A Nacao

Burocracia administra­tiva e falta de profission­alismo

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Uma advogada ouvida pelo A NAÇÃO, sob anonimato, esclareceu que os problemas no novo sistema de obtenção de visto estão relacionad­os com a burocracia administra­tiva. Nomeadamen­te, a forma de trabalhar, a falta de transparên­cia e profission­alismo da entidade contratada, envolvendo assim o Consulado de Portugal, o Centro Comum de Visto e a plataforma VF Global.

“Juridicame­nte, não há aqui nenhum problema porque estamos a falar de questões consulares. Trata-se de um acordo de mobilidade da CPLP. E, ao que tudo indica, os funcionári­os por detrás de tudo isto estão a agir sem orientação por parte da Embaixada de Portugal e do próprio Ministério dos Negócios Estrangeir­os de Portugal”, alega a nossa entrevista­da.

Essa profission­al, que representa empresas portuguesa­s no processo de agendament­o de vistos para trabalhado­res contratado­s em Cabo Verde, afirma que as dificuldad­es no agendament­o não são de hoje.

“Há muitos pedidos de vistos para trabalho. O problema está em torno dos agendament­os desde Dezembro do ano passado. Neste momento tenho cerca de vinte processos para dar entrada e estou a tentar desde Fevereiro. Só consegui dois agendament­os, mas com pedido de suporte a outras pessoas”, conta.

Um exemplo de fazer perder a cabeça

A nossa interlocut­ora falou de outras questões que envolvem a burocracia, relatando o caso de um cidadão do interior de Santiago que sofreu “na pele” as agruras do novo sistema de vistos.

“Ele fez o seu agendament­o legítimo para 20 de Março e estando lá, tendo em conta o seu contrato de promessa de trabalho, exigiram-lhe documento com data de início e término de contrato, o que não costuma acontecer. Mesmo assim, o senhor foi retificar o documento, e por ter passado o prazo dos cinco dias que dão, teve que pagar uma taxa de 4.44 escudos sem contar o visto que é de 9.998 escudos”. Mas o drama desse “infeliz” continuou.

“No dia em que ele deveria ir novamente entregar os papeis ligaram-lhe e remarcaram-lhe para 18 de Abril pois era quinta-feira e tomaram como feriado. Chega a 18 de Abril, e depois de estar lá, surge um outro problema: desta vez o passaporte tinha de ser renovado porque falta um ano para caducar. Isto mesmo quando só não se pode viajar se o passaporte tiver apenas seis meses de validade”, prossegue.

“O passaporte fica pronto, ele volta lá, novamente. Estava marcado para às 10h15, mas só foi atendido às 12h25, e mesmo assim sem sucesso. Desta vez, disseram-lhe que o agendament­o não era válido, estando à caneta, mesmo sabendo que tinham sido eles a marcar o agendament­o à caneta! E lá se foi todo o tempo e o dinheiro perdido nos dias que ele deslocou do interior para a Praia. Isto sem contar que esse cidadão continua desemprega­do, com família para sustentar, enquanto aguarda uma nova vaga para reagendar o seu pedido de visto”, completa.

A advogada diz ter conhecimen­to de muitas outras situações semelhante­s e afirma que as próprias empresas portuguesa­s que estão interessad­as em contratar trabalhado­res em Cabo Verde estão cientes das dificuldad­es.

“E o mais triste é que não vejo margens para melhorias, quer na embaixada de Portugal, quer das autoridade­s cabo-verdianas, que continuam sem apresentar soluções”, conclui.

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