A vingança do Rei George Tawlon Manneh Oppong Ousman Weah
Foi há 24 anos
Em Julho de 2000, George Weah aterrava no aeródromo de S. Pedro, em S. Vicente. Ele e outros tantos atletas liberianos, com destaque para Varmah Kpoto e Oliver Makor, então atletas do Proodeftikia (Grécia), Musa Shannon, do Marítimo (Portugal) e Louis Crayton, do FC Wangen (Suíça). Mas no Estádio Adério Sena, no Mindelo, os holofotes estavam focados, naturalmente, sobre a estrela maior dos Lone Stars, da Libéria, o até há bem pouco tempo Chefe de Estado da Libéria, George Tawlon Manneh Oppong Ousman Weah, à época ao serviço da Premier League, a Liga Inglesa de Futebol.
Para quem não se lembra, em 1995, George Weah tornara-se no primeiro futebolista não europeu a receber o prêmio de “Melhor Jogador do Mundo” pela FIFA e, concomitantemente, a France Football tinha-lhe atribuído a Bola de Ouro, sendo que ainda hoje ele é o único africano a receber ambos os prêmios. Até ao ano 2000, Weah estava, portanto, a viver o auge de sua carreira, ao serviço do AC Milan, considerado um dos clubes mais importantes do mundo devido às suas relevantes conquistas.
George Weah tinha, portanto, razões de sobra para pensar que, em S. Vicente, ser-lhe-ia estendido o tapete vermelho, de S. Pedro à Morada, nessa sua inédita passagem por estas inóspitas ilhas. Mas não foi isso que aconteceu. Sabendo da sua idade (34 anos) e depois de os Tubarões Azuis (TA) terem derrotado os Lones Stars (1-0), os mindelenses minimizaram-no, chegando ao ponto de o considerar “um velhote”, a começar pela Imprensa, através das penas do jornalista da Inforpress, Américo Antunes-Miku.
Ciente da passagem dos insulares à fase seguinte, Antunes-Miku colocou dúvidas quanto ao valor real da equipa liberiana, nos seguintes termos: “se a Libéria vale só aquilo que mostrou em S. Vicente, então é justo sonhar com a qualificação”.
E a onda de optimismo, com os olhos depreciativos sobre George Weah, prosseguiu, sendo que o então coordenador nacional da Selecção Nacional de Cabo Verde, Celestino Mascarenhas, já começava a ver Mali, palco da finalíssima, bem mais perto “…o nosso querer é efectivamente ganhar não só a selecção liberiana, em Mindelo… mas passar a eliminatória seguinte em Monróvia, no sentido de ganhar o passaporte para a finalíssima do Mali2002”.
Óscar Duarte, o então seleccionador nacional, foi bem mais cáustico, falando em “atleta em retrocesso”, ao se referir a George Weah, trazendo à tona um axioma desportivo universal: “o futebol é a única modalidade que, por vezes, ganha o mais fraco (Cabo Verde)”, ao que o seu adjunto Inácio Carvalho-Bala reforçaria: “o adversário é acessível e Cabo Verde pode e deve eliminá-lo perfeitamente”. Praticamente, todos ignoraram o aviso do avançado cabo-verdiano Tony, autor do único golo da partida no Mindelo, para quem, apesar de não estar na sua melhor fase, fazia sempre sentido ter o Bota de Ouro de olho, pois Weah era “sempre um perigo”.
Certamente que o melhor marcador europeu de 1995 viria a saber de tamanha desconsideração. Não terá faltado “um língua”, o tal “mnin d’Soncent”, para traduzir tudo para ele.
A vingança do Rei George
Estádio Nacional Samuel Doe, em Paynesville City, arredores de Monróvia. Os TA entraram em campo com os dentes afiados, embalados pelo resultado da primeira mão e entusiasmados pela possibilidade aberta de chegarem a Bamaco, palco da finalíssima.
Mas puro engano. Encontraram pela frente os Lones Stars com a faca nos dentes. Estes iniciaram o jogo a matar, moralizadas pela vitória que haviam alcançado, escassos dias antes, contra a poderosa selecção da Nigéria (2-1), em jogo a contar para as preliminares do Mundial/2002, no Japão.
Precisando apenas de um empate (com ou sem golos) ou, em situação de derrota, que nunca perdessem por uma diferença de golos superior a uma bola, os TA acabaram por sofrer uma goleada em Monróvia – 3-0. E foi exactamente o “velho” George Tawlon Manneh Oppong Ousman Weah quem liderou a operação. Ele não se tinha esquecido das provocações de Mindelo, revelando-se no carrasco de Cabo Verde nessa segunda mão. E marcou o primeiro golo logo aos 2’ da primeira parte (1-0).
A partir daí, os liberianos geriram a situação de igualdade, num processo de estudo ao adversário, e só voltaram a carregar sobre os TA já na segunda parte, para marcar o segundo golo aos 63’, por Alex Brown (2-0). Com Cabo Verde à procura do golo salvador, o tal que contaria por dois, eis que a Libéria deu o golpe fatal, aos 85’, agora por Robert Zizi, que disparou a contar para o fundo da baliza à guarda de Hélder Cruz (3-0).
Com a eliminatória resolvida em favor dos liberianos, houve ainda tempo para que o cabo-verdiano Humberto Rosário-Bobs falhasse o tento de honra, para lá do tempo regulamentar, ao desperdiçar uma grande penalidade, diante de um George Weah, de “dent cascôd”, conforme se diz em S. Vicente.
Na próxima edição: “UFOA2000: Tubarões Azuis saem em primeiro lugar do grupo, mas… quase 25 anos depois, ainda aguardam o adversário da final de Abidjan”. Escreva-me para santaclaraj2m@gmail.com
*Pseudónimo de José Mário Correia
Os TA acabaram por sofrer uma goleada em Monróvia – 3-0. E foi exactamente o “velho” George Tawlon Manneh Oppong Ousman Weah, que não se tinha esquecido das provocações de Mindelo. Ele revelou-se no carrasco de Cabo Verde nessa segunda mão, marcando o primeiro golo logo aos 2’ da primeira parte.