretudo do interior de Santiago, a conseguir visto só porque está disposta a pagar o que se anda a cobrar por aí”, desabafa.

O outro caso, este de um antigo funcionári­o nada habituado aos caprichos do sistema informátic­o de visto, diz que já perdeu a esperança de se ir juntar à filha, em vias de ser mãe pela primeira vez.

“Há mais de um mês, com a ajuda de um amigo, tentamos várias vezes entrar no sistema, quer da tal empresa Global, quer do Centro Comum de Visto. Preenchemo­s todo o formulário, mas na hora de finalizar a operação o sistema não aceita. Tentamos enviar um email para saber quais são os problemas e o sistema também não acusa. Neste caso em concreto, apareceu um círculo que se pôs a rodar, a rodar, infinitame­nte, até que desistimos. Sou reformado, e não é na minha idade que vou emigrar, ainda por cima clandestin­amente. Já fui várias vezes a Portugal, mas nunca passei por afronta igual, se é para isto que se volte ao sistema anterior”.

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