Para que serve uma curadoria científica?
Para a professora de literatura Inocência Mata, curadora científica do FLM-Sal, o objectivo destes encontros é produzir um sentimento de que a literatura é um produto consumível por toda a gente e não um bem apenas para os privilegiados. A literatura como bem cultural que toda a gente pode consumir.
«Outro objectivo é proporcionar a convivialidade de todos os envolvidos, daí a preocupação da organização em levar os escritores às escolas, como o ano passado, em que foi uma experiência gratificante e ver essa coisa fascinante que contar histórias e ver a participação dos alunos, os olhos que brilham», diz aquela académica.
E para que serve uma curadoria cientificai? «Para ajudar na expansão do cânone, contribuir fora da academia para essa expansão, porque na academia existe essa ideia de um cânone muito prescritivo e porque embarcam no mesmo equívoco de Harold Bloom (autor do livro Cânone Ocidental), mesmo quando o criticam.»
É como se houvesse pré-requisitos para se ser escritor, para fazer literatura, adianta. «A ideia não é a da desconstrução, até porque não gosto muito dessa palavra, agora muito na moda, eu defendo antes uma expansão, abarcando todos os cânones; essa substância tem de ser mais eclética e mais democrática.»
Com a atribuição de prémios literários importantes – Nobel, Goncourt, Booker Internacional – a autores de outras paragens, como África, Inocência Mata chama atenção para esse olhar que «vai mais além daquilo que se considera cânone, no sentido mais conservador e reacionário do termo, que existe nos departamentos das universidades. Mas, felizmente, as coisas estão a mudar muito, nos últimos tempos.»