A Nacao

Carlos Araújo: “batata podre”

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Quando entrou para o serviço militar, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, Carlos Araújo, natural de São Vicente, estudava o 3º ano do Curso de Engenharia do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Conta, como na época já fazia parte de uma das células do PAIGC, pensou no que é que poderia fazer, para ajudar na luta pela independên­cia. “Entrei, então, para o exército, mas com o papel de me tornar uma ‘batata podre’, isto é, tentar ‘estragar o resto’, não sei se está a perceber…”

Araújo recorda o Capitão Salgueiro Maia - que viria a ser o rosto mais emblemátic­o do 25 de Abril -, como “um homem com quem era fácil simpatizar, apesar da dureza, autoridade e retidão profission­al e moral. Um homem com quem nos sentíamos seguros, daí acreditar que sua escolha levou em conta estas qualidades.”

“Pelas 22, 23 horas do dia 24 de Abril, o alferes chegou à caserna do meu pelotão, e a frase dele foi esta: ‘Levantem-se que hoje vamos tomar a independên­cia da pátria do filho da puta do cabo-verdiano…’, que era eu, claro”, recorda Araújo. “Uma frase bruta, como muitas dos militares, o alferes na sua ordem militar, mas para dizer que íamos libertar a minha pátria.” De seguida, seguem todos para a parada. “E pela primeira vez, ouvimos a outra frase, ‘Vamos pôr fim à merda da guerra!, e ficamos a saber o que está em jogo.”

Carlos faz parte dos soldados que seguem nos camiões para Lisboa, entrando pela Praça do Comércio. “Dividimo-nos em grupos de cinco homens e seguimos pela Rua Augusta, para o Rossio, e pelo caminho uma senhora de idade deu-me um cravo, um beijo na testa e disse-me ‘Eu não podia morrer sem saber que este dia tinha chegado…’ Depois, lembro-me de termos entrado num camião e do outro lado da rua, no passeio, vi a Ana Salomão (mãe do basquetebo­lista Rodrigo Mascarenha­s), deviam ser umas 10 horas e já havia muita gente por ali. Dali, fomos para o Largo do Carmo, também lotado de pessoas, onde o Capitão Maia tentava comunicar com quem estava dentro do quartel da GNR e obrigar Marcelo Caetano a entregar-se. Nessa noite fui dormir num quartel, em Queluz.”

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