Raul ‘Raus’ Estrela: “Eu não sabia nada do golpe”
Natural do Sal, furriel miliciano na altura, tinha assentado praça um ano antes, em Tavira, no Algarve. Ainda hoje guarda uma fotografia das farras que aconteciam à noite, depois do jantar. Numa delas, pode mesmo ver-se um grupo de dez recrutas cabo-verdianos, em volta de Armindo Maurício, advogado e mais tarde dirigente do PAICV, já falecido, que toca violão e anima o grupo, na caserna.
Depois da especialidade, como amanuense, tirada em Leiria, ‘Raus’ foi destacado para a Avenida de Berna, em Lisboa, no DRM1.
“Para ser sincero, eu não sabia nada do golpe de Estado. Normalmente eu não dormia lá, porque os meus colegas passavam a noite a jogar a dinheiro, a fumar, a fazer barulho, e eu ia dormir lá no Lar D. Diniz, de estudantes universitários, com o Basílio Ramos, o Scapa e o Zin Lobo, malta do Sal.”
Assim, quando se dão estes acontecimentos, ‘Raus’ Estrela está em casa de uma família do Sal, em Moscavide. “Estive lá durante uma semana, fugido, claro. E de lá, então, é que eu fui seguindo e sabendo o que se passava. Depois é que fui para o quartel. Nos dias seguintes, eu e os meus colegas íamos comer aos restaurantes e muitas vezes os donos nem nos cobravam nada e ainda nos metiam cravos no bolso.”
Meses depois, ‘Raus’ aproveita umas férias, já marcadas para o Sal, entra num Douglas DC 6, para nunca mais voltar a Lisboa e ao quartel. “A minha mala estava lá numa casa, em Campo de Ourique, a casa de uma senhora da Boa Vista, na altura mãe da esposa do Miquinha (Amílcar Spencer Lopes).”