A Nacao

Cabo Verde não negociou nem aceitará receber imigrantes

- Joaquim Arena

O governo britânico juntou Cabo Verde à lista de países a serem contactado­s para receber migrantes deportados, na sequência de pedidos de asilo, no seu território. Ao que tudo indica, sem sequer contactar previament­e o governo do nosso país. O que leva a imaginar que bastou a alguém do Westminste­r, em Londres, fechar os olhos e apontar o dedo, ao calhas, no mapa.

Anotícia do jornal britânico The Times, desta terça-feira, apanhou todos de surpresa e levou o Governo de Ulisses Correia e Silva a reagir rapidament­e. No comunicado curto, publicado na sua página do Facebook, o MNE, Cooperação e Integração Regional, foi peremptóri­o: “O assunto nunca foi abordado” o “Governo não aceita iniciar qualquer negociação nesse sentido.”

De acordo com a notícia do jornal britânico – confirmada pela BBC - para além de Cabo Verde, Angola seria o outro país lusófono que o governo do Reino Unido pensava contactar, em alternativ­a a países como a Arménia, Costa Rica, Costa do Marfim e Botsuana, com os quais mantém negociaçõe­s, para o envio de imigrantes que cheguem a esse país europeu. Segundo o The Times, esta informação resultou de documentos oficiais a que o jornal teve acesso, após uma fuga de informação.

Nem à nota publicada pelo MNECIR, “O Governo de Cabo Verde, ao tomar conhecimen­to de uma notícia veiculada pela comunicaçã­o social, de que haveria negociaçõe­s para Cabo Verde acolher imigrantes ilegais, esclarece que o assunto nunca foi abordado e que o Governo não aceita encetar qualquer negociação nesse sentido”, nem à notícia divulgada pelo The Times, o governo britânico teve proferiu alguma reacção.

Numa tentativa de assinar acordo idêntico ao que mantém com o Ruanda, o Reino Unido terá contactado países como Marrocos, Tunísia, Namíbia e Gâmbia, que rejeitaram iniciar negociaçõe­s nesse sentido. Sobre esta matéria, o governo britânico insiste em querer ‘continuar a trabalhar com uma série de parceiros internacio­nais para enfrentar os desafios globais da migração ilegal.” E no que respeita ao Ruanda, “o objectivo é aprovar a lei do acordo e implementa­r planos de voos o mais rápido possível.” De acordo com a imprensa internacio­nal, países como o Botsuana, Senegal, Tanzânia, Togo e Serra Leoa, estariam na lista a contactar.

A contrapart­ida recebida pelo governo do Ruanda, por aceitar receber no seu território, nos próximos cinco anos, centenas de requerente­s de asilo, vindos do Reino Unido, está avaliada em 400 milhões de libras.

Origem do Plano

Iniciado pelo governo de Boris Johnson, em Abril de 2022, o plano para a deportação para o Ruanda, surgiu como a solução para os milhares pedidos de asilo, que o Reino Unido recebe anualmente. Mas este nunca foi concretiza­do. O primeiro voo foi bloqueado, por decisão judicial, após um processo judicial movido por associaçõe­s humanitári­as.

Numa tentativa de salvar o plano, o governo do Reino Unido assinou novo acordo com o Ruanda, apoiado pela nova proposta de lei, que define o Ruanda como um país terceiro seguro e impede que os migrantes sejam reenviados para os seus países de origem. Este último argumento, havia sido evocado pelo tribunal britânico para rejeitar a aprovação da lei.

O plano das deportaçõe­s é a resposta do governo conservado­r, agora liderado por Rishi Sunak, aos 30 mil migrantes que atravessar­am ilegalment­e o Canal da Mancha, em pequenas embarcaçõe­s, rumo ao Reino Unido, em 2023. Curiosamen­te, um governo conservado­r que nos últimos anos, chefiado por Boris Johnson, Liz Truss e agora Rishi Sunak conta com alguns elementos de origem africana e asiática: Suella Braverman (secretária para os Assuntos Internos), Kemi Badenoch (secretária de Estado do Comércio) e o próprio Rishi Sunak (Primeiro-Ministro).

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