A Nacao

Manuel Correia: “Dos últimos a deixar a Guiné”

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O fuzileiro especial, natural do Fogo, Manuel Correia estava mobilizado para a Guiné, quando se deu o 25 de Abril. Dos nossos testemunho­s, é aquele com verdadeira experiênci­a de guerra. “Já tinha vindo de Angola, e a minha vida, naquele período entre 1970 e 1974, foi de andar de um lado para o outro e a maior parte do tempo, embarcado, sempre ligado à Marinha.”

Correia ficaria na Marinha portuguesa até 1976. Nessa altura, fuzileiro radioteleg­rafista, tinha chegado de Mafra, onde vivia, e que estava já mobilizado para a Guiné. E no dia 25 de Abril, encontrava-se na margem sul, na base da Força de Fuzileiros do Continente.

“Nessa manhã, junto com uns quatro camaradas, viemos para Lisboa e já foi difícil entrar na cidade. E por incrível que pareça, o ambiente não era de medo, como poderia pensar-se pela quantidade de soldados armados e de tanques pelas ruas. Era uma festa por todo o lado, militares aplaudidos pelas pessoas, entre a Praça do Comércio e o Largo do Carmo. Andámos o dia inteiro a passear pela cidade e só saímos de Lisboa no dia seguinte, porque já não tínhamos como regressar à base naval. Nessa noite, dormi na Casa do Militar da Armada, na Rua do Arsenal.”

No dia 29, Manuel Correia, que anos mais tarde será sindicalis­ta e o primeiro deputado cabo-verdiano a sentar-se na Assembleia da República, na bancada do PCP (em substituiç­ão de Carlos Carvalhas), embarca para a Guiné num avião da Força Aérea.

Chega à cidade de Cacheu e depois a Bissau. Mas o ambiente que encontra é de confusão, a informação “muito má”, como recorda. “Como eu era das comunicaçõ­es, ia mantendo alguma informação actualizad­a, mas não tinha autorizaçã­o para divulgar essa comunicaçã­o.”

Estas, revela, falavam das ‘novas condições que estavam estabeleci­das no país’. “Depois, havia outro tipo de comunicaçõ­es, que informava como as pessoas estavam eufóricas e contentes pela situação, MFA – Povo, Povo – MFA”.

Manuel Correia só sairá da Guiné em Dezembro de 1974, após o reconhecim­ento da sua independên­cia e depois de dar formação a quadros do PAIGC, nas comunicaçõ­es. “Devo ter sido o último ou dos últimos militares portuguese­s a abandonar a Guiné. Passei o Natal no mar e o Ano Novo de 1975, em Lisboa.”

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