Ulisses sacrifica antigo Conselho de Administração
Em clara tentativa de calar e agradar a opinião pública, o Governo atirou, na prática, as culpas da morte de, pelo menos, sete recém-nascidos ao antigo Conselho de Administração do Hospital Baptista de Sousa (HBS), liderado pela médica Ana Brito, exonerando o conselho antes mesmo de se conhecer os resultados do inquérito revelado na segunda-feira.
Ana Brito, antiga directora do HBS, Paulo Almeida, ex-director clínico, e Laurinda Brito, ex-administradora, são os três membros exonerados das funções que ocupavam. Um facto que pode ser interpretado como uma forma de silenciar ou apaziguar a opinião pública, depois de tudo o que aconteceu no HBS, apesar de o inquérito ilibar os profissionais de saúde de eventuais culpas ou responsabilidades.
Os exonerados passaram a vilões da história aos olhos dos cabo-verdianos, tanto mais que estão insatisfeitos e profundamente magoados com a forma como o processo da sua exoneração decorreu. Não é por acaso que nenhum dos três esteve presente, nas sexta-feira passada, na posse do novo Conselho de Administração do hospital, agora encabeçado por Helena Rodrigues.
A NAÇÃO sabe, porém, que desde Março que o anterior CA sabia que, com o aproximar do fim do seu mandato, este não seria renovado. Naquele mês, numa altura em que as críticas pelos óbitos dos bebés se fazia sentir, a ministra Filomena Gonçalves esteve no Mindelo, recebeu em separado, um por um, os cinco elementos da direcção do HBS, e, depois disso, tornou-se ponto assente em São Vicente que uma nova administração seria nomeada.
Curiosamente, dos cinco elementos do anterior CA, apenas os três médicos, inclusive Anita Brito, não foram reconduzidos. Os outros dois elementos – a enfermeira Vera Monteiro e o gestor Aristides Ramos – transitaram para o novo Conselho. Helena Rodrigues, a nova PCA, já sabia da sua nomeação desde fins de Abril.
Economista, Helena Rodrigues vem do programa Cidades Sustentáveis, a cargo da Associação Nacional dos Municipios de Cabo Verde (ANMCV). A sua equipa é integrada pela médica Nair Lucas (directora clínica), Vera Monteiro (enfermeira superintendente), Aristides Ramos, administrador, e Paulo Freire, como quarto vogal não administrativo, empossados na sexta-feira, 2.
Pela primeira vez, a direcção de um hospital no país foi empossado pelo primeiro-ministro, dando com isso a ideia de um forte engajamento do Governo na resolução dos inúmeros e graves problemas do “Baptista de Sousa”, em termos de funcionamento, recursos humanos e financeiros.